'Escuta o coração dele': viúva casou com homem que herdou órgão do ex

Quem olha o casal Celeidino Vieira Fernandes, de 65 anos, e Leila de Oliveira Mendes, de 51, não imagina a história improvável por trás dos 24 anos de casamento. Isso porque Leila se casou com a pessoa que recebeu o coração do ex-marido. Calma, vamos explicar essa história. Ao Lado B, o casal contou exatamente como tudo aconteceu e como lida com os comentários maldosos.

Há quase 26 anos, Celeidino morava em Campo Grande e foi diagnosticado com uma doença cardíaca que exigia um transplante. Do outro lado da história estava Leila, casada até então com Ademilson Souza Batista.

O casamento era feliz e vinha desde a adolescência, até que uma tragédia separou os dois. Ademilson foi atingido por um tiro na cabeça e teve morte encefálica em setembro de 1998. Foi quando Celeidino recebeu o coração do ex-marido de Leila, hoje sua esposa.

Depois da cirurgia, Celeidino estava decidido a encontrar quem havia salvo a sua vida. Conseguiu o telefone da família do doador, já que na época ainda não existia a proteção de dados como hoje. Um ano depois, lá estava ele batendo no portão de Leila.

“Abracei ela e falei: ‘escuta aqui o  coração dele, o coração do teu marido’. Ela ficou meio assustada, triste e feliz ao mesmo tempo”, conta. Para ele, os comentários maldosos sobre o caso não afetam em nada a relação.

“Pra mim é uma piada, nem ligo. O importante é ser feliz e a gente é muito feliz junto. Isso é o exemplo de que o amor é possível. Ela me conquistou por sua garra, determinação e honestidade, além dos filhos, que amei logo que conheci. A amizade foi virando amor”.

Aquilo que Celeidino falou pegou Leila de surpresa, mas ele insistiu em manter contato e ela acabou o conhecendo melhor. O namoro começou quase um ano depois. “É uma história inusitada, mas é verídica. No dia a dia, a gente não se lembra muito disso. Somos um casal comum. Foi uma coincidência e, na época, encaramos de forma normal”.

Na hora da conquista, até os filhos de Leila entraram na jogada, apoiando o relacionamento da mãe com o padrasto.

“Ele conquistou meus filhos e ficaram fazendo campanha pra eu namorar ele. No início, eu tinha uma restrição de me aproximar, achava que era pecado. Um dia, nós nos despedimos com um beijo que, sem querer, pegou nos lábios. Fiquei pensando por quatro dias. Mas vou falar: se existe um amor perfeito, é esse”, disse Leila.

Logo aconteceu o pedido para que Leila se mudasse para Jardim com Celeidino. Devido ao transplante, ele precisava de um lugar mais tranquilo e encontrou na cidade, a 239 quilômetros da Capital.

“Em Campo Grande era difícil arrumar amizade e, às vezes, no domingo ia lá na casa dela. Começamos a namorar depois de muito tempo, eu na minha casa e ela na dela. Então mudei para Jardim e ela veio”.

Antes do transplante, a expectativa de vida de Celeidino era de apenas seis meses. Com a doação do ex-marido de Leila, cinco pessoas puderam ter uma chance de vida. Ela conta que, no início, era contra a doação dos órgãos do então marido, mas que, sem imaginar, ele autorizou uma vez enquanto fazia um RG.

“Tomei essa decisão no hospital, quando a equipe de acolhimento disse que poderia salvar um pouco dele, que o Ademilson poderia viver em outra pessoa. Só não sabia que poderia ser ele”.

Ela acrescenta que os dois são religiosos e acreditam estar com alguma missão juntos.

“Somos religiosos e acreditamos que estávamos predestinados. Temos convicção de que somos companheiros de jornada. Ele não tinha problema no casamento passado, eu casei com meu primeiro namorado, tinha uma vida bacana e, de repente, uma tragédia... e estamos juntos. Devemos ter alguma missão juntos. No meio de tanta desgraça, isso é uma coisa que inspira”.

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