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Comportamento

Amigos prestam homenagem e se despedem de cantineira do fórum após de 32 anos

Thailla Torres | 12/02/2017 07:05
O último dia foi de abraços e despedidas à cantineira mais conhecida do Judiciário. (Foto: Marcos Erminio)
O último dia foi de abraços e despedidas à cantineira mais conhecida do Judiciário. (Foto: Marcos Erminio)

Um recado emocionante foi deixado na porta da cantina do Fórum Heitor Medeiros, em Campo Grande. A mensagem delicada, era de agradecimento e despedida, com as palavras de Marilda Ocampo Righe, 55 anos, a cantineira mais antiga e conhecida do Poder Judiciário.

Na última sexta-feira, ela disse adeus à cantina, depois 32 anos trabalhando no local. A notícia da mudança de responsável pelo serviço, depois de recente licitação, pegou todos de surpresa e ninguém segurou a emoção.

Por isso, os últimos minutos foram de homenagens. Funcionários e amigos passaram para lhe dar um abraço apertado. Entre as palavras, o desejo de sucesso e a tristeza, em perder a cantineira que, além de alimentar todo mundo, mudou a vida de tanta gente apenas oferecendo um pouco de atenção.

Marilda lembra do passado e da importancia das pessoas que passaram pelo lugar. (Foto: Marcos Ermínio)
Marilda lembra do passado e da importancia das pessoas que passaram pelo lugar. (Foto: Marcos Ermínio)

Durante três décadas, Marilda coleciona histórias de superação e amizade. Foi na cantina que ela também mudou a história da família.

Marilda chegou ali em 1985, ao lado do marido. Foram as receitas que aprendeu em família, o pontapé para começar a realizar os sonhos. “Na época, meu marido ficou desempregado e eu tive a ideia de fazer os salgados. No início, começamos a vender em todo Parque dos Poderes, mas com o tempo surgiu a oportunidade de trabalhar aqui e nós construímos tudo”, lembra.

Mãe de duas mulheres e avó de sete, Marilda conta que graças a profissão conseguiu um futuro melhor para as filhas. “Passamos a maior parte do tempo aqui. Criei minhas filhas na cantina. Ainda lembro delas fazendo tarefa, as pessoas que passavam por aqui sempre ajudavam nos deveres”, recorda.

A cantina era um lugar muito além da comida quentinha, os funcionários buscavam uma conversa boa e o carinho que nunca faltava. Marilda perdeu as contas de quantos sonhos acompanhou por ali, entre idas e vindas, todo voltavam, nem que fosse para um minuto de risada e lembrança dos bons momentos.

Quem foi se despedir, não conteve as lágrimas. (Foto: Marcos Ermínio)
Quem foi se despedir, não conteve as lágrimas. (Foto: Marcos Ermínio)
Minutos antes de deixar a cantina, Marilda assinou uma ata. (Foto: Marcos Erminio)
Minutos antes de deixar a cantina, Marilda assinou uma ata. (Foto: Marcos Erminio)

“Vi muita gente se formando, constituindo família. Foram advogados, estudantes, mirins e estagiários, a maioria eu vi se tornando grandes profissionais. E muitos não vinham aqui só para comer. A gente participou do dia a dia deles, do jovem do interior que sentia falta da família, a pessoa que estava a um passo de ser mãe, gente que almoçava e aproveitava os minutos para um desabafo, uma receita caseira para o filho... São detalhes de pessoas que viraram a nossa família”.

Do ambiente de afeto, apesar da tristeza de agora, Marilda diz que vai levar as boas lembranças. “Acho que cumpri uma fase na minha vida. É claro que a gente sente, mas vou levar as coisas boas”, diz.

Há um mês, ela passou por um dos momentos mais difíceis da vida com o falecimento do marido por conta de um câncer e agora, mais uma despedida. “Ele também faz muita falta, isso tudo aqui construímos juntos, assim como toda confiança que conquistamos. Mas ele sempre estará presente”, diz.

Filha se orgulha do trabalho e esforço da mãe que foi capaz de transformar a familia. (Foto: Marcos Erminio)
Filha se orgulha do trabalho e esforço da mãe que foi capaz de transformar a familia. (Foto: Marcos Erminio)

Bióloga, a filha Karina Ocampo Righi, também não segurou as lágrimas durante os abraços que a mãe recebeu. Para ela, é o fim de uma história construída em família.

"Quando minha mãe começou, eu tinha só 4 anos. A gente fazia questão de ajudar. Foi no salgado que ela nunca desamparou a família. Não deixou a gente trabalhar porque quis dar os melhores estudos. Uma parte é alegria pelo carinho que as pessoas estão mostrando, mas a outra é tristeza porque agora vai ser um recomeço pra ela”, diz emocionada.

O advogado e juiz aposentado José Goulart Quirino de 63 anos, foi um dos clientes que apareceu no último dia da cantineira no trabalho, para agradecer. “Marilda é uma pessoa incrível. Merecia continuar porque além de fazer um bom trabalho, fez a diferença na vida de muita gente aqui dentro. A gente vai sentir muita falta”, diz.

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Marilda entre as filha e uma das netas. (Foto: Marcos Ermínio)
Marilda entre as filha e uma das netas. (Foto: Marcos Ermínio)
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