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Comportamento

De touca e coturno, barbeiro mantém estilo há 36 anos na Zahran

Para não deixar clientes, depois que pai se mudou da região, José montou seu próprio espaço do outro lado da rua

Danielle Valentim | 13/07/2019 07:22
Estilo de José ou Ferpa como é conhecido no clube Bacamarte. (Foto: Kísie Ainoã)
Estilo de José ou Ferpa como é conhecido no clube Bacamarte. (Foto: Kísie Ainoã)

Em ambiente simples e sem freezer de cerveja como em barbearias atuais, José Fermino Neto, de 56 anos, mantém clientes há décadas na mesma portinha da Avenida Eduardo Elias Zahran. Com roupas pretas, touca na cabeça e coturno nos pés, o estilo de motociclista também nunca mudou e é o “segredo” do sucesso.

Criado na região, José é da época que a avenida ainda se chama “Contorno” e não Eduardo Elias Zahran. Muita coisa mudou, as empresas tomaram conta da via, mas José não conseguiu se despedir.

“Meu pai, José Fermino Filho, tinha uma barbearia onde hoje é a Caiobá Honda. O espaço era dividido em três lotes. Ali ele ensinou o ofício aos quatro filhos. Cortei cabelo com meu pai por 23 anos, até que a loja quis ampliar e comprou o lote do meu pai. Ele se mudou para o bairro Coophasul, onde montou outra barbearia, mas eu não fui”, conta.

Cliente corta cabelo com José há 25 anos. (Foto: Kísie Ainoã)
Cliente corta cabelo com José há 25 anos. (Foto: Kísie Ainoã)

Para não abandonar os clientes, José decidiu ficar e alugar um espaço do outro lado da rua, onde atende sozinho há 13 anos. Quando o Lado B chegou, José atendia um cliente com 25 anos de preferência.

Apesar do estilo motociclista, José costuma dizer que é um barbeiro tradicional e garante que é isso que “segura” os clientes.

“Hoje se fala em degradê, mas antes era o corte militar. A barba que eu faço também é a tradicional. Lembro quando aprendi a profissão meu pai disse que me levaria para comprar roupas mais sociais porque com meu estilo eu não daria certo, mas todos podem ver: praticamente todos os meus clientes são “de idade”, já acostumaram”, pontua.

Sem almoço - Assim que o pai se mudou para o bairro Coophasul, José foi morar no Coophavilla II. De bicicleta, o barbeiro pedalava 30 km - ida e volta - todos os dias. Pai de duas filhas, de 21 e 31 anos, e avô de três netos, José acredita que a vida é feita de renúncias.

Naquela época a marmitex era R$ 5 reais. Eu parei de comer no almoço, às vezes ficava tonto, mas com um ano eu juntei R$ 1.880,00 (Foto: Kísie Ainoã)
Naquela época a marmitex era R$ 5 reais. Eu parei de comer no almoço, às vezes ficava tonto, mas com um ano eu juntei R$ 1.880,00 (Foto: Kísie Ainoã)

“Meu sonho era ter uma moto. Naquela época a marmitex era R$ 5 reais. Eu parei de comer no almoço, às vezes ficava tonto, mas com um ano eu juntei R$ 1.880,00 e comprei uma Titan 99. Continuei juntando dinheiro e entrei num consórcio. Comprei uma Fan e entrei em um novo consórcio, onde fui contemplado no sexto sorteio e comprei uma CB 300. Depois vendi e comprei uma 250 e depois a 650 que era o meu sonho. Os sonhos são baseados em luta e renúncia. Eu deixei de me alimentar, mas sempre lembrei de que meu pai falava: nada é impossível para o homem””, conta.

A vida do barbeiro, cabeleireiro ou qualquer profissional que depende da procura do cliente é difícil. Entre as dificuldades, a barbearia chegou a ficar três meses fechada. “Eu sofri um acidente e quebrei o braço em três lugares. O médico disse que eu teria de ficar 8 meses sem poder trabalhar. Eu tive que entregar o ponto porque não dava para ficar pagando o aluguel com o espaço fechado. Com três meses de recuperação consegui cortar um cabelo com muita dificuldade e liguei para dona dizendo que queria voltar. Por sorte ninguém tinha alugado. A dona daqui também me viu crescer, criava carneiros quando aqui nem asfalto tinha”, conta.

Há sete anos, José entrou para o Bacamarte Moto Clube. A barbearia também recebe detalhes de sua personalidade. Quadros, fotografias e até um frigobar customizado no preto são parte da decoração.

A barbearia do José Fermino fica na Avenida Eduardo Elias Zahran, 575. O espaço abre de segunda a sábado das 8h30 às 12h30 das 13h às 19h.

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Pai de duas filhas, de 21 e 31 anos, e avô de três netos, José acredita que a vida é feita de renúncias. (Foto: Kísie Ainoã)
Pai de duas filhas, de 21 e 31 anos, e avô de três netos, José acredita que a vida é feita de renúncias. (Foto: Kísie Ainoã)
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