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Comportamento

Escola suportou guerra, teve parte da história queimada, mas chegou aos 100 anos

Lugar surgiu para receber imigrantes japoneses e ainda preserva muita tradição daquele tempo

Thaís Pimenta | 22/02/2018 07:54
Fachada da Escola no passado. Nessa época, ela já estava no terreno onde hoje é a Associação Nipo. (foto: Paulo Francis)
Fachada da Escola no passado. Nessa época, ela já estava no terreno onde hoje é a Associação Nipo. (foto: Paulo Francis)

Não tem como falar da escola Visconde de Cairu sem pensar em tradição. São 100 anos de história em Campo Grande, educando gerações de descendentes de japoneses e também de brasileiros, no Ensino Infantil e Fundamental.

Entrar ali é voltar um pouco no tempo, vendo os alunos com aqueles uniformes de saia plissada e short azul marinho, que até hoje são a única “propaganda” da instituição que comemora o centenário no dia 18 de agosto de 2018.

O colégio fica na Antônio Maria Coelho, ao lado da Associação Nipo Brasileira, que banca financeiramente a escola. Relativamente pequena, com cerca de 250 alunos, a escola carrega muito da história de Campo Grande e dos imigrantes japoneses, especialmente de Okinawa, que escolheram a Capital de Mato Grosso do Sul para ganhar dinheiro.

O uniforme continua sendo obrigatório para alunos até o 2º ano. (Foto:  Paulo Francis)
O uniforme continua sendo obrigatório para alunos até o 2º ano. (Foto: Paulo Francis)

Em 1918, os imigrantes que desembarcavam por aqui sentiram a necessidade de criar o que, naquela época, era só uma sala de aula, instalada no bairro Amambai, na região conhecida por Chacrinha.

Com cada vez mais japoneses chegando, foi preciso de uma sede maior, e a estrutura mudou para onde hoje está a Associação, mas ainda era uma casa de alvenaria que tinha capacidade para receber só 30 alunos.

A atual diretoria da escola, Joelma Maria do Nascimento, é a segunda brasileira a comandar a instituição durante 100 anos. Ela lembra que em 1925, o colégio passou a se chamar “Escola Japonesa” e, dois anos depois, foi rebatizado com o nome do diplomata, advogado e político do século 18, Visconde de Cairu. Só em 1936 o terreno onde funciona a escola, ao lado da Nipo, foi comprado, com uma ajuda e tanto. “O governo japonês auxiliou na compra da área”, disse ela.

Escola em 1951, sua fachada, que já passou por diversas modificações. (Foto: Paulo Francis)
Escola em 1951, sua fachada, que já passou por diversas modificações. (Foto: Paulo Francis)

Um dos momentos mais marcantes para a centenária instituição de ensino aconteceu durante a ditadura de Getúlio Vargas e a 2ª Guerra Mundial. O Japão não era aliado do Brasil e, cercados de dúvidas e inseguranças, a escola viveu uma das piores perseguições pela cidade. Segundo Joelma, o governo brasileiro queimou os documentos e registros históricos existentes desde o início dessa trajetória. “Tanto é que nosso acervo começa a partir de 1932”.

O primeiro diretor brasileiro da Visconde de Cairu foi de total importância naquele momento, era o professor de português Luis Alexandre. Numa tentativa desesperada de manter a escola em pé, ele passou todas as instalações para o seu nome e, ao final da guerra, devolveu tudo para a colônia japonesa. “Houve muito medo de que a escola fosse confiscada naquela época. Se não fosse por ele, talvez isso que nós vemos hoje nem existisse mais”.

Joelma é a quinta diretora durante os cem anos de escola. (Foto: Thaís Pimenta)
Joelma é a quinta diretora durante os cem anos de escola. (Foto: Thaís Pimenta)

Outro fato curioso é que, mesmo com tanto tempo de existência, a Visconde contou apenas com cinco diretores. Quem ficou por mais tempo a frente da instituição foi Alice Uehara, que esteve no cargo por 44 anos. A penúltima diretora, Luiza Kinoshita,  ocupou o cargo por 6 anos e teve o papel de implementar o fundamental II. Joelma, a atual professora a assumir o cargo desde 2010, diz que pegou a escola em uma crise. “A gente tinha poucas mudanças na estrutura de ensino, isso acabou afastando muitos alunos”, diz.

Com todo cuidado, a passos lentos, Joelma conseguiu que tradição e atualização andassem juntos. “Hoje nossos alunos são metade brasileiros, metade descendentes e, as famílias desses descendentes, são exigentes em relação a manter os costumes. Tive que fazer pequenas mudanças até conseguirmos atingir o padrão em que estamos hoje”.

Uma turminha do passado, em frente à atual fachada, que se mantem. (Foto: Paulo Francis)
Uma turminha do passado, em frente à atual fachada, que se mantem. (Foto: Paulo Francis)

Uma sala de computação foi instalada na sede da escola, junto a sala de projeção. O Visconde de Cairu também ampliou suas turmas. “Antes tínhamos estrutura para alunos até a 4ª. Há 14 anos isso mudou, e recebemos pré-adolescentes do 6º ao 9º ano e eles conseguem completar todo o Ensino Fundamental conosco”.

As aulas extras, como de xadrez, futsal e dança são outros atrativos. “Temos os projetos interdisciplinares. Neles, os alunos reúnem uma série de informações sobre o tema desejado e apresentam esses trabalhos em uma Feira no fim do ano, é muito especial”.

Ainda segundo a diretora, a excelência no ensino nunca caiu de qualidade. Nem ela e nem os uniformes para os alunos até o 2º ano. “Nossas crianças saem daqui sendo disputadas por colégios de Ensino Médio porque levam consigo uma base de educação incrível”.

Em comemoração ao centenário, uma grande festa está marcada para acontecer em outubro, do dia 20 ao dia 27 do mês. A abertura das celebrações deve reunir os alunos que já passaram pela instituição, além de importantes nomes da comunidade japonesa, em uma solenidade na Sede Campo da Associação.

"Nos dias seguintes, queremos realizar a nossa Feira anual mas com temática sobre a escola. Queremos que cada aluno conte um pouco dessa história em uma trajetória de linha do tempo", completa Joelma.

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Do passado para o presente, a escola manteve sua excelência de ensino, aumentou sua capacidade e atendeu também a brasileiros. (foto: Paulo Francis)
Do passado para o presente, a escola manteve sua excelência de ensino, aumentou sua capacidade e atendeu também a brasileiros. (foto: Paulo Francis)
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