Gideão Dias, o sambista que apostou em Campo Grande para lançar o 1º CD

O samba se instalou na vida dele de forma tão natural que o batuque, na infância, virou brincadeira entre os amigos do bairro da Pedreira, zona sul de São Paulo, cidade onde nasceu. A molecada, como não se contentava em ouvir o som que exalava boemia, logo tratou de imitar "os grandes". Gideão Correa Dias, hoje com 30 anos, era um desses meninos.
Aprendeu logo cedo, com os adultos, nos botecos e becos da vila, que qualquer motivo é motivo para virar samba, basta ter criatividade. Na capital paulista, o contato com o estilo musical durou até os 10 anos, época em que se mudou com a família para Campo Grande, em decorrência da morte do pai que foi assassinado no bairro onde morava.
Mas as dificuldades ficaram no passado e a dor foi convertida em alegria para continuar tocando a vida, literalmente. A paixão pelo samba só aumentou com o passar do tempo.
Aos 15 anos, Gideão já cantava na noite campo-grandense. Na Capital Morena, integrou grupos de samba que formou com os amigos da época em que se "engraçou com futebol", mas há 7 anos resolveu deixar a rapaziada para seguir carreira solo.
Música autoral - Hoje, o sambista escreve as próprias canções. Além de músico, é compositor e intérprete. Transcrever o pensamento sempre foi um desejo, mas o enredo, o texto, demorou para "sair da cabeça". "Essa etapa foi uma realização na minha vida", disse, ao contar que já compôs cerca de 100 canções.
A primeira delas foi uma homenagem ao nascimento do primeiro filho, Yuri , que está com 6 anos. A última chama-se "Nosso Norte" e foi escrita há menos de 1 mês. "Fala da fé, da persistência, que dias melhores virão", destacou.
A inspiração do músico vem do cotidiano, do social, do político. Tudo é retratado com um toque de humor, garante o sambista.
"A gente costuma dizer no samba que é o Partido Alto. Tem o Partido Alto Alegre, o Partido Alto Crítico, mas com o enredo 'povo', cacoetes, gírias do dia-a-dia", explicou.
"Meu negócio vem muito da comunidade, do povo, da labuta, do brasileiro trabalhador, da fé de amanhã você conseguir conquistar seu apogeu, sua conquista", acrescentou. A apologia, revela, é escancarada a Deus. Gideão Dias é de uma família de crentes da Igreja Assembleia de Deus.
Como a maioria dos cantores, ele também tem seus ídolos. As influências musicais do sambista passam por nomes como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Almir Guineto e Dona Ivone.
Há 17 anos em Mato Grosso do Sul, Gideão diz acreditar em uma mudança de comportamento na Capital conhecida pelos seus ícones sertanejos. É por isso que resolveu investir por essas bandas. De uma década para cá, afirmou, o samba passou a conquistar seu espaço.
"Não está bom, mas Campo Grande é uma cidade nova, uma jovem diante das grandes Capitais. Vai melhorar", disse. "Aceitei, adotei e quero trabalhar e sustentar o meu pão através do samba e da música", completou.
Primeiro CD - Produzido com recursos do FIC (Fundo de Investimento Cultural), do governo de Mato Grosso do Sul, Gideão Dias vai lançar seu primeiro CD solo - intitulado "Safra Boa" - no próximo mês.
O show será realizado na noite do dia 17 de novembro, no Armazém Cultural de Campo Grande, onde o músico concedeu entrevista ao Lado B. O horário ainda não foi definido.
"Safra Boa", música que está no CD, fala da "nova rapaziada do samba" que vem surgindo por aí. No total, são 10 faixas autorais e 1 clipe independente que também será exibido no dia.
Entre as participações na gravação das canções estão os sambistas Fred Camacho e Luiz Ayrão.
Aos leitores do Lado B, Gideão deu uma palinha da música Safra Boa. Mas se você quer ver o músico tocar e cantar antes do show de lançamento é só ir ao Tábua Choperia, localizado na rua Antonio Maria Coelho, 2699, em Campo Grande. Ele se apresenta no local todos os sábados.