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Comportamento

Aos 25 anos, Patrick passa 6 meses isolado em alto mar, conectado só com o céu

O 2º oficial de Náutica brinca que já atingiu o nirvana 3 vezes, “de tanto pensar sobre o mundo”.

Thaís Pimenta | 21/02/2018 07:24
Patrick durante seu último turno de trabalho, na costa brasileira, no sul do país. (foto: Acervo Pessoal)
Patrick durante seu último turno de trabalho, na costa brasileira, no sul do país. (foto: Acervo Pessoal)

Aos 25 anos, Patrick Rodrigues do Nascimento Lopes viveu metade do ano passado de uma maneira que quase ninguém sonharia ser possível: em alto mar. Formado como 2º Oficial de Náutica há pouco mais de um ano, o jovem passa 56 dias a trabalho e 56 dias descansando em terra firme.

Enquanto a maioria das pessoas busca por formações “tradicionais” em Campo Grande, Capital em que não há a cultura marítima, ele foi atrás de uma profissão que pudesse lhe garantir estabilidade financeira rapidamente. Por ter estudado no Colégio Militar de Campo Grande sua vida toda, acabou a ser influenciado para seguir carreira militar.

Sua formação passou pelo rigor militar, mas ao escolher a Marinha Mercante, se manteve civil. “Nunca tive perfil de militar. A formação da Marinha Mercante passa pela Marinha de Guerra. Mas quando eu me formei, me tornei Tenente da Reserva não remunerado”, explica ele.

A escolha foi certeira e hoje lhe dá muita realização. Os poucos momentos de ócio permitem que ele vivencie cenas que nenhum de nós terá a oportunidade. Momentos de verdadeiros takes cinematográficos.

“Quando está de madrugada eu olho as estrelas e vejo a via láctea, reconheço algumas estrelas de navegação. Em outro momento eu estava na costa de Buenos Aires, o mar seguia tranquilo, parecia uma piscina, você via quase que o reflexo de outros navios no mar. De um lado, o sol estava se pondo, uma linha cortava o horizonte e atrás de mim estava a lua cheia”.

Ele tem colegas mais jovens que ele, em maioria. (Foto: Divulgação)
Ele tem colegas mais jovens que ele, em maioria. (Foto: Divulgação)

Mas olhar o horizonte marítimo exige muita concentração, afinal são pelo menos oito horas de trabalho diários. Patrick brinca que já atingiu o nirvana por três vezes, “de tanto que eu penso sobre o mundo”.

Mas ficar isolado do mundo não é brincadeira e a responsabilidade pesa mesmo com pouca idade. “Eu tenho dois turnos, de meia noite às 4h da manhã e do meio dia até às 16h, isso sem contar os momentos em que o navio atraca e o trabalho com salvatagem”, brinca ele.

Como a cada escolha, uma renúncia, Patrick teve que abrir mão de pensar sua vida a longo prazo. Por isso, enquanto está no navio, sem vida social, tendo contato só com cerca de 20 pessoas, ele planeja o que fará no seu período de folga. “Vai surgindo aquela lista mental. Eu pego uma caderneta, que eu já tenho pro dia a dia, e já deixo uma sessão separada pros afazeres”.

Da última vez, decidiu que faria uma escalada em Mato Grosso do Sul, voltaria para o funcional, para a dança de salão, começaria yoga e que em julho iria visitar sua mãe na Europa. Aprender novos idiomas é outra paixão do marinheiro e o italiano é a língua da vez. Por incrível que pareça, ele têm conseguido cumprir todas as metas traçadas. “Eu tento me organizar pra fazer tudo. Ainda quero aprender libras e quero tocar gaita”, acrescenta.

Patrick e um companheiro de trabalho e viagem. (Foto:Acervo Pessoal)
Patrick e um companheiro de trabalho e viagem. (Foto:Acervo Pessoal)

Para dentro do navio, quando pode, dá continuidade ao estudo de idiomas, além disso pratica exercícios na academia, instalada na área de uso comum de seu trabalho.

Inclusive, as acomodações do navio são uma “atração a parte”, com direito a comida feita por cozinheiro de hotel e tudo o mais. “Isso ajuda, torna mais fácil o período em alto mar. As acomodações do navio são muito boas, eu tenho camarote (quarto) pequeno, com banheiro, mesa, tem televisão, wifi a bordo, tem uma sala de recreação com Playstation, mesa de sinuca, mesa de Air Hockey e a academia”.

Patrick executando uma de suas metas dessas "férias". (Foto: Thailla Torres)
Patrick executando uma de suas metas dessas "férias". (Foto: Thailla Torres)

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