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Comportamento

Eleição revela dentro de casa pessoas que você realmente não conhecia

Extremismo fica explícito em grupos da família no Whatsapp, briga corre solta por causa do voto entre pais e filhos

Thaís Pimenta | 17/09/2018 08:29
No grupo da família, preferências políticas são assunto constante e causam atrito a cada postagem. (foto: Thaís Pimenta)
No grupo da família, preferências políticas são assunto constante e causam atrito a cada postagem. (foto: Thaís Pimenta)

O momento é delicado, a disputa é acirrada e qualquer palavra errada pode abalar um relacionamento por conta das preferências políticas. Fim de amizades nas redes sociais já é clichê de eleição. Mas o complicado é perceber que a vida toda você conviveu com pessoas na família que só agora se revelam, tanto para a extrema direita, como para a esquerda radical. A coisa começa a ruir quando o extremismo é defendido com unhas e dentes pelos pais, mães ou irmãos, e tem gente que deixa de se falar para evitar atritos mais graves dentro de casa.

A estudante Sarah Tavares de Oliveira, de 18 anos, é negra e ficou surpresa ao descobrir dentro de casa a defesa de um candidato que já teve demonstrações públicas de racismo. Mesmo assim, ela tem tentado convencer sua mãe a votar em outro candidato, mas foi com seu irmão que Sarah realmente teve problemas.

"Eu fiquei 9 meses sem falar com meu irmão mais velho, que é eleitor do Bolsonaro, porque eu não aceitava ele reproduzir o machismo dele e tentar converter minha mãe para os pensamentos dele. Em relação a minha mãe, agora perto das eleições, estamos nos divergindo, por eu ser negra e me posicionar forte em relação ao racismo e toda problemática disso, não aceito muito o fato de ela defender ele, apesar de falar que não vai votar nele, as atitudes demonstram outra coisa", diz ela.

Mesmo assim, o amor prevalece, todos os dias, mesmo com as diferenças políticas. "Minha mãe sempre foi mais indecisa e fácil de manipular, por conta da vivência, falta de instrução, e se eu não ficar ali apresentando fatos com base concreta, ela é fácil de 'se deixar levar' por conta da construção da igreja também".

Já Elisandra Guimarães soube do voto da família só depois de posts nas redes sociais, o que foi "chocante", diz ela. Como filha, também diz ter ficado decepcionada ao descobrir que o pai votaria no candidato de extrema direita. "Meu pai foi e compartilhou no Facebook dele um vídeo do cara, fui lá e comentei que não acreditava que ele estava apoiando este ser, e disse estar extremamente decepcionada com ele", comenta.

Para ela, o papo é decepcionante, porque foi uma surpresa desagradável descobrir um pai preconceituoso. "Ele sempre foi na dele, mas parece que basta um empurrãozinho para a pessoa se mostrar quem realmente é. Cada vez mais eu acredito nisso, de que a gente está votando em nós mesmos, em políticos com os nossos ideais, por isso dói muito. Não é só política, é comportamento e caráter".

Como não podia deixar de ser, é não grupo da família que o atrito começa a ficar desconfortável. A estudante de moda Karina Ribeiro brigou com a madrasta por conta de conteúdo veiculado nas conversas do WhatsApp e, mais ainda, por causa das fakenews divulgadas por ela.

"Ela ficava me mandando WhatsApp fakenews e tive que enviar uma mensagem pedindo para que não mandasse mais. Mesmo assim ela continuou, então tive que mandar outra bem ríspida para ela, dizendo que se ela não parasse eu ia bloquear o número dela, só assim para ela parar e me pedir desculpas. É chato demais, eu não faço isso com ninguém".

A jornalista Luciana Petelinkar teve de deixar de seguir seus familiares, inclusive seu pai e sua mãe, para evitar estresse. "Já conversei, argumentei a respeito, mas vi que não adianta. Então hoje minha estratégia é evitar o assunto, especialmente, pessoalmente, porque acho que não vale criar uma crise familiar por conta de política, é minha opinião. O grupo da família a gente silencia, porque sou minoria, e não estou afim de me estressar por isso".

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