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Comportamento

Bairro já foi chamado de Cachorro Morto, mas só quem é das antigas lembra

História do Serradinho ganha duas versões e o Lado B foi descobrir qual a mais famosa

Danielle Valentim | 29/08/2019 08:40
Sofia afirma ser a segunda moradora do bairro e lembra muito bem da fama do bairro. (Foto: Paulo Francis)
Sofia afirma ser a segunda moradora do bairro e lembra muito bem da fama do bairro. (Foto: Paulo Francis)

Toda região é conhecida de alguma forma ou por algum nome. A Vila Serradinho, por exemplo, na região oeste da cidade, se formou pouco antes da inauguração da primeira pista do Aeroporto Internacional de Campo Grande, em 1953, e soma mais de 60 anos de história com versões diferentes. A comunidade já foi conhecida como Cachorro Morto e o Lado B foi atrás da explicação sobre esse título curioso.

Pelas ruas do bairro, só os pioneiros lembram da reputação do passado que deu o apelido ao lugar, mas contam de duas formas. A primeira versão é sobre a altura da entrada do bairro, em meados de 1950 e 1955. A localização exata do point famoso seria onde hoje é localizado o Restaurante e Hotel Dois Irmãos.

Na época, alguns cachorros tentavam subir o barranco na tentativa de cruzar a Avenida Duque de Caxias e despencavam morro abaixo ao se desequilibrar. A queda era realmente mortal e o número de carcaças de animais ganhava proporção considerável.

A primeira versão é sobre a altura da entrada no bairro. (Foto: Paulo Francis)
A primeira versão é sobre a altura da entrada no bairro. (Foto: Paulo Francis)

A segunda versão é de que a região com mais de meio século de idade era muito abandonada e todos os animais mortos em acidentes, de velhice ou envenenados pela cidade, acabavam jogados em um lago do bairro, atualmente seco.

No hoje Serradinho, encontramos a pastora Sofia Ramires Barbosa, de 85 anos. Aos 23, ela chegou ao bairro e construiu a segunda casa da Avenida Wilson Paes de Barros, paralela à Avenida Duque de Caxias. Filha de pai argentino e mãe paranaense, nasceu em Campo Grande, mas foi criada no Paraguai.

Sofia diz que a força vem de Deus. (Foto: Paulo Francis)
Sofia diz que a força vem de Deus. (Foto: Paulo Francis)

No endereço criou dois filhos, ficou viúva e, hoje, apesar da idade avançada preside uma igreja evangélica. Questionada sobre a antiga fama do bairro, a moradora nem pensou duas vezes e lançou o “Cachorro Morto”.

“Aqui era mata virgem dos dois lados da avenida. Aqui só tinha a casa de seu Marinho, que já morreu e a minha casa. Logo que cheguei trabalhei no frigorífico, só meu marido que já faleceu trabalhou lá 36 anos. Aqui era conhecido por esse nome, porque o pessoal jogava muita carcaça”, garante.

Trecho entre Avenida Duque de Caxias e Avenida Wilson Paes de Barros. (Foto: Paulo Francis)
Trecho entre Avenida Duque de Caxias e Avenida Wilson Paes de Barros. (Foto: Paulo Francis)

Onde você mora? Lá, no Cachorro Morto - Era assim que Delurce Tereza da Silva Lima, de 66 anos, respondia a quem perguntava. Aos 15 anos, deixou o bairro para viver com os pais na Vila Popular, mas sua recordação é de uma infância inteira vendo animais caindo barranco abaixo.

“Era muito alto. O ônibus passava lá em cima. Nós morávamos próximo a entrada do bairro, onde hoje fica o restaurante Dois Irmãos. Lá cachorro que tentava cruzar a Duque de Caxias morria ao cair. O barranco era muito alto”, lembra Delurce.

Mas no fim das contas, os cachorros caíam ou eram jogados barranco abaixo? A equipe conversou com o proprietário do restaurante e hotel Dois Irmãos Osvaldo Monteiro, de 69 anos, que apostou na região em 1984.

Bairro já foi chamado de Cachorro Morto, mas só quem é das antigas lembra

“Exatamente. A região era conhecida assim. Chegamos aqui em 1983 e moramos do outro lado da avenida. Um ano depois compramos aqui e o Lúdio Coelho passou com o asfalto. Começamos com um botequinho e fomos ampliando até transformar no hotel. Hoje graças a Deus temos clientes de todos os Estados. Mas esse nome de Cachorro Morto era porque jogavam os animais aqui”, explica Osvaldo.

De Bela Vista, outro morador que chegou na região na década de 1960, foi o aposentado Julião Espinosa, de 81 anos. Ele confirma a versão dois da história.

Bairro já foi chamado de Cachorro Morto, mas só quem é das antigas lembra

Assim como a maioria dos migrantes de outras cidades como Porto Murtinho e imigrantes paraguaios, trabalhou no antigo Frimam (Frigorífico Matogrossense). Logo depois passou dois anos no Frigorífico Bordon, hoje JBS, até virar servidor da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), onde trabalhou 20 anos e se aposentou.

Julião atuou ativamente das conquistas do bairro, inclusive na Unidade Básica de Saúde, na gestão do prefeito Levi Dias. “Ele batia na tecla que construiria uma unidade 24h na Vila Popular, mas nós defendíamos que o Serradinho precisa de outro posto. Fomos umas dez vezes à prefeitura até vencer o prefeito pelo cansaço”, lembra.

“Aqui nessa parte do bairro só tinha umas dez casinhas. Mas o povo chamava assim, porque as pessoas derrubavam os cachorros mortos em uma lagoa na entrada do bairro. Hoje já acabou tudo. Mas esse nome existiu”, finaliza.

Tem alguma história especial do seu bairro ou até mesmo curiosa? Mande para o Lado B no Facebook, Instagram ou e-mail: ladob@news.com.br .

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