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Comportamento

Filho partiu, mas deixou escrito desejo de super festa para a mãe aos 90 anos

Aos 90 anos, ela encerra cada frase com uma gargalhada e diz que sua alma nunca teve tempo de envelhecer

Thailla Torres | 22/03/2019 06:44
Elza comemorou 90 anos de vida no último sábado. (Foto: Eternize Momentos Foto e Vídeo)
Elza comemorou 90 anos de vida no último sábado. (Foto: Eternize Momentos Foto e Vídeo)

Simpática desde o primeiro “oi”, dona Elza Dória faz jus a fama que ganhou dos amigos de ser uma pessoa feliz. Aos 90 anos, ela encerra cada frase com uma gargalhada e diz que sua alma nunca teve tempo de envelhecer. O que levou a pecuarista a protagonizar uma festa de aniversário daquelas, no último fim de semana, depois de um pedido irrecusável do filho que partiu.

Nas fotografias, o sorriso e o ânimo de Elza são inspiração para qualquer um. Hoje, ela quase não sai de casa, mas faz exercícios, cuida da alimentação, é bem cuidada e recebe carinho diário de todos os netos. É a “bivó” mais amada da cidade classifica orgulhosa do apelido que recebeu da família.

Alegria na pista de dança com os netos. (Foto: Eternize Momentos Foto e Vídeo)
Alegria na pista de dança com os netos. (Foto: Eternize Momentos Foto e Vídeo)

E foi por eles que ela não abriu mão da festa, dois meses depois de uma perda irreparável na família. “Tive três filhos, o caçula faleceu há dois meses, completados no dia do meu aniversário. Eu não ia fazer festa, era muita dor, mas ele deixou por escrito e toda minha família estava ao meu lado”, conta, já com olhos marejados.

A festa foi no dia 16 de março, com Elza entrando no salão de festas vestida de paraguaia e centenas de objetos pessoas na decoração. “Tudo o que eu gosto eu tenho em casa, então eu quis levar tudo daqui. Todo mundo ficou sapateando sem saber onde ia colocar tanta coisa, mas eu bati o pé que queria levar”.

Um varal com todos os colares preferidos, a coleção de dedal, a coleção de galinhas e quadros de toda a família foram para o salão. Ao escolher o figurino, nada de peça de grife. “Eu não gosto dessas coisas chiques, a blusa eu tenho há anos e minha saia foi uma toalha de mesa”, diz orgulhosa.

Com feijoada, um grupo paraguaio e muita diversão em família, as horas de festa passaram voando na cabeça de Elza. “Mas foram os melhores momentos em família e ao lado das pessoas que eu amo. Lembrei muito dos meus dois filhos que já partiram, mas estava feliz por eles”.

Com saia rodada, ela homenageou cultura paraguaia. (Foto: Eternize Momentos Foto e Vídeo)
Com saia rodada, ela homenageou cultura paraguaia. (Foto: Eternize Momentos Foto e Vídeo)
No meio da festa, um sorriso inspirador. (Foto: Eternize Momentos Foto e Vídeo)
No meio da festa, um sorriso inspirador. (Foto: Eternize Momentos Foto e Vídeo)

Aliás, o bate-papo com Elza leva a crer que ela cresceu protegida da tristeza. “Sempre fui assim, papai e mamãe diziam que eu era impossível de controlar. Nada me abalava e nem me deixava triste, e o olha que eu lidei com distância muito cedo, mas nunca chorei por isso”, diz lembrando dos tempos de internato em que era necessário ficar longo dos pais durante meses.

Depois de 9 décadas de vida, a memória é surpreendente, aparece em detalhes e datas, nas histórias de Mato Grosso uno ainda em construção ao dia do seu casamento. Orgulhosa, faz questão de contar que após a cerimônia, ao contrário de uma vida romântica, ela foi viver durante dias com o marido, segundo tenente do Exército Pedro Dória Passos, em missão de vigiar a fronteira com Paraguai, em virtude da crise revolucionária no país vizinho. “Todo mundo achou uma loucura, uma mulher, com apenas 18 anos, acompanhar o marido em uma missão que só tinha homens. Mas, na época, eu fui até o Orlando Olsen Sapucaia, o então capitão Sapucaia, insistir para acompanhar meu marido. Ele achou uma loucura também, mas havia precedentes, porque ele também havia levado sua esposa em acampamentos anteriores”, lembra.

Durante os 30 dias em “missão de guerra”, Elza passou a cozinhar, limpar, organizar o local e dar aulas aos recrutas analfabetos. “Acabei prestando um serviço militar, usando um uniforme caqui com um chapéu tipo safari para diferenciar do verde militar e dos capacetes de outros soldados”.

Elza diz que até pensou em cursar Direito, mas depois mudou de ideia quando passou a cuidar dos filhos e administrar a fazenda da família, que está debaixo dos seus olhos até hoje. “Não vou mais à fazenda, minha família administra, mas sei de tudo, cada detalhe. Me orgulho muito de tudo o que papai e mamãe deixaram”.

Coleção de galinhas que ela levou para festa.
Coleção de galinhas que ela levou para festa.
Quadros também fizeram parte da decoração.
Quadros também fizeram parte da decoração.

O olho brilha quando conta as boas surpresas da família e a clima de amor que nunca teve crise. “Aqui nós não brigamos, todo mundo se ama e escuta. Talvez por isso eu tenha chegado tão bem aos 90 anos. Porque uma casa e uma família só tem sentido, quando há amor, se não tiver a gente fica perdida”.

Pela casa ela mostra fotos e mais fotos da família, o retrato com as amigas feito recentemente é motivo de mais gargalhadas, que leva Elza até criar memes. “Eu brinco muito com elas, todo mundo tem um problema no joelho ou na saúde, mas a gente não perde o riso. Tenho motivo pra ficar triste¿ Lógico que não”, questiona e responde.

As lágrimas voltam quando fala dos filhos, mas não em tom de tristeza. “É orgulho mesmo que eu sinto deles, tenho os três filhos mais incríveis do mundo. Esses dois me fazem muita falta, mas sei que enquanto viveram, foram pessoas felizes, isso alivia minha alma. Serei mãe para o resto da vida”.

Sobre o tempo, Elza diz que quer manter a energia e espera comemorar os 91 anos com a mesma alegria. “Muita gente chama a velhice de melhor idade, mas não é, nossa melhor idade foi lá atrás porque hoje o tempo nos limita muito, mas eu acho que saber envelhecer é uma arte. Então eu fui feliz em todas as minhas idades e continuarei sendo feliz enquanto a vida me permitir”.

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