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Comportamento

Doença fez dentista mudar de vida e largar o consultório para atender de graça

Thailla Torres | 22/01/2017 07:10
Por 8 anos, Luci levou um sorriso novo a periferia de Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)
Por 8 anos, Luci levou um sorriso novo a periferia de Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quem senta na cadeira de Luci Mara, sai de lá com sorriso novo. A dentista largou tudo para se tornar missionária e fazer atendimentos de graça na periferia de Campo Grande. Hoje, tem o dom de fazer os pacientes sorrirem com a alma.

Foi em 2008 que Luci Mara dos Santos Arruda, de 45 anos, decidiu abrir mão da estabilidade financeira, para investir tudo que tinha em uma comunidade católica na Vila Marli, região norte da cidade. A decisão, segundo ela, foi um chamado de Deus para se tornar missionária ao lado do marido Naor Antônio Santos de Arruda, de 44 anos, em um dos momentos mais delicados da vida, quando foi diagnosticada com lúpus. 

"Foi justamente a doença que me ajudou a refletir o valor da minha vida. Foi aí que pude ser mais generosa ainda", recorda.

A descoberta veio de maneira severa, depois de Luci Mara sentir muita dor. "Fique muito doente, sentia fortes dores articulares. Eu não dormia e o diagnóstico demorou a sair. Quando saiu, eu fiquei muito triste, mas não demorou muito para eu saber o que fazer".

A dentista se diz uma mulher realizada, na missão de levar atendimento humanizado aos pacientes.
A dentista se diz uma mulher realizada, na missão de levar atendimento humanizado aos pacientes.

"Vendi minha casa e o meu carro para comprar o terreno, onde construímos a sede da associação. Deixei minha vida profissional e doei meu consultório para comunidade. Durante 8 anos vivemos dessa forma, trabalhando com a evangelização e tentando oferecer um atendimento humanizado a população do bairro", conta.

O trabalho era totalmente voluntário. Apesar da mudança de vida, Luci Mara diz que ela e o marido sentiram-se realizados. "A motivação era poder doar a vida pelo outro, fazer algo ao próximo".

Na época, a única censura veio da família. "Não foi uma cobrança negativa, mas de preocupação. Principalmente meus pais que me deram a oportunidade de estudo e ser uma profissional, eles queriam saber como eu viveria e o que seria da minha profissão", conta.

A vida de Luci Mara sempre foi ligada a solidariedade. Quando conheceu o marido, os dois já atuavam como missionários. Ele é administrador e ela deixou a faculdade de Engenharia Civil para fazer Odontologia. "Mudei quando vi que precisava de uma profissão onde estivesse mais perto das pessoas e a Odontologia dá essa oportunidade de escutar, tratar o paciente e as vezes oferecer apenas uma palavra de carinho. Tem pacientes que sentam na cadeira e abrem o coração pra gente".

Depois de 8 anos atendendo de graça e com todo investimento que tinham, o projeto de Luci Mara ganhou parcerias para que continuassem o tratamento de pacientes. "Hoje fechamos um convênio com a Prefeitura, mas nada é cobrado do paciente. Todo mundo recebe o atendimento de graça e todos os dias. A ideia é oferecer um atendimento humanizado e que daqui a gente possa dar encaminhamentos para especialidades que nós não fazemos", explica. 

Luci Mara ao lado da assistente na Associação Católica da Vila Marli.
Luci Mara ao lado da assistente na Associação Católica da Vila Marli.

O retorno é um sorriso carinhoso que Luci Mara leva no fim do trabalho todos os dias. "As pessoas sentem a dignidade e o respeito. Cadeira de dentista sempre foi um lugar de muitos medos. Aqui eu faço um trabalho com calma, para que os pacientes possam ir criando confiança e percam o medo de serem atendidos", diz.

E as mudanças vieram para somar na felicidade dela. "Sou uma pessoa muito diferente, eu sinto que nesse tempo que eu me dedico aqui, deixei de ser voltada só para para mim e ofereço o que tenho de melhor para as pessoas. Entreguei minha juventude a um sonho e posso dizer que sou uma pessoa realizada. Tive a oportunidade de viver essa totalidade".

Luci Mara aprendeu a ver o lado bom das coisas e acredita que se não tivesse encarado a mudança, talvez o único sentimento seria a frustração. "Se eu não tivesse vivido isso, tudo seria uma grande frustração. Porque a vida é assim, a gente vai se deparar com a morte e as perdas, mas é preciso se conhecer e entender a importância que você tem na vida", acredita. 

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