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Comportamento

"Mãe do telemarketing", Sirley gosta de contar que foi a 1ª telefonista de MS

Aos 81 anos, a professora aposentada lembra que os xingamentos de clientes já rolavam soltos

Danielle Valentim | 11/06/2019 08:30
Sirlley guarda uma cópia do jornal Rondon sobre a cobertura da despedida do 624 e a chegada do prefixo 724. (Foto: Paulo Francis)
Sirlley guarda uma cópia do jornal Rondon sobre a cobertura da despedida do 624 e a chegada do prefixo 724. (Foto: Paulo Francis)

No dia 15 de agosto de 1957, a Companhia Telefônica Oeste do Brasil, a TeleOeste iniciava os trabalhos da primeira central telefônica de Campo Grande. A cidade ainda fazia parte do então Estado de Mato Grosso [dividido em 11 de outubro de 1977] e Sirley de Souza, de 81 anos, estava lá, como a primeira telefonista.

Estamos no mês das telefonistas e o Lado B se deparou com a história da mulher que comandou as mesas da primeira central telefônica do Estado.

Aos 18 anos, Sirlley fora convidada pela telefonista Eva de Melo, que após ensinar todos os comandos da mesa de posição foi embora para São Paulo. A jovem entrou na TeleOeste 25 dias antes da inauguração.

Sirlley aos 18 anos. (Foto: Acervo Museu Marechal Rondon)
Sirlley aos 18 anos. (Foto: Acervo Museu Marechal Rondon)

É com muito orgulho, que a senhorinha moradora do Bairro Maria Aparecida Pedrossian há quase 35 anos relata a passagem pela firma administrada, pelo então empresário e político Humberto Neder, que morreu em Campo Grande, em 2011, aos 91 anos.

A empresa trouxe conectividade a Campo Grande, cresceu e chegou a empregar cerca de 1,5 mil pessoas. A TeleOeste virou Telemat, Telems e depois Brasil Telecom, que em 2008 foi comprada pela Oi.

Ao Lado B, Sirley contou que o sistema de treinamento era o mesmo existente até hoje. Ela treinou uma amiga e essa amiga a ajudou a preparar outras mulheres. Naquela época, homens não eram admitidos no serviço de telefonista. “Nós tínhamos um treinamento que separava as atendentes em TE (Telefonista Encarregada) e TC (Telefonista Chefe). Na época começamos a treinar mais de 20”, lembra Sirley.

Maria Auxiliadora à esquerda e Sirlley à direita. Ambas em pé. (Foto: Arquivo Pessoal)
Maria Auxiliadora à esquerda e Sirlley à direita. Ambas em pé. (Foto: Arquivo Pessoal)
Maria Auxiliadora e Sirlley atualmente. (Foto: Arquivo Pessoal)
Maria Auxiliadora e Sirlley atualmente. (Foto: Arquivo Pessoal)

Sirlley permaneceu na empresa por mais 12 anos e saiu como chefe geral. Da época, Sirley mantém amizade com Maria Auxiliadora que ficou na empresa até se aposentar e até compareceu ao seu aniversário no último domingo, 9 de junho. “Meu ex-marido me tirou de lá para trabalhar com ele em um escritório de vendas. Assim que me casei. Fui sócia do escritório de vendas dele”, conta.

A telefonista se casou aos 30 e foi abandonada com três filhos aos 47 anos. Com o dinheiro da sociedade com o marido comprou a casa que mora até hoje.

“Comecei a trabalhar na prefeitura depois fiz faculdade de pedagogia e quando terminei prestei o concurso e passei. Termine de criar os filhos lecionando um período por mais de dez anos na rede municipal de ensino e me aposentei após perder uma visão. Tive deslocamento de retina e perdi uma das vistas. Foi uma luta, mas eu venci. Minha jornada foi bem cansativa, mas me considero vencedora e acho que, por isso, sou feliz”, conta.

"Termine de criar os filhos lecionando um período por mais de dez anos na rede municipal de ensino e me aposentei após perder uma visão", conta. (Foto: Arquivo Jornal Rondon)
"Termine de criar os filhos lecionando um período por mais de dez anos na rede municipal de ensino e me aposentei após perder uma visão", conta. (Foto: Arquivo Jornal Rondon)

Perrengues – Pelo menos até os anos de 1960, antes da automação da telefonia as ligações dependiam de uma telefonista. Antes de toda nossa praticidade, era só pegar uma ficha inserir no aparelho e dizer "quero falar com dona Maria ou seu João".

Com muita paciência e “sorriso na voz”, as telefonistas sentadas em frente a uma mesa de posição chamada “magneto” colocava a pega [espécie de chapa] na máquina e completavam a ligação.

Era em muitos desses pedidos que os xingamentos rolavam soltos. “Nossa a gente sofria demais. Era muito estressante. Os assinantes batiam o telefone na cara das gente. Só tínhamos quatro mesas de posição. Então a gente colocava a pega (espécie de chapa) na máquina, mas às vezes estava congestionado. Às vezes a gente tirava a pega da máquina e já tinha uns dez esperando. Eles falavam que a gente tava dormindo, batia o telefone, xingavam nomes feios. Acho que era bem pior que agora”, explica Sirley.

Humberto Neder, presidente e fundador da TeleOeste(Foto: Arquivo Rondon)
Humberto Neder, presidente e fundador da TeleOeste(Foto: Arquivo Rondon)

Alguns anos depois as chamadas interurbanas foram liberadas e o “Auxílio a Lista” foi inaugurado. “Inauguramos o serviço telefônico, o 102, era tudo na base da lista telefônica. Eu sabia quase todos os números. Quando alguém perguntava algum número, até seu Humberto falava: pergunta para a Sirlley. Quando saí senti muita saudade. Eu era mocinha, cresci lá dentro”, lembra.

A tecnologia avançou, os telefones de discagem direta ou automática chegaram as casas e o trabalho das telefonistas se concentrou no 102. Sirlley guarda uma cópia do jornal Rondon de 1994, que cobriu a despedida do prefixo 624 e a chegada do prefixo 724. A empresa já era a Telems.

“Foram bons tempos. Minha tristeza é que eles prometeram divulgar e trazer as fotos da desativação, mas até hoje ninguém veio me trazer”, finalizou Sirley.

Sirley ao centro e o prefeito Juvencio à direita.
Sirley ao centro e o prefeito Juvencio à direita.
Humberto Neder e telefonistas pioneiras.
Humberto Neder e telefonistas pioneiras.
Equipe que desativou o 624.
Equipe que desativou o 624.
Humberto ao centro e o prefeito Juvencio à direta.
Humberto ao centro e o prefeito Juvencio à direta.

Fixo em queda - O serviço de telefonia fixa deixou de ser prestado em 33.390 domicílios de Mato Grosso do Sul no período de 12 meses. De acordo com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), o Estado encerrou abril com 433.936 contratos ativos, queda de 7,14% em um ano.

Na comparação mensal, o serviço perdeu 3.224 contratos no Estado, que representam 0,73% do total.

A queda em Mato Grosso do Sul acompanha a tendência nacional. Conforme a Anatel, o serviço deixou de ser prestado em 2,69 milhões de domicílios nos últimos 12 mês, redução de 6,88%. Em abril o serviço possuía 36,35 milhões de assinantes.

Em abril deste ano, a Vivo registrou 12,29 milhões de casas atendidas com linhas fixas (33,80% do mercado). A Oi teve 11,36 milhões (31,24%), enquanto a Claro fechou com 10,12 milhões (27,84%). As PPPs (Prestadores de Pequeno Porte) registraram aumento de 16,93 mil domicílios.

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