Depois que a filha saiu de casa, pai descreve orgulho e a saudade do ninho vazio
"Minha filha, minha vida". É assim que Claudionor Pereira Lacerda, de 50 anos, começa a carta endereçada à filha Alana. Por orgulho da menina e até mesmo num pedido de desculpas por não ter acreditado na carreira dela logo de cara, o pai foi quem pediu a publicação dos escritos no Lado B. É Claudionor quem dá o "chapéu" da matéria, Minha filha, minha vida, num resumo do que sente hoje.
"A cada conquista e vitória sua eu vibro com você, desde o seu primeiro passo. Ver você agora almejando entrar num doutorado é uma alegria sem medida. Eu sei como você sonhou e batalhou por isso. Foram anos de estudo, meses, semanas, horas e horas a fio de dedicação e disciplina. Mas o sacrifício valeu a pena! E o sacrifício é mesmo isso, é o ofício de doar algo muito precioso a espera de algo de maior valor ainda. Você sacrificou o seu tempo de lazer, o seu tempo com a família e amigos para ter este retorno maravilhoso que vai lhe trazer alegrias para o resto da vida..."
Claudionor é gerente de pós vendas de uma concessionária de maquinários da cidade. Alana é a primeira filha, tem 27 anos e se formou em Nutrição. "Nossa relação, na verdade, para resumir, eu que sempre fiz tudo. Dava mamadeira, levava ao cinema, eu brinco que minha esposa só pariu", conta Claudionor.
Eles sempre moraram juntos e agora esta foi a primeira filha a sair de casa. Há dois meses, o destino escolhido foi o Rio de janeiro para fazer doutorado. Ao chegar em solo carioca, viu uma oportunidade de emprego na Nestlé e foi pessoalmente entregar currículo e se apresentar.
"Ela viu que precisava de uma nutricionista lá e me disse que se só mandasse o currículo, eles nem iriam ler. Agora ela está contratada. Concorreu com gente do Brasil todo", diz o pai, bem orgulhoso.
Depois do nascimento, ver as conquistas da filha é o que Claudionor relata como a sequência de dias mais felizes da sua própria vida.
De início, o pai foi contra a escolha da profissão. "Eu perguntava o que ela iria fazer, ia trabalhar em que? E eu me surpreendi, porque aqui em Campo Grande tinha mês que ela ganhava até mais do que eu. Eu estava errado", conta para mim. Na carta, ele traduz este arrependimento nas seguintes palavras:
"Tenho a certeza que você escolheu o caminho certo e a profissão que vai lhe fazer feliz e sentir realizada. Quando estiver com essa formação, vai ser uma profissional formada por completa para desempenhar o seu papel na sociedade com respeito, ética e responsabilidade. Você enche o meu coração de orgulho e admiração, minha filha!
Saiu de Campo Grande a apenas 2 meses, foi morar na capital Fluminense, sozinha e sem nenhum conhecimento da cidade. Formada em Nutrição, Pós Graduação e Mestre em Biotecnologia, consegue entre muitas candidatas a ser escolhida para trabalhar numa grande multinacional".
Por que eu fiz a carta? Porque eu fiquei feliz da vida e queria homenagear a minha filha. Ela não sabe de nada e eu sempre fui um pai de surpreender. Mandava flores para ela e eu sei que com essa homenagem, ela vai ficar muito feliz", acredita Claudionor.
Se no fim das contas, a carta também é um pedido de desculpas, o pai afirma que até pode ser, porque nunca chegou a se desculpar com a filha. Mas hoje garante o que sempre dividiu com a esposa: "a felicidade dela é a nossa, minha e da minha esposa. A gente se completa com ela".
Como a gente não conhece Alana, só pelas fotografias, pedimos ao pai que descrevesse a filha também em palavras. "A Alana é uma pessoa meiga, que gosta assim, de falar bastante, de dar presente para todas as amigas, para os avós, os pais. Ela se relaciona bem com todo mundo e consegue fazer amizade facilmente".
"Querida filha, estou muito felizes pela sua conquista, agora que mais uma batalha foi vencida, é hora de celebrar e preparar o fôlego para enfrentar novas batalhas. Agora é que começa para valer a sua caminhada!
Saiba que estarei sempre ao seu lado, torcendo por você, torcendo pela sua felicidade. Tenho certeza de que você fez a escolha certa, de que será muito feliz e bem sucedida em sua carreira, pois quando fazemos o que amamos fazemos sempre melhor".
Há dois meses e meio que o coração do pai é só saudade. De surpresa, Alana veio no feriado de Corpus Christi, dia do aniversário de Claudionor. Ele também já foi ao Rio de visita, mas agora a previsão é de vê-la só em dezembro.
"Se eu estou orgulho? Claro! Vixe! Eu saio assim, falando para todo mundo, a minha filha é uma desbravadora sem medo". E no final da carta, vem os parabéns:
"Eu sei que essa conquista é toda sua, fico muito feliz em poder partilhar este momento com você. Seja muito feliz neste caminho que você escolheu.
Parabéns por mais uma vitória em sua vida, e que venham muitas outras!"