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Comportamento

Câncer mudou olhar de Tatiani sobre a vida, e o que ficou da doença foi o amor

Vivência ficou marcada na pele em tinta preta e traços finos com aquilo que depois da doença ela nunca esqueceu: “O amor cura”.

Kimberly Teodoro | 03/07/2019 07:44
No mês de Junho deste ano a cirurgia que retirou o tumor completou quatro anos, mas da doença, Tatiani só guardou o amor (Foto: Arquivo Pessoal)
No mês de Junho deste ano a cirurgia que retirou o tumor completou quatro anos, mas da doença, Tatiani só guardou o amor (Foto: Arquivo Pessoal)

O diagnóstico de câncer de mama veio há 4 anos, com ele o turbilhão de sentimentos de quem precisou lidar com a morte, aos 29 anos, quando ainda se tem uma vida inteira pela frente. Ainda assim, para a empresária Tatiani Roberta Faminio, a sombra da doença trouxe também um novo olhar sobre a vida e vivência marcada na pele em tinta preta e traços finos com aquilo que ela nunca esqueceu: “O amor cura”.

No mês de Junho deste ano a cirurgia que retirou o tumor completou quatro anos, ao olhar para trás, o que passa pela cabeça da empresária é um filme, marcado pela rapidez dos acontecimentos. “Descobri o câncer há dois dias do meu aniversário de 29 anos, cerca de 20 dias depois, fiz a cirurgia”. A descoberta veio por acaso, quando durante o banho sentiu um caroço próximo a axila e por sugestão da irmã, que trabalha em uma clínica de oncologia, resolveu procurar um médico por puro “desencargo de consciência”.

Partindo da própria experiência, Tatiani alerta outras mulheres sobre a importância da prevenção. Os exames que detectaram o tumor são mais comuns à mulheres que já chegaram aos 40 anos e ainda não faziam parte da rotina médica da empresária. “Não tem idade. A minha sorte é que o caroço nasceu em uma região palpável, bem no fim da mama, perto da axila e eu fui ao médico. O tumor estava se desenvolvendo muito rápido e a única vantagem que tive foi o tempo, na minha corrida contra ele eu saí na frente. Descobri bem no começo”.

Depois da cirurgia, Tatiani precisou de quatro ciclos de quimioterapia e radioterapia para erradicar a doença (Foto: Arquivo pessoal)
Depois da cirurgia, Tatiani precisou de quatro ciclos de quimioterapia e radioterapia para erradicar a doença (Foto: Arquivo pessoal)

Na época, sócia de uma distribuidora de gás, em que era também “mão de obra”, ela costumava fazer entregas, ela se lembra que recebeu o resultado da biópsia em casa, de onde também atendia aos pedidos, atividade que exerceu até pouco depois da cirurgia sem se deixar abater. “Estávamos todos aqui, chorando e o telefone do gás tocando. Eu precisava entregar. Só fui arrumar alguém para ajudar depois, mas por várias vezes eu tinha que colocar a mão na massa”.

“Com um diagnóstico, achamos que vamos morrer e todo mundo também acha. Andamos em uma corda bamba”, relembra Tatiane, que além da doença, também precisou lidar com as emoções de quem estava ao redor. “O que eu sempre pensei e o que ainda penso, é que quando você tem uma doença, você também tem uma nova oportunidade. As pessoas não vêem assim, mas é uma oportunidade para fazer diferente o que ainda não fez. Na época eu estava trabalhando muito, hoje já não é mais o meu foco. Hoje eu já penso mais na minha família, em cuidar mais de mim. Revemos muita coisa nesse período. Quando a pessoa morre, essa chance não existe. O que eu passava pela minha cabeça era a cura, porque morrer todo mundo vai, mas no próprio tempo”.

Quando questionada sobre o necessário para encarar a situação dessa forma, a resposta vem sem a necessidade de pensar duas vezes sobre o assunto. “Você pode colocar que Deus é maravilhoso? Eu tenho uma fé muito grande, é difícil colocar os sentimentos em palavras, eu acreditava que tudo daria certo e ficaria bem. Acreditei na cura. Quando é na própria pele as pessoas têm dificuldade em aceitar, em confiar. Eu para mim, o essencial foi confiar enquanto estava vivendo aquilo”.

No dia em que perdeu os cabelos, Tatiani fez uma festa (Foto: Arquivo Pessoal)
No dia em que perdeu os cabelos, Tatiani fez uma festa (Foto: Arquivo Pessoal)
Apoio do marido foi essencial na caminhada de Tatiani pela cura (Foto: Arquivo pessoal)
Apoio do marido foi essencial na caminhada de Tatiani pela cura (Foto: Arquivo pessoal)

O momento do diagnóstico foi para Tatiane, além de um momento de reafirmação da própria fé, uma reaproximação das pessoas que faziam parte da própria vida e mesmo de pessoas que apenas a conheciam da vizinhança. O marido e o filho foram pilares, não apenas cuidando da saúde física da empresária, como também demonstrando o apoio necessário para seguir em frente no tratamento que durou quase um ano entre a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia. “Mesmo das pessoas que eu conhecia aqui do bairro, você não tem noção da vibração das pessoas, das demonstrações de amor e carinho. Eu me senti tão amada que quis marcar na pele”, explica ao contar da tatuagem feita em 30 de dezembro de 2016, ainda em tratamento.

No caso de Tatiani, o procedimento escolhido pelo médico foi a realização de uma cirurgia conservadora, onde um quadrante do tecido ao redor do tumor também é retirado, preservando a maior parte da mama e que só em indicado em quadros como o dela, em que o tumor é descoberto ainda no início. Na tentativa de erradicar o câncer, ela também passou por quatro ciclos de quimioterapia e radioterapia, hoje aos 33 anos, mesmo sem reincidência da doença, ela ainda não teve “alta” e faz acompanhamento semestral, mas afirma que o corpo reagiu muito bem.

A foto foi tirada do celular no improviso, mas carrega o apoio das amigas na hora de raspar o cabelo (Foto: Arquivo pessoal)
A foto foi tirada do celular no improviso, mas carrega o apoio das amigas na hora de raspar o cabelo (Foto: Arquivo pessoal)

Sobre a perda dos longos fios loiros que faziam parte do visual adotado na época, ela conta ter sido, literalmente uma festa. “Perdi o cabelo durante os primeiros 15 dias da quimioterapia, fiquei linda careca”, avalia. Tatiani revela nunca ter tido medo desse momento, pelo o qual ela já esperava e, comparado aos outros efeitos do tratamento que é literalmente uma “bomba” para o organismo, isso foi o que menos a afetou.

Decidida, ela não quis esperar até os fios caírem aos poucos, quando eles ficaram opacos e começaram a sair nas mãos e na escova de cabelo ela chamou a cabeleireira, convidou todas as amigas e comprou um bolo. “Naquele momento, quem quisesse chorar já ia poder chorar tudo de uma vez. Choramos, fizemos uma oração e aí bola para frente. Nessa situação eu sofri menos, o chato disso é ver o impacto na reação das pessoas. Elas ficam com um sentimento de dó e te olham de uma maneira diferente, o que às vezes torna a situação pior”.

Hoje o cabelo voltou ao tom e formato natural, deixando de lado qualquer padrão que não a faça feliz (Foto: Arquivo pessoal)
Hoje o cabelo voltou ao tom e formato natural, deixando de lado qualquer padrão que não a faça feliz (Foto: Arquivo pessoal)
Tatuagem escolhida por Tatiani para marcar na pele todo o amor que recebeu (Foto: Arquivo pessoal)
Tatuagem escolhida por Tatiani para marcar na pele todo o amor que recebeu (Foto: Arquivo pessoal)

A mudança no visual também foi parte da transformação vivida por Tatiani, que na época usava progressiva para alisar os fios e pintava de loiro. Hoje com apenas algumas mechas mais claras, ela conta ter aceitado os fios cacheados e aproveita a nova fase com o cabelo natural e “enorme”, deixando de lado qualquer tendência ou padrão que não a faça feliz. Durante o tratamento, também mudou de profissão, passou a vender roupas, o que considera um trabalho mais leve. Quanto aos hábitos, além de trabalhar menos, ela também começou a frequentar a academia e tenta levar uma vida mais saudável, por ela, pelo filho, pelo marido e por todas as pessoas que levaram amor até ela nos dias mais difíceis.

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