ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 20º

Comportamento

Aos 93 anos, Auzenir ganhou admiradores por “madrugar” na caminhada

Simpática, moradora do Corcovado virou inspiração no bairro e adora contar que viu o Bairro Tarumã nascer.

Danielle Valentim | 27/06/2019 07:48
Dona Auzenir chegou a região, quando rua só tinha quatro casas (Foto: Paulo Francis)
Dona Auzenir chegou a região, quando rua só tinha quatro casas (Foto: Paulo Francis)
Selfies com admiradoras; dona Auzenir ao centro e servidora pública Keila Flores à direita. (Foto: Arquivo Pessoal)
Selfies com admiradoras; dona Auzenir ao centro e servidora pública Keila Flores à direita. (Foto: Arquivo Pessoal)

A caminhada diária pela extensão da Avenida Bom Progresso, além de saudável já rendeu até selfie com admiradores de dona Auzenir Muniz de Aguiar, de 93 anos. O que pouca gente sabe é que a senhorinha que não falha um dia sequer de exercício é uma pioneira que chegou à região antes mesmo do nascimento dos bairros Coophavilla, Tarumã e Corcovado.

Haja história para quem já soma nove décadas, mas o Lado B resumiu e antes de contar sobre o dia a dia de dona Auzenir, vai começar da partida do Ceará.

Com respostas rápidas e memória ativa, Auzenir fala com convicção sobre o primeiro desembarque em São Paulo com o marido e a filha mais velha, que tinha apenas 1 ano. Na capital paulista, o trio ficou por três meses e, em seguida, desceu para o Paraná, onde após dois anos e meio, uma geada muito forte pôs fim à permanência.

A terceira região foi a Vila São Luiz de Cáceres, no norte do Mato Grosso, onde o casal viveu por 17 anos, o primeiro deles vivendo no meio do mato para abrir um lote. A dificuldade e distância eram tamanhas, que o marido pegava carona em caminhões para fazer compras na cidade e o retorno demorava oito dias.

“Eu ficava sozinha com as crianças e para as queixadas não invadirem eu colocava malas na porta do barraco", conta (Foto: Paulo Francis)
“Eu ficava sozinha com as crianças e para as queixadas não invadirem eu colocava malas na porta do barraco", conta (Foto: Paulo Francis)

“Eu ficava sozinha com as crianças e para as queixadas não invadirem eu colocava malas na porta do barraco. Eu até tampava a boca deles para eles não chorarem. Por falta de médicos e assistência médica, meus filhos nasciam, adoeciam e morriam. Três foram enterrados lá, dois deles em Salto do Céu”, lembra.

A família então foi para Cuiabá onde viveu por mais um ano até a mudança definitiva para Campo Grande. A chegada à Rua Minuano - hoje Rua Verdes Mares - aconteceu no dia 1 de agosto de 1974, antes mesmo da divisão do Estado que aconteceria três anos depois, em 1977.

A casa de dez peças construída há 45 anos ainda está de pé. A via curtinha entre as avenidas Bom Progresso e Gunter Hans não pertencia a bairro nenhum e toda a área hoje chamada de “Corcovado” era conhecida como Rua Minuano.

Primeira casa de dona Auzenir. (Foto: Paulo Francis)
Primeira casa de dona Auzenir. (Foto: Paulo Francis)
No mesmo lugar até hoje, Auzenir mora em uma casa dos fundos e aluga o primeiro imóvel que ainda tem um poço desativado. (Foto: Paulo Francis)
No mesmo lugar até hoje, Auzenir mora em uma casa dos fundos e aluga o primeiro imóvel que ainda tem um poço desativado. (Foto: Paulo Francis)

“Nossa igrejinha era uma casinha de tábua. O hospital Adventista também já existia, mas era o prédio antigo que já foi até derrubado e construído de novo. Quando cheguei tinham apenas três moradores, o Carlos que era professor no Pênfigo, seu Nelson e Ivo. Nossa casa foi a quarta da rua”, lembra.

Na época, o ex-marido adquiriu a doença Pênfigo Foliáceo, popularmente conhecida como Fogo Selvagem. A enfermidade foi tratada no Hospital do Pênfigo por dez anos. Após a cura, ele foi embora para o Amazonas e abandonou dona Auzenir com seis crianças.

Para sustentar os filhos, Auzenir trabalhou como "sacoleira" e venda ambulante. Logo que os filhos completaram 10 anos, tiraram documentos e passaram a ajudá-la.

No mesmo lugar até hoje, Auzenir mora em uma casa dos fundos e aluga o primeiro imóvel que ainda tem um poço desativado. A idosa não é aposentada, mas recebe o benefício do Loas. Mesmo com as duas construções, o terreno de medida antiga - 13x52 metros - mais parece um quintal de sítio com um fundo cheio de pés de mandioca, bananeiras, limão e mamão.

Para sustentar os filhos, Auzenir conta que trabalhou como "sacoleira" e venda ambulante.  (Foto: Paulo Francis)
Para sustentar os filhos, Auzenir conta que trabalhou como "sacoleira" e venda ambulante. (Foto: Paulo Francis)
Detalhe das mães de Auzenir aos 93 anos. (Foto: Paulo Francis)
Detalhe das mães de Auzenir aos 93 anos. (Foto: Paulo Francis)

Vida ativa – Auzenir começou a caminhar há mais de 25 anos, durante a abertura simultânea do Tarumã e Coophavilla. A região antes tomada por mata fechada obrigava os moradores a se curvar em meio aos galhos para colher mangaba e guavira.

“Há anos fazendo essa caminhada nunca aconteceu nada comigo. Antes duas amigas me acompanhavam, íamos até a avenida do hospital e voltava. Depois que fiquei sozinha andava só aqui no quarteirão. Depois que abriram a Bom Progresso e mudei a caminhada para lá”, disse.

Além da caminhada, a senhorinha tem disposição para quatro dias de atividades físicas. O dia começa antes das 5h. “A saída acontece às 5h10. De primeiro eu andava bem de pressa agora ando mais devagar e volto às 6h. Eu vou de cima a baixo três vezes. Antes de sair eu passo um café e quando retorno tomo de novo, troco de roupa e vou para a física. Terça e quinta vou no projeto no Cras (Centro de Referência em Assistência Social) e segunda e quarta no Tarumã, onde tem a atividade física e a academia ao ar livre”, conta.

Com facilidade, Auzenir mostrou agilidade para calçar o par de tênis. (Foto: Paulo Francis)
Com facilidade, Auzenir mostrou agilidade para calçar o par de tênis. (Foto: Paulo Francis)
Em dias frios, conta que coloca calça, casacos, touca e so deixa o olho para fora. (Foto: Paulo Francis)
Em dias frios, conta que coloca calça, casacos, touca e so deixa o olho para fora. (Foto: Paulo Francis)

Com o avançar dos anos adquiriu diabetes, colesterol, anemia e labirintite, mas pela vida ativa garante não sentir dor em parte alguma do corpo. Com facilidade, Auzenir mostrou agilidade para calçar o par de tênis.

Em dias frios, conta que coloca calça, casacos, touca e só deixa o olho para fora. Dona Auzenir passou por um procedimento de retirada de verruga do rosto e não caminhou nesta semana, mas as atividades serão retomadas na próxima terça-feira.

Católica fiel, dona Auzenir viaja bastante, já foi cinco vezes ao Paraná onde mora a filha caçula, comemorou o aniversário de 92 anos no Ceará, mas vai realizar o sonho de conhecer Aparecida do Norte, em São Paulo, no mês que vem. “Me sinto em paz, feliz, entrego a Deus meu dia e Ele toma conta de mim. Foi difícil, mas meus filhos sempre me obedeceram. Tive dez filhos, quatro se foram, mas tenho 11 netos e seis bisnetos”, finaliza.

Curta o Lado B no Facebook e Instagram.

Nos siga no Google Notícias