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Comportamento

Anani constrói bicicleta com motor de garapa e viaja 1,4 mil km sem medo

Simpatia não falta e coragem também, com motor de garapa ele fez bike motorizada para viajar o Estado e visitar os amigos

Thailla Torres | 17/12/2018 08:26
Pelas ruas de Campo Grande ele se arrisca sem capacete, mas nada tira o sorriso de quem pode visitar os amigos com mais facilidade. (Foto: Kísie Ainoã)
Pelas ruas de Campo Grande ele se arrisca sem capacete, mas nada tira o sorriso de quem pode visitar os amigos com mais facilidade. (Foto: Kísie Ainoã)

Diversas peças de sucata viram bicicleta na mão do aposentado Anani Rodrigues Carneiro, de 55 anos. Pelas ruas da cidade, ele passeia com sua mais nova bike, motorizada, que chega a 40 km/h graças ao motor de moedor de cana, que ele batiza de ''motor de garapa" e reaproveitou na garupa para poupar pedaladas cansativas.

A experiência com maquinários industriais é o que garante uma bicicleta "segura", diz Anani. "Ela é bem feita, não tem perigo de estragar no meio do caminho", afirma. E os problemas de saúde dão coragem para enfrentar as ruas em cima da bike. “A gente não pode ficar parado, mas como não aguento pedalar muito por causa das pernas, resolvi fazer uma bicicleta que eu possa passear por aí”.

Encontramos Anani no início do anel viário da BR-163, a caminho do Bairro Jardim Canguru, depois de visitar um amigo. Sorridente ele acena e dá “tchau” para os curiosos com a invenção. Na garupa ele diz que aproveitou um motor de garapa que estava abandonado e que está acostumado a inventar desde 1991, “quando fiz minha primeira bicicleta”.

No bagageiro da frente ele carrega gasolina e câmara para pneu. (Foto: Kísie Ainoã)
No bagageiro da frente ele carrega gasolina e câmara para pneu. (Foto: Kísie Ainoã)

Sem medo algum ele já viajou mais de 1,4 mil quilômetros com a bicicleta. “Fui e voltei com ela para Três Lagoas duas vezes. Também vou para Anhanduí e ando pela cidade”.

Questionado sobre a segurança, ele jura que usa capacete nas viagens. “Mas dentro da cidade, como é pertinho, a gente não usa”.

A bicicleta, segundo ele, roda 60 quilômetros com 1 litro de gasolina. Para não ficar em apuros, no bagageiro da frente, Anani carrega gasolina e câmaras de pneu. Apesar das condições ao carregar um produto inflamável, os perigos parecem não intimidar o aposentado. “Nunca aconteceu nada, já fiz várias bicicletas como essa, é só andar com cuidado”.

Anani diz que a bicicleta é sua única opção já que não consegue tirar a carteira de habilitação por não enxergar do lado direito. “Meu sonho mesmo é ter uma moto, mas não passei no Detran. O único jeito é andar de bicicleta”.

Aos 55 anos, ele jura que já viajou 1,4 mil com a bicicleta motorizada. (Foto: Kísie Ainoã)
Aos 55 anos, ele jura que já viajou 1,4 mil com a bicicleta motorizada. (Foto: Kísie Ainoã)

O aposentado perdeu a visão em 1986 depois de ser atingido por uma pedra. “Eu estava na fazenda indo pegar manga e a gurizada estava brincando com estilingue, levei uma pedrada no olho e fiquei cego”.

Nascido em Miranda, Anani diz que trabalho desde a infância em olarias e teve pouco tempo de estudo. “A escola ficava a cinco quilômetros de casa, como eu levantava muito cedo para fazer tijolos, era na hora da aula que eu descansava, o estudo que eu tenho foi Deus que me deu”.

O conhecimento para consertar motores e adaptar nas bicicletas veio com o tempo de trabalho. “Sempre mexendo com máquina pesada, motor de garapa é fichinha pra mim”.

Questionado se trocaria a bicicleta a gasolina por uma movida à energia elétrica, Anani dispensa. “Essas bicicletas não gosto, elas não tem gerador de energia para carregar a bateria e são muito caras, prefiro as minhas”.

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