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Comportamento

Deraldo trabalhou vestido, mas povo gosta é de borracheiro sem camisa

Deraldo trabalhou vestido, mas povo gosta é de borracheiro sem camisa

Por Clayton Neves | 19/11/2025 07:22
Deraldo trabalhou vestido, mas povo gosta é de borracheiro sem camisa
Aos 67 anos, Deraldo é figura conhecida na Vila Castelo. (Foto: Juliano Almeida)

Aos 67 anos, o borracheiro Deraldo Vanelo é figura conhecida na Vila Castelo. A borracharia aberta por ele em 1978 virou o sustento da família e uma espécie de ponto de memória da região. O lugar nasceu quando tudo ali “era mato” e permanece aberto há quase 50 anos com o mesmo jeito “raiz” e sob a sombra de árvores que ele mesmo plantou.

RESUMO

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Deraldo Vanelo, 67 anos, é proprietário de uma borracharia na Vila Castelo, em Campo Grande, desde 1978. Natural de Coxim, ele chegou à capital aos 14 anos e, após o serviço militar, decidiu empreender no ramo de pneus, mesmo sem experiência prévia. O estabelecimento, que começou como um pequeno espaço na calçada, testemunhou o crescimento da região. Conhecido como "Sem Camisa", Deraldo superou desafios, incluindo um incêndio há 15 anos, e mantém o negócio no mesmo local, sob a sombra de árvores que ele próprio plantou há mais de quatro décadas.

“Quando comecei, eu não tinha dinheiro para nada. Mas nunca faltou serviço. Trabalhei no feriado, dormi aqui, ficava o fim de semana inteiro. Até morei no fundo por dois anos direto”, conta.

Natural de Coxim, Deraldo chegou a Campo Grande aos 14 anos e, depois de cumprir o serviço militar em 1977, rodou entre empregos de servente e gerente de posto. Mas foi a curiosidade que o levou à profissão. Mesmo sem ter habilidade com o conserto de pneus, decidiu comprar a borracharia desmontada de um conhecido.

Deraldo trabalhou vestido, mas povo gosta é de borracheiro sem camisa
Árvore de 40 anos foi plantada por borracheiro e hoje é ponto de sombra. (Foto: Juliano Almeida)

“Aprendi tudo na curiosidade, olhando amigos. Abri um quadradinho de madeira aqui, no cruzamento da Padre João Crippa com a João Pedro de Souza, e trabalhava na calçada mesmo. Depois de seis meses, consegui levantar a primeira pecinha de tijolo”, conta.

Quando ele chegou ao terreno, nada lembrava Campo Grande atual. Segundo Deraldo, o bairro foi crescendo pouco a pouco diante de seus olhos.

“Aqui era tudo mato. Na beira do Córrego Prosa, carro nem passava. O bairro São Bento tinha uma casinha só e prédios eram dois ou três. A região era de chão batido”, recorda o trabalhador que viu o bairro Monte Líbano crescer e as primeiras casas surgirem onde antes só havia canavial.

Mesmo com muita gente chegando e outros indo embora, a borracharia ficou exatamente onde estava desde o primeiro contrato verbal com o dono do terreno.

Deraldo trabalhou vestido, mas povo gosta é de borracheiro sem camisa
Borracharia fica no cruzamento das ruas Padre João Crippa e João Pedro de Souza. (Foto: Juliano Almeida)

Com a região movimentada, Deraldo já atendeu de médicos a políticos da cidade. Entre os conhecidos, cita nomes antigos da política local, como os ex-deputados Osvaldo Dutra, Nelson Trad Pai e o ex-prefeito Levy Dias.

Apesar disso, ele garante que o que mais aparece são motoristas desesperados e gente que estoura pneu e chega pedindo socorro. “Quando o buraco aumenta, o serviço aumenta”, brinca.

Incêndio e Recomeço - Há cerca de 15 anos, o empresário conta que precisou recomeçar o negócio do zero depois de a borracharia pegar fogo em um feriado de aniversário de Campo Grande.  Ele perdeu tudo, de máquinas de trabalho a roupas guardadas.

“O fogo começou com o vazamento de um fogareiro improvisado e foi rápido. O botijão estava cheio; ninguém chegava perto com medo de explodir. Queimou tudo”, lembra.

Deraldo trabalhou vestido, mas povo gosta é de borracheiro sem camisa
Borracharia Castelo tem 47 anos de história e faz todos serviços em pneus. (Foto: Juliano Almeida)

Sem trabalhar por 15 dias, ele achou que seria difícil recomeçar. Mas amigos ajudaram e, em duas semanas, a borracharia estava de pé novamente. “Teve gente que nem percebeu que caiu e levantou”, relata.

Até hoje, Deraldo segue na borracharia abençoada pela sombra das árvores que ele mesmo plantou. “Tem pitomba e dois oitis. Essas árvores têm mais de 40 anos, plantei tudo logo no começo”, explica.

Entre os clientes e na vizinhança, o borracheiro veterano é conhecido como “Sem Camisa”, justamente pelo jeito mais à vontade com que trabalha. “Uma vez fiz um uniforme, mas o pessoal não me reconhecia porque estava com camiseta. Depois disso, desisti de trabalhar de camisa e isso virou minha marca”, destaca.

Hoje, aos 67 anos, ele segue ali todos os dias. Chega antes das 7h, arruma as ferramentas, tira a camisa e aguarda a clientela na sombra. O terreno continua aberto, sem muros, do mesmo jeito de 1978, um ponto raro dentro da cidade que cresceu ao redor. “Tudo que eu tenho saiu daqui. Para mim, isso aqui é tudo”, finaliza.

Deraldo trabalhou vestido, mas povo gosta é de borracheiro sem camisa
Deraldo abre borracharia todos os dias às 7h. (Foto: Juliano Almeida)

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