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Comportamento

Eles mal casaram, são super jovens, mas já decidiram que querem adotar

Uns dos casais mais jovens do curso de adoção, Gabriela e Felipe conta como foi assumir a responsabilidade de dividir amor

Alana Portela | 18/09/2019 09:58
O casal, Gabriela Marcelino Martins e Felipe Inocência Marcelino querem construir uma família (Foto: Alana Portela)
O casal, Gabriela Marcelino Martins e Felipe Inocência Marcelino querem construir uma família (Foto: Alana Portela)

Aos 24 anos, Gabriela Marcelino Martins e Felipe Inocência Marcelino sonham construir uma família mas recorrendo à adoção. "É algo natural que queremos. Sempre tivemos vontade de ter uma família grande, mas não sabíamos se teríamos o biológico ou adotaríamos primeiro. Entretanto, agora já não importa a ordem”, explica ele.

Felipe é militar do Exército e Gabriela estudante. Casados há apenas um ano e meio, além de resolverem adotar tão cedo, eles também preferem dar chance as mais de sete mil crianças acima de 8 anos que vivem em abrigos. “Quando comecei a me interessar pela adoção, pesquisei o assunto e soube desse cenário que tem várias crianças a espera da adoção, mas não tem pais que querem adotar essa faixa. Não faz sentido entrar numa fila, sendo que tem criança precisando de pais”, avalia Gabriela.

Os dois participam da oficina de SNA (Sistema de Adoção e de Acolhimento), que ocorre nesta semana, no Fórum Cívil e Criminal da Capital. O curso continua até sexta-feira (20) e prepara os futuros pais. "Acredito que depois daqui vamos estar habilitados para começar o processo e após, estaremos aptos a adoção", comemora Gabriela. 

Quem também sonha em multiplicar o amor é Anielle Matos e Camila Barbosa. Elas estão juntas há três anos e sempre conversaram sobre adoção e filhos. “Sempre quis ser mãe nova. A intenção é ter família grande e aumentar o nosso amor que não cabe na gente", lembra Anielle.

Ela é tatuadora, e aos 29 anos já tem certeza do desejo de adotar, apesar de também ter a possibilidade de filhos biológicos, por inseminação artificial. “Temos esse propósito de ter um bebê gerado, mas também queremos a adoção tardia", diz, animada para apresentar a papelada e dar inicio ao processo assim que o curso terminar.

O casal Anielle Matos de blusa amarela e a companheira Camila Barbosa também planejam adotar. (Foto: Alana Portela)
O casal Anielle Matos de blusa amarela e a companheira Camila Barbosa também planejam adotar. (Foto: Alana Portela)

O professor, Ronaldo Garcia, 50, contou sobre o desejo de adotar uma criança nessa faixa etária. Ele e a esposa vêm conversando há alguns meses sobre o assunto, pois têm um filho de 7 anos em casa, que precisa de um irmãozinho para fazer companhia nas brincadeiras e aprendizados. “Sentimos essa necessidade de crescer. Conversando muito, inclusive o nosso filho está sempre junto, com opiniões. Estamos aprendendo, tem algumas informações importantes que auxiliam bastante antes da adoção, como vínculo e as reações das adoções tardias".

Ele está casado há 12 anos e não havia pensado em adoção antes. "Isso partiu da minha esposa, mas passei a ver a adoção com outros olhos. Podemos ter filhos, porém estamos sempre abertos. A possibilidade de adoção não é uma questão de tirar alguém da rua, é uma opção própria, pensamos de outra maneira. Todo filho é do coração e vamos amá-lo", frisou.

A juíza da vara da Infância, Adolescência e do Idoso, Katy Braun falou sobre as dificuldades de adoção (Foto: Alana Portela)
A juíza da vara da Infância, Adolescência e do Idoso, Katy Braun falou sobre as dificuldades de adoção (Foto: Alana Portela)
Ronaldo Garcia é professor e contou que vem conversando com a esposa sobre adoção, pois planejam aumentar a família (Foto: Alana Portela)
Ronaldo Garcia é professor e contou que vem conversando com a esposa sobre adoção, pois planejam aumentar a família (Foto: Alana Portela)

Curso - A proposta fa oficina é fazer a fila da adoção andar. A juíza da Vara da Infância, Adolescência e do Idoso, Katy Braun comentou sobre as dificuldades da adoção de crianças a partir dos 8 anos, irmãos e crianças especiais. “A maioria ainda quer adotar bebês, pois deseja passar todas as fases ao lado do filho. Existe o preconceito, algumas famílias são deixadas pra trás porque querem meninas brancas, mas temos meninos e meninas de outras cores. Alguns acham que depois de certa idade não consegue transmitir seu valor a criança”, disse.

Outro desafio enfrentado é a separação de irmãos na hora de adotar. “Querem um filho de cada vez, mesmo que tenha de voltar pra fila. A ideia é que os que desejam ter família grande receba um grupo de irmãos de uma vez só. A lei diz que não devemos separá-los, pois já perderam a referência dos pais e estão no acolhimento. É uma crueldade contra eles a separação para atender a vontade de quem quer adotar. Procuramos esses adotantes sensíveis”, destacou.

As crianças especiais requerem pretendentes especiais, pois exigem cuidados. “É mais investimento na saúde porque precisam de tratamentos. Necessita de dedicação intensa dos pais, que não sabem as reais dificuldades dos filhos. Tem que ser adotantes com capacidade de dar o seu amor sem esperar retorno”.

Katy trabalha na área há 12 anos e relatou que é difícil para a criança que passa a vida no abrigo e não consegue ser adotada. “São preparadas para ter uma vida autônoma. Aos 18 anos tem que estar trabalhando, ganhando um salário para se sustentar e sair do abrigo. Com o dinheiro deve pagar o aluguel. Dificilmente alguém da nossa família com essa idade tem essa capacidade, mas a sociedade espera essa responsabilidade deles”.

Os casais assistindo a palestra do psiquiatra, Rodrigo Abido durante a oficina (Foto: Alana Portela)
Os casais assistindo a palestra do psiquiatra, Rodrigo Abido durante a oficina (Foto: Alana Portela)

O psiquiatra, Rodrigo Abido palestrou no evento sobre as dificuldades dos casais de aceitarem as crianças como são. “Capacidade de aceitar a criança como ela é mesmo que não melhore. Uma criança com síndrome de Down tem limitações, mas legal mostrar o outro lado para os futuros pais. O deficiente pode ser eficiente, depende do diagnóstico precoce. Todo filho tem que ser afetivamente adotado”.

Ele explicou que as crianças não vêm com um manual de instrução e que falou sobre o relacionamento que os adultos devem ter, pois os menores em adoção sofrem com a situação de abandono. “Tem pais que não deram conta de cuidar daquela criança e entregou o bebê para adoção, esse sentimento tem que saber que uma hora volta, principalmente na fase da adolescência. Mas não são apenas os adotados que sofrem as marcas do abandono”, afirmou.

Rodrigo comentou sobre os transtornos e problemas de saúde que surgem em crianças que estão no abrigo. Falou do vínculo e estilo de personalidade. “Tem o vínculo da resistência, rejeição do conforto quando oferecido, hipervigilância crônica, ansiedade”. “Essas crianças são reativas às simples frustrações do cotidiano e demoram mais tempo para adaptarem-se às crises normais do desenvolvimento”.

A psicóloga, Lydia Pellat foi uma das fundadoras do “Grupo de Estudos e Apoio de Adoção Vida” há 11 anos. A equipe nasceu para falar sobre adoção e reunir os interessados para discutir o tema. “É um trabalho voluntário e realizamos dois encontros. O primeiro é o ‘pré-adoção’ que acontece na terceira sexta de cada mês para falar sobre os anseios as pessoas que desejam adotar. O segundo é o ‘pós-adoção’ onde trocamos experiência e dificuldades entre os pais”.

Preparação - Os participantes ganham um certificado e ao fim de cada palestra preenchem um questionário sobre adoção. Somente após concluir essa etapa que poderão dar continuidade na ideia de adotar um novo membro na família. 

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Os casais interessados em adotar participaram da oficina no plenário do Fórum (Foto: Alana Portela)
Os casais interessados em adotar participaram da oficina no plenário do Fórum (Foto: Alana Portela)
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