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Comportamento

Aos 100 anos, ele escapou da guerra e ainda teve 2ª chance após levar 2 tiros

Thailla Torres | 14/03/2017 06:05
Martimiano completou 100 anos em janeiro e nesse mês a comemoração foi com a família. (Foto: Thailla Torres)
Martimiano completou 100 anos em janeiro e nesse mês a comemoração foi com a família. (Foto: Thailla Torres)

Na sala, Martimiano Lima aparece devagar e sorridente. É a felicidade em caminhar mais um dia. No sofá, está o terno branco feito sob medida para comemorar o aniversário. Nascido em 30 de janeiro de 1917, Martimiano chegou aos 100 anos de vida no fim de semana. Mas só agora, conseguiu reunir toda a família para uma comemoração à altura.

Pai de 5 filhos, ele já perdeu as contas a partir daí e acredita que, por cima, tenha nascido quase 100 pessoas entre netos, bisnetos e trinetos ao longo dos anos. Nascido em Amambai (MS), passou boa parte da vida trabalhando na produção de erva mate, mas carrega histórias até de ter dado uma rasteira na morte. 

Ele conta que entrou para o Exército em 1938. Depois, foi lutar na guerra, na Itália, como tantos, a contragosto. "Querer a gente não queria minha filha, mas não tinha essa, era só obedecer", conta. 

Quase não dá para perceber, mas Martimiano mostra a marca de mais um chance na vida.
Quase não dá para perceber, mas Martimiano mostra a marca de mais um chance na vida.

Ele estava pronto para se despedir da família, mas a sorte o livrou pela primeira vez. "Um dia, o capitão me mandou fazer um serviço e eu informei que não poderia fazer porque iria para a guerra, ele ficou bravo perguntando quem tinha dado essa ordem e disse que não iria. Na época vários amigos meus foram", recorda. 

Ele não lamenta ter ficado, mas sente tristeza ao lembrar dos companheiros que nunca mais voltaram. "A gente nunca sabia se iria voltar. Muitos amigos do alojamento morreram. Um deles quando voltou, perdeu o juízo", conta.

Martimiano acredita que por conta dos tiros e todo barulho, o amigo perdera a consciência. "Imagina, a pessoa volta tonta, com tanto de gritaria, tiro e morte. Ele não entendia mais nada", diz.

De quem ele viu partir, a dor foi como perder alguém da família, descreve. "No Exército, nossos companheiros eram a família da gente. Então foi a mesma coisa de perder um irmão". 

Passou o tempo, e veio mais uma segunda chance. Era janeiro de 1941, quando Martiminiano  levou 2 tiros,  um próximo ao pulmão e outro que saiu bem próximo do pescoço.

Juntos há 30 anos, Josefina e Martimiano comemoram a saúde. (Foto: Thailla Torres)
Juntos há 30 anos, Josefina e Martimiano comemoram a saúde. (Foto: Thailla Torres)

"A gente estava em um baile e sabe como é, choveu pinga para todo lado. Um companheiro estava na festa com uma arma. Não sei o que houve direito, mas eu só quis defender. Ele quis atirar em um colega que estava no lugar e eu acabei entrando na frente para colocar a arma para cima, mas ele mirou em mim e acertou duas vezes", descreve. 

Martimiano, abre a camisa, para mostrar um dos lugares em que a bala saiu. A marca do tiro, segundo ele, é prova de que teve uma segunda chance na vida. "Quando fui atendido por um médico, ele disse que não tinha mais jeito e que iria morrer", lembra. 

Conta que ficou cinco dias bastante debilitado e foi graças a um tio, que ganhou a vida novamente."Quando o médico disse que eu não viveria, ele que era muito curioso, disse que ia me curar. Ficou dias me cuidando dos ferimentos com ervas que ele produzia. Ele confiava e por incrível que parece, eu fiquei bem em questão de dias", recorda.

Hoje, a única dificuldade que Martimiano encontra pela frente, é para andar. Mas com ajuda da bengala, o resto, parece ser fácil para um homem de 100 anos. De família paraguaia, ele diz que os costumes sempre o ajudou a manter a saúde.

Ela mandou fazer um terno especial para os 100 anos do marido. (Foto: Thailla Torres)
Ela mandou fazer um terno especial para os 100 anos do marido. (Foto: Thailla Torres)

"Sabe o que cura? Mandioca e carne, sempre que eu ficava mal, comia muito puchero, é a comida que fortalece", garante.

Ao lado dele, está a esposa, Josefina Cálman, de 65 anos com quem é casado há 30 anos. Ela descreve que além de saúde, o marido foi muito esperto para conquistá-la. "Quando nos conhecemos, ele tinha 70 anos, mas falava que tinha 60 só para me ganhar", brinca. "E acabou me conquistando, que somos companheiros até hoje", diz Josefina.

Para o dia especial, foi ela quem pediu para costureira fazer o terno branco. "Ele tem que estar incrível. Não é todo dia que a gente faz 100 anos e ele merece mais do que ninguém". 

Emocionado, Martimiano diz que nessa altura, não há mais o que pedir na vida, somente agradecer. "A vida não foi um mar de rosas, mas eu ganhei muita coisa boa, principalmente minha família. Vai ser um dia muito feliz ver todo mundo unido". 

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Família reunida no aniversário de 100 anos. (Foto: Arquivo pessoal)
Família reunida no aniversário de 100 anos. (Foto: Arquivo pessoal)
Vida longa a seu Martimiano. . (Foto: Arquivo Pessoal)
Vida longa a seu Martimiano. . (Foto: Arquivo Pessoal)
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