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Comportamento

Alegria, calma e amor são segredos que fizeram seu Paulo chegar aos 99 anos

Paula Maciulevicius | 26/01/2017 07:55
Seu Paulo, seus 99 anos e o companheiro inseparável, o mate. (Foto: André Bittar)
Seu Paulo, seus 99 anos e o companheiro inseparável, o mate. (Foto: André Bittar)

Seu Paulo nunca acreditou que fosse chegar aos 99 enquanto "menino" de 70 anos está "pifando" por aí. Pelo menos é este o argumento que ele busca para explicar como é completar tudo isso de vida. Como se a gente não soubesse a precisão e a importância da data, o aniversariante responde que nasceu dia 25 de janeiro de 1918, em Amambai, cidade mais que descrita como terra natal, é elogiada. 

Dos 11 irmãos, ele diz ser o "lá de trás", mas hoje em dia só tem ele e duas mulheres para contar história, uma de 89 e outra de 87 anos. Morador de Campo Grande desde 1946, Paulo Espinosa Filho é aposentado do Ministério da Defesa, cheio das narrativas, grato por mais um ano de vida e tomador de chimarrão. Só tem uma coisa que não chega a lhe trazer tristeza, mas dá saudade: dona Dólia se foi em 2005, depois de 62 anos junto dele. 

"Ela era nova, 72 anos. Fiquei viúvo", conta. Quando a senhorinha percebeu que era despedida, pediu às três filhas do casal que cuidassem dele. "Ela viu que ia morrer e falou: 'cuidem bem do Paulo, hein?!' E elas obedeceram certinho. "Sim, estou morando aqui com a Eva", responde. 

Para quem está chegando na velhice, o aposentado diz que essa picada não é para qualquer um, depende de Deus viver 100 anos. (Foto: André Bittar)
Para quem está chegando na velhice, o aposentado diz que essa picada não é para qualquer um, depende de Deus viver 100 anos. (Foto: André Bittar)
Senhorzinho com uma das netas, Ana. (Foto: André Bittar)
Senhorzinho com uma das netas, Ana. (Foto: André Bittar)

Acordado desde 6h da manhã, o aniversariante do dia já tinha tomado mate e agradecido às mensagens que vieram de longe. Conhecido como o "tio bonitão da fronteira", seu Paulo ri ao dizer que graças a Deus está vivo. "Também agradeço aos que me rodeiam e me estimam e me dão parabéns", completa.

Dia desses, ele foi questionado por uma senhora o que fez para alcançar 99 anos. "Eu falei: alegria, calma, amor à família e aos conhecidos". Como faz para ter calma? Ah, minha filha não sei como vou falar isso para você, porque cada um tem o dom para ter calma. Eu sou calmo, graças a Deus". 

Se para ele calma é um dom, a alegria, vem de onde? "Aí que está... Como que eu vou falar para você... A alegria vem conforme as pessoas, parentes conversam comigo, com o que a gente aprecia ou não. Aí vem a alegria e outras horas vem a tristeza também, mas eu não me queixo. Todo dia estou alegre", explica como se fosse um exercício.

Viver 99 anos mostrou que envelhecer não foi difícil e ele só percebeu que aconteceu já nesta década. "Quando inteirei 90, a minha filha falou 'vamos fazer uma festa que você vai completar 90 anos. Mas como? A Dólia faleceu outro dia e eu vou pensar em festa? Ela respondeu que não, era uma festa de comemoração à data que eu ia completar. Então a cada ano arrumava uma festa", narra. 

Para os 99 anos a serem comemorados no domingo, pelo menos 30 pessoas chegam num só ônibus da fronteira, fora a família e convidados daqui. 

Tio bonitão da fronteira, como é conhecido, seu Paulo viveu tudo isso porque gosta é de viver e de dançar. (Foto: André Bittar)
Tio bonitão da fronteira, como é conhecido, seu Paulo viveu tudo isso porque gosta é de viver e de dançar. (Foto: André Bittar)

A lucidez acompanha seu Paulo na idade e só tem uma coisa que ele se queixa "porque a cabeça não ajuda mais", é na hora de contar e falar o nome dos netos e bisnetos. De descendentes são 13 no total. 

Para quem está chegando na velhice, o aposentado avisa: "só posso dar os parabéns e falar que essa picada não é para qualquer um, depende de Deus viver 100 anos. Ele me permitiu essa oportunidade e eu o agradeço tanto", comemora.

Considerado "escolhido" para viver, seu Paulo busca nas memórias da infância a justificativa. "Mamãe rezava três vezes por dia e abençoava todo os filhos. Foi essa benção da mamãe que peguei, porque nenhum dos meus irmãos e irmãs chegaram". 

As maiores alegrias de seu Paulo: as filhas Marta e Maria Eva. (Foto: André Bittar)
As maiores alegrias de seu Paulo: as filhas Marta e Maria Eva. (Foto: André Bittar)

As velinhas do próximo domingo vão trazer o "99", mas por dentro o senhorzinho se sente com 68, no máximo 70. Fisicamente, só uma bengala é necessária como apoio na hora de caminhar. O corpo que já apresenta fraquezas lhe tirou o prazer de dançar, mas talvez na festa ele ainda tente. 

Sobre a morte, não há de se ter medo. "Peço a Deus para me dar calma, porque isso é uma coisa do mundo que ninguém vai fugir. Só peço que Deus permita uma vida com lembranças dos que já foram e que eu fique à vontade junto dos meus familiares". 

O que o faz feliz hoje é lembrar o passado e viver o presente. Da benção da finada mamãe às queridas filhas que tanto lhe tratam bem. "Por que eu vou me queixar? Por que eu vou ficar triste? Fiquei quando minha esposa morreu, porque isso é um direito da gente", responde. "Mas a morte não me assusta, ela vem a hora que Deus mandar e a gente estiver pronto. Se eu me sinto pronto? Já. E o que a gente vai fazer? Tem que aceitar, desistir não pode", se conforma.

Os 99 mal chegaram e os 100 já batem à porta trazendo uma dúvida? "Será que eu vou aguentar 100 anos ainda? Eu completei 99 e que Deus me permita mais alguns anos de vida porque eu gosto é de viver", ensina.

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