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Comportamento

Com dó da situação financeira do Papai Noel, Erika troca bicicleta por panela

Com Lúpus, menina espera um transplante de rim e agora também faz presépios pensando em ajudar nas contas dos pais

Thailla Torres | 22/11/2017 08:00
No CTI, Erika se dedica a colorir caixas de sapato para fazer presépios. (Foto: Marcos Ermínio)
No CTI, Erika se dedica a colorir caixas de sapato para fazer presépios. (Foto: Marcos Ermínio)

Na carta endereçada ao Papai Noel, Erika, uma garota de 9 anos, abre o texto agradecendo ao bom velhinho por existir no Natal. Na sequência, ela diz que é de Corumbá, interior de Mato Grosso do Sul, mas está na Capital para tratamento contra o Lúpus e na esperança da cura com transplante de rim.

Na hora de pedir algo, ela pensa na vida financeira do Bom Velhinho e, no lugar de sugerir o que realmente queria, uma bicicleta, fala de algo bem mais simples. "Estou me recuperando e, logo logo, vão dar alta pra mim. Gostaria de pedir um brinquedo pro senhor. Seria um jogo de panela, muito obrigada meu querido Papai Noel", escreveu, à mão, com lápis.

Erika Monique Sena é uma das crianças internadas no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do Hospital Universitário. Em agosto os médicos descobriram o Lúpus, uma doença que não tem cura e que pode afetar de forma severa órgãos e células sanguíneas.

Ela escreveu à mão, com toda simplicidade.
Ela escreveu à mão, com toda simplicidade.

A menina que deixou de lado a bicicleta, pede para si uma panela por achar que Noel está em situação semelhante a do pai, que vem contando as economias para ficar em Campo Grande pelo seu tratamento. "Eu pedi a panela porque acho que ele [Papai Noel] não vai ter como pagar", justifica.

Erika acrescenta que não importa o valor, a felicidade é a mesma no pedido simples. "Eu também gosto de cozinhar, eu sempre ajudo minha mãe na cozinha", justifica.

O pedido é capaz de tirar o fôlego do pai, que em voz tímida, se emociona. "Ela é muito especial. Entende que as coisas não estão fáceis. Por isso, lá em Corumbá, ela ainda não tem uma bicicleta", explica o pedreiro Eder Sena da Siva, de 36 anos.

O pai precisou deixar o serviço e os estudos há dois meses, desde que Erika foi internada no hospital. Ela chegou em Campo Grande com fortes dores e inchaço, devido a problemas renais, em decorrência do Lupús. "Viemos às pressas, a barriguinha dela estava enorme, eu entrei em desespero. Não gosto nem de falar, mas cheguei a pensar que algo pior aconteceria", narra.

Além do artesanato, a menina adora palavras cruzadas. (Foto: Marcos Ermínio)
Além do artesanato, a menina adora palavras cruzadas. (Foto: Marcos Ermínio)

Mas quem chega ao CTI, encontra uma menininha que é a alegria em pessoa. Erika passa uma esperança que fortalece a família. A pouca idade não permite que ela compreenda o que é a doença, mas por outro lado, a ingenuidade colore a vida dentro do hospital.

Há dois meses ela passa os dias a colorir caixas de sapato e produzir presépios. A atividade faz parte das horas de terapia ocupacional na ala pediátrica, que acabou despertando o lado empreendedor de Erika. "Eu cheguei aqui e ela me disse: pai você não vai ficar bravo, eu vendi um presépio", conta Eder.

A menina pediu R$ 30,00 pela obra de arte que foi comprada por um enfermeiro. Outra peça já está pronta e agora só resta um à venda. "Se alguém comprar, pode buscar", oferece.

Eder sabe a importância que o gesto tem. "Eu deixo porque ela fica feliz e isso tudo não é um momento fácil. Ela precisou deixar a escola, a família e os amiguinhos. Eu também deixei o trabalho, o EJA e a mãe dela está aqui cuidando do irmãozinho mais novo só para ficar perto. Mas não importa o que a gente deixou pra trás, agora o que importa é ela".

O pai não pede nenhuma doação para a filha, apesar de admitir as dificuldades. "Estamos nos mantendo com o dinheiro que eu guardei do antigo emprego. Até quando? Eu não sei".

Erika está fazendo hemodiálise 3 vezes por semana e por enquanto não há previsão de alta. O pai é quem passa maior parte do tempo ao seu lado, sem sair do hospital. As horas de sono têm sido em uma poltrona, que fica ao lado da cama, para não deixar Erika sozinha. "O restante da família está em Corumbá torcendo muito por ela. Então, só tem eu e a mãe para cuidar dela".

A menina que sonha em ser marinheira, além de fazer os presépios, passa o tempo com palavras cruzadas e um cubo mágico nas mãos. Depois de dar entrevista sobre a cartinha ao Papai Noel e suas obras de arte, surgiram novos pedidos dentro do hospital, mas como a terapia ocupacional tem função terapêutica destinada a recuperação da menininha, talvez não será possível fazer tantos presépios dentro do hospital.

Porém, um deles continua disponível por um valor simbólico diante da necessidade. Quem quiser atender ao pedido da cartinha ou ajudar comprando o presépio, pode entrar em contato com o pai de Erika pelo telefone: (67) 99823-2698. 

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A pouca idade não permite que a menina compreenda o que é a doença, mas por outro lado, a ingenuidade colore a vida dentro do hospital. (Foto: Marcos Ermínio)
A pouca idade não permite que a menina compreenda o que é a doença, mas por outro lado, a ingenuidade colore a vida dentro do hospital. (Foto: Marcos Ermínio)
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