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Comportamento

Adeus a Jonir Figueiredo: artista que ajudou moldar a identidade cultural de MS

Em cada pessoa que se despediu, havia um traço da história que Jonir ajudou a desenhar desde os anos 70

Por Clayton Neves e Mylena Fraiha | 27/07/2025 16:06
Adeus a Jonir Figueiredo: artista que ajudou moldar a identidade cultural de MS
Homenagem da artista plástica Erica Pedraza ao amigo Jonir. (Foto: Juliano Almeida)

Este domingo (27) foi de despedida e emoção no Centro Cultural José Octávio Guizzo, em Campo Grande. Desde às 10h, amigos, artistas, familiares e admiradores se reuniram para se despedir de Jonir Figueiredo, artista plástico corumbaense que se tornou símbolo da arte e cultura sul-mato-grossense.

RESUMO

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Campo Grande se despediu do artista plástico Jonir Figueiredo, falecido aos 73 anos em Bonito. Amigos, familiares e admiradores compareceram ao velório no Centro Cultural José Octávio Guizzo, neste domingo (27), para homenagear o ícone da arte sul-mato-grossense. Jonir, desenhista, pintor, gravador e agitador cultural, deixou um legado de décadas dedicadas à arte e à cultura do estado. A despedida foi marcada pela emoção e por relatos que destacaram a generosidade, a autenticidade e o compromisso social de Jonir. Sua obra, que denunciava a caça predatória e valorizava a natureza pantaneira, foi fundamental para a construção da identidade cultural de Mato Grosso do Sul. O artista, que fundou o Movimento Cultural Guaicuru nos anos 1970, também era lembrado pelo apoio a novos talentos e pela incansável luta pela cultura regional.

Aos 73 anos, Jonir morreu na madrugada de sábado (26), em Bonito, onde participava do Festival de cinema Bonito Cinesur.

O velório atraiu quem cresceu, aprendeu e resistiu com ele. Em cada pessoa, havia um traço da história cultural que Jonir ajudou a desenhar, desde os anos 1970.

Apesar da dor da perda, a despedida foi uma celebração da vida e da obra de um homem múltiplo, que foi desenhista, pintor, gravador, performer e agitador cultural incansável. Jonir não apenas produzia arte, mas fazia dela um meio de transformação coletiva.

“Ele é um artista que nunca saiu fora do quintal, como diz o Nietzsche. Sempre pintou o MS, sempre divulgou o MS e é referência no Estado”, resumiu a artista Patrícia Helney, amiga de décadas. Para ela, dor da perda ainda era latente. “É muito dolorido despedir. Ele era companheiro, amigo. Mesmo sem dinheiro, ele fazia acontecer, agregava, pensava no coletivo”, detalha.

Adeus a Jonir Figueiredo: artista que ajudou moldar a identidade cultural de MS
Amigos. familiares e admiradores se despediram do artista. (Foto: Juliano Almeida)

Essa generosidade, que marcava sua atuação artística e humana, foi lembrada por muitos dos presentes. Ana Ruas, artista que conheceu Jonir nos anos 90, lembrou do apoio que recebeu.

“Ele nunca teve preconceito com artista que vinha de fora. Sempre acolheu. E mais do que produzir, ele colocava os outros em evidência. Inventava prêmios, organizava homenagens, fazia cursos mesmo sem verba. Era um ser humano ímpar”, relata.

A autenticidade e a preocupação com as causas sociais e ambientais eram traços fortes do trabalho de Jonir, como lembrou o designer gráfico Celso Arakaki. “Ele ficou muito conhecido com os desenhos em pastel e colagem, que denunciavam a caça predatória dos jacarés. Era um trabalho forte, de denúncia, e ele contribuiu muito pra isso”, avalia.

Adeus a Jonir Figueiredo: artista que ajudou moldar a identidade cultural de MS
Velório foi marcado por homenagens e comoção. (Foto: Juliano Almeida)

Essa ligação com a natureza também marcou a memória do jornalista Geraldo Duarte Ferreira, amigo desde os anos 80. “As pinturas dele se inspiravam na natureza. Ele vivia a vida intensamente, como se cada dia fosse o último, e deixava isso claro na arte, principalmente na forma como denunciava o maltrato ao meio ambiente”, afirma.

O trabalho de Jonir foi central na formação do que hoje se entende como identidade cultural sul-mato-grossense. Ao lado de outros artistas, fundou o Movimento Cultural Guaicuru, nos anos 1970, que buscava traduzir pela arte o nascimento e as contradições do novo Estado.

“Ele pintava o Pantanal, os bichos, os mapas. Era uma arte essencial para a nossa cultura”, afirmou Jorge de Barros, artista plástico e do teatro. “Além disso, era um grande amigo. A gente tomava cerveja junto, ia às festas. Era parceiro, companheiro. Um conselheiro e crítico que ensinava muito.”

Para Fernanda Figueiredo, sobrinha de Jonir, a dor da perda é dupla. De um ícone e de um amigo íntimo. “Ele não era só meu tio, era meu melhor amigo. Sempre alegre, fazia de um limão uma limonada. Me ensinou que a vida simples é suficiente, que a gente não precisa de muito pra ser feliz”, detalha.

Adeus a Jonir Figueiredo: artista que ajudou moldar a identidade cultural de MS
Ana Ruas lembrou do perfil acolhedor de Jonir. (Foto: Juliano Almeida)

Jonir também deixou marcas profundas na formação de novos artistas. “Ele começava sendo professor. Tinha uma ligação muito forte com crianças e com a descoberta de talentos. Às vezes deixava o artista dele de lado pra colocar outro em destaque”, contou Fernanda.

Para a professora e artista Lúcia Mont Serrat, Jonir era  símbolo de resistência. “Sempre lutou pela cultura do Estado. Envolvia as pessoas, buscava sempre algo melhor. Ele estava à frente de seu tempo”, considerou.

Mesmo após sua morte, o legado de Jonir Figueiredo continua vivo. Recentemente, ele havia lançado o livro “Jonir: uma trajetória de vida construída com arte”, que reúne obras de diferentes fases de sua carreira.

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