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Comportamento

Duas semanas depois, a causa da morte de esposa é "indiferente" diante da fé

Paula Maciulevicius | 16/10/2015 06:24
Douglas e Benjamim, marido e filho da jornalista Priscilla Sampaio. (Foto: Beto Nascimento)
Douglas e Benjamim, marido e filho da jornalista Priscilla Sampaio. (Foto: Beto Nascimento)

Duas semanas já se passaram e há quatro dias que Douglas e Benjamim voltaram para casa. A vida está começando a se encaixar na rotina de antes, aquela que ficou na memória até Priscilla dar entrada no hospital. Foram oito anos de namoro, mais três de casados, um filho e a morte que chegou em dois dias. Marido da jornalista Priscilla Sampaio, Douglas de Moraes Fernandes tem esperança e é em Deus que diz estar superando. 

A conversa que se tornou despedida, antes da Priscilla entrar no CTI, se resume a palavras de quem acreditou desde aquele instante que tudo passaria. "Eu falei para ela: Pri, vamos acreditar, a gente não sabe o que é, mas você vai ser medicada. Pensamento positivo que vai dar tudo certo, e foi isso. Encaminharam ela, eu tive que sair..." 

Saber a causa, o motivo, a razão, Douglas não sabe até agora. As hipóteses de todos os tipos de Influenza, H1N1, pneumonia, lupus e doenças autoimunes foram descartadas.

Priscilla morreu dia 30 de setembro, depois de 2 dias internada. (Foto: Arquivo Pessoal)
Priscilla morreu dia 30 de setembro, depois de 2 dias internada. (Foto: Arquivo Pessoal)

Priscilla e Douglas namoraram por oito anos, se aproximaram quando os dois faziam estágio, ela em Jornalismo e ele em Rádio e TV. O casamento havia recém completado três anos e há pouco mais de 1, eles tinham sido presenteados com o menino Benjamim que continua a sorrir como nas fotos.

Ao falar sobre a retomada da vida, Douglas relata a surpresa pela repercussão. Justificada pela atuação de Priscilla frente às câmeras da TV Morena, pelos joelhos dobrados na Primeira Igreja Batista e pela voz suave que entoou tantos casamentos.

Douglas tem 33 anos, é gerente de vendas de uma imobiliária. Priscilla tinha 32. Fazia pouco mais de uma semana que o casal mais o filho tinham voltado da viagem de férias em Sergipe, onde Priscilla havia ido visitar uma amiga. Às vésperas de voltar a trabalhar, o marido conta que ela aproveitou os últimos dias de folga para visitar amigos. Na primeira semana de férias, a jornalista já havia feito todos os exames médicos de rotina.

No hospital - Da internação, Douglas se lembra de detalhes, apesar de ter sido tudo muito rápido. Como de costume, o casal revezava o almoço dos finais de semana na casa dos sogros. Ora de um, ora de outro. No domingo, dia 27, ela tinha ido para a sogra. "Passou o domingo normalmente, com a gente, brincando, conversando, não reclamou de nada. Apenas de uma indisposição, que talvez fosse a enxaqueca dela, mas nada que desconfiasse que ela ia passar por isso", relembra Douglas.

A fé que levanta Douglas é a mesma que ele propaga na entrevista. (Foto: Marcos Ermínio)
A fé que levanta Douglas é a mesma que ele propaga na entrevista. (Foto: Marcos Ermínio)

Na segunda de manhã, dia 28, antes de deixar Benjamim na escola, o marido ouviu dela que lhe faltava ar e o pedido para ir ao médico. "Ela chegou consciente, normal, mas já na primeira triagem que ela passou, eles já falaram que era emergência o caso dela e até ela se assustou", narra.

Com o raio-x do pulmão em mãos, Douglas repete o que ouviu do médico: "Vamos te internar, você está com alguma coisa importante no pulmão, foram as essas as palavras, e a gente vai ver o que que é. Nesse momento ela já foi para o CTI, coma induzido e dois dias depois ela faleceu".

O quadro clínico passado pelos médicos nunca apresentou melhora, mas talvez para poupar a família, como crê Douglas, eles também não diziam o quanto ela estava piorando. O organismo de Priscilla não reagia como os médicos gostariam e esperavam. No dia que antecedeu a morte, as visitas da tarde e da noite já tinha sido suspensas. "Aí eu vi que a coisa estava muito grave mesmo". À 1h30 da manhã do dia 30, uma quarta-feira, Priscilla não resistiu. 

Naquela noite o marido diz ter orado pedindo a Deus para entender. Foi isso que trouxe o que ele define como discernimento e paz, de que realmente havia chegado a hora dela. "Quando eu recebi a notícia, pensei assim: aconteceu. Não tive muita reação, não desesperei, não chorei de imediato. Entendi que infelizmente ela não conseguiu".

Sobre acreditar que tudo isso se passou há 15 dias e dentro da casa dele, Douglas diz que no coração ainda sente paz, apesar de tudo. "Deus tinha me confortado nesse sentido, a hora dela tinha chegado. A gente às vezes não procura questionar as coisas de Deus, simplesmente aceita. Acredito que o me manteve mais firme foi, realmente, a fé em Deus. 

A única forma de saber o que levou Priscilla seria a realização da autópsia, não autorizada pela família. "A gente achava que não ia ter necessidade e no calor da emoção, de querer acabar tudo logo, achei que seria demorado o exame e eu queria fazer logo a despedida dela". 

Nem com o avanço da Medicina e da tecnologia, a família ainda não teve respostas. O marido nem as procura mais. "Agora é indiferente, porque a gente fica com uma questão: pode acontecer com qualquer um de nós. De repente eu precisava descobrir para saber onde foi, o que foi, mas depois de você pensar... Quer saber? É indiferente. Não importa mais, para mim é mais uma prova de que foi a mão de Deus fazendo tudo isso". 

O beijo no filho, às vésperas do primeiro aninho do bebê. (Foto: Beto Nascimento)
O beijo no filho, às vésperas do primeiro aninho do bebê. (Foto: Beto Nascimento)

Se Benjamim sente a falta da mãe? Sente, mas está bem. O pai descreve que o amor em dobro recebido pelos amigos são o suporte. "Ele não entende o que aconteceu, sente a falta da mãe dele, mas é uma criança normal, alegre, tranquila, contente", descreve. Benjamin passa o dia na escolinha e à noite encontra o carinho do pai. 

"A nossa responsabilidade é, quando ele tiver entendimento, passar o que aconteceu. A verdade para ele, de que isso está sujeito na vida de todo mundo. Não gostaria de dizer que a mãe virou estrela, nada disso e sim que a morte existe, a mãe dele morreu, mas pode acontecer com qualquer um".

Em pé - Se é a fé que tem levantado Douglas, ele diz que sinceramente é Deus, somente Deus. "Quando a gente tem um entendimento do caráter de Deus, tem facilidade na sabedoria de Deus de encarar as coisas que na nossa mente humana seríamos incapazes. Realmente a nossa esperança está em Deus, porque se colocar no nosso braço, corre o risco de procurar como esquecer, as fugas e é a esperança que conforta.

Para Douglas, Deus continua mostrando amor através do carinho dos amigos. "O propósito de Deus foi esse. Poderiam ter sido 50, 60, 70 anos de casados, mas foram três e tanto eu quanto ela, a gente estava com a cabeça voltada para essas coisas, que realmente a gente acha que importa". 

Benjamim está com ele, mora com ele, vai ficar com ele. Os 10 dias que se passaram longe de casa foram a fase de aproveitar o cuidado dispensado pelos amigos. "Sinto que isso vai passar, para as pessoas que não estão tão envolvidas e a gente vai continuar a vida. A gente tem esperança em Deus e a cada dia, vai superando". 

 

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"O propósito de Deus foi esse. Poderiam ter sido 50, 60, 70 anos de casados, mas foram três e tanto eu quanto ela, a gente estava com a cabeça voltada para essas coisas, que realmente a gente acha que importa". (Foto: Beto Nascimento)
"O propósito de Deus foi esse. Poderiam ter sido 50, 60, 70 anos de casados, mas foram três e tanto eu quanto ela, a gente estava com a cabeça voltada para essas coisas, que realmente a gente acha que importa". (Foto: Beto Nascimento)
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