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Comportamento

Central Única das Favelas regional volta querendo dar voz às "quebradas"

Sedes de Dourados e Campo Grande foram dissolvidas em 2014, agora o projeto retorna querendo descentralizar a cultura

Aletheya Alves | 09/11/2019 07:33
Objetivo da Cufa regional é levar cultura das favelas para o restante da cidade. (Foto: Clayton Neves)
Objetivo da Cufa regional é levar cultura das favelas para o restante da cidade. (Foto: Clayton Neves)

Criar sonhos sem possibilitar a transformação em realidade não é intenção dos objetivos definidos pela Cufa (Central Única das Favelas), que retornou para Mato Grosso do Sul em julho deste ano. O foco, agora, é enfrentar os problemas das periferias promovendo ações que consigam dar base e voz para quem acaba esquecido nos cantos da cidade.

Deixando de lado possível resistência em falar sobre favelas na Capital, a Coordenadora Regional de Mato Grosso do Sul, Lívia Lopes justifica o retorno da ONG (Organização Não Governamental) dizendo que muita gente não tem oportunidade de sair da situação em que se encontra e que projetos como a Cufa podem ir até lugares que outras instituições não chegam.

Cinco comunidades foram identificadas pelo grupo até o momento: Favela Só por Deus, no Jardim Bálsamo, Homex no Paulo Coelho Machado, Frutilla, próximo ao Los Angeles, Morro do Mandela, na Morada do Segredo e Cidade de Deus, região do Parque do Sol.

Para incorporar esses locais à dinâmica de debates, o primeiro passo indicado por Lívia parece ser admitir as quebradas como parte existente da cidade. “Aqui tem favela, mas as pessoas não gostam de dizer esse nome. Até entender que mora na favela, até a pessoa admitir isso, demora um tempo. Aqui a gente tem Cidade de Deus, Dom Antônio, Morro do Mandela. Temos o Tiradentes, Los Angeles, por exemplo, que fazem parte da periferia”. Ela diz que depois da aceitação, conseguir chegar até essas pessoas e levar oportunidade se torna algo mais real.

Além de incluir arte nos bairros, as ações pensadas pelo projeto envolvem desconstrução de conceitos e abertura de pensamento. A coordenadora explica que o trabalhador do cotidiano, que não tem possibilidade de estar em eventos culturais, precisa de oportunidade para se entender como artista e divulgar sua voz.

Lívia é coordenadora da Cufa em Campo Grande desde julho. (Foto: Paulo Francis)
Lívia é coordenadora da Cufa em Campo Grande desde julho. (Foto: Paulo Francis)

“A Cufa está aqui para dar visibilidade, capacitar essas pessoas que moram em lugares distantes. Para que um dia elas possam estar em eventos importantes do Brasil, ter possibilidade de expor livros, cantar, dançar, ser um profissional. A importância é chegar no outro escritor, autor, que talvez não teve essa oportunidade porque não houve uma ação no bairro. A gente quer chegar no Mandela, no Dom Antônio, em pessoas que ainda não tiveram acesso à cultura para também manifestar e expor o que pensam”, conta.

Divulgar as quebradas - Parte da equipe, a Coordenadora Virtual, Gabriela Bonifácio, diz que conseguir levar as informações da periferia para o restante da cidade é um dos maiores obstáculos. “As pessoas têm medo de falar sobre, mas a intenção é descentralizar a cultura. Para isso é necessário fazer uma ponte para quem produz. Essas pessoas precisam de recursos e oportunidade para mostrar seu talento, a intenção de eventos como Favela Literária é essa”.

Ainda de acordo com Gabriela, a equipe de hoje é pequena, composta por oito integrantes, mas intenção é reunir pessoal. Ela conta que mais ações devem ser realizadas com aumento de participantes, “a gente quer fazer ao menos um evento por mês para destacar as culturas. Entrando na quebrada, a gente vê como está lotada de ideias, de gente legal e que precisa de divulgação”.

Gabriela é aluna de Economia, mas se identifica com comunicação digital. (Foto: Paulo Francis)
Gabriela é aluna de Economia, mas se identifica com comunicação digital. (Foto: Paulo Francis)

Ações - Até o momento, os eventos foram até a periferia e o próximo passo é chegar, de fato, nas favelas. As ações desenvolvidas envolvem capacitação, formação com cursos, oficinas culturais e ações pontuais de cultura e arte de rua como batalhas de rimas, sarau, basquete de rua e grafite.

A primeira ação foi realizada em setembro com o evento "Streetopia", que reuniu diversas artes e culturas de rua no bairro Los Angeles. Outra ação promovida foi no bairro Parati com o "Grafite nas Escolas", que deve ter mais uma edição divulgada ainda em novembro. No Dia da Favela, 4 de novembro, a "Favela Literária" tomou conta da Praça dos Imigrantes com autores da periferia. A ideia é que em 2020, a galera do "morro" ganhe voz e faça parte dos expositores.

Sobre haver dificuldade em trazer cultura e arte de rua ao centro do debate, a Coordenadora Regional, Lívia, diz não acreditar em resistência por parte da população, "o que existe é falta de informação sobre o assunto. Por isso fazemos essas ações, para todos entenderem o real significado da arte e todas as suas linguagens".

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Favela Literária foi realizada na última segunda-feira (4) para reunir escritores da periferia. (Foto: Paulo Francis)
Favela Literária foi realizada na última segunda-feira (4) para reunir escritores da periferia. (Foto: Paulo Francis)
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