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Comportamento

Glamour no Youtube encanta garotada, mas como lidar com expectativas frustradas?

Sonho de virar celebridade na internet atraí cada vez mais crianças, será que dá para dormir tranquilo com tanta exposição?

Kimberly Teodoro | 25/08/2019 07:33
A imersão no mundo digital é inevitável, mas preocupação que fica é com a segurança.
A imersão no mundo digital é inevitável, mas preocupação que fica é com a segurança.

Inevitável há algum tempo, o Youtube é uma das plataformas mais potentes da internet quando o assunto é criação de conteúdo. O que era apenas um vídeo caseiro gravado com as populares câmeras powershot que cabem no bolso, virou produção profissional, digna de estúdios de televisão. Conferindo glamour à vida de pessoas “comuns”, mas que do dia para a noite podem “ganhar” status de celebridade e transformar o “hobby” em profissão. Ideia cada vez mais atrativa, principalmente para as crianças.

E, além da segurança na internet, o desafio dos pais é ensinar as crianças e adolescentes a lidar com as expectativas e, na maioria das vezes, com as frustrações, já que o sucesso esta cada vez mais restrito a poucos no Youtube, por conta dos mecanismos criados pela plataforma.

Se antes havia quem sonhasse em brilhar nas telas de cinema, hoje a fama parece muito mais próxima para quem se aventura pelo mundo sem fronteiras do youtube. Entre levar a sério a vontade de virar uma estrela da internet ou encarar a atividade apenas como uma brincadeira em frente às câmeras, a maior preocupação dos pais é a segurança dos filhos.

Ainda aprendendo a gravar, planejar conteúdo e editar, Willian Puga Torres de Souza acabou de criar o primeiro canal na plataforma. Por lá, a ideia é crescer postando gameplays, vídeos em que aparece jogando os títulos favoritos e conversando com o espectador. Coisa que muita gente por aí já faz, o diferencial é que ele tem apenas 9 anos, mas já sonha alto.

Aos 9 anos, Willian já quer ser youtuber.
Aos 9 anos, Willian já quer ser youtuber.

Inspirado por youtubers como “Felipão Gamer”, “Irmãos Neto” e “Felipe Neto”, ele tenta fazer o próprio caminho e ainda precisa conciliar tudo isso com a escola e o tempo limitado de acesso à internet. Para ajudar, faz até curso de youtuber.

Com a exceção do virais, o aspirante a estrela do youtube sabe que é um trabalho lento. Em conversas, Tatiana procurou alinhar bem as expectativas do filho, controlando a ansiedade por novos inscritos e visualizações.

Por enquanto, o unico equipamento utilizado para gravar os vídeos é um headset, aquele fone de ouvido com microfone. O computador ainda é o mesmo netbook usado para os trabalhos de escola e jogos mais leves como Minecraft. Tatiana explica que as melhorias serão feitas de acordo com os avanços do canal e necessidades reais. Mesmo entre as crianças, existe muita cobrança por ser e ter o melhor. "É aí que existe muita frustração e é também onde eles não sabem lidar, hoje eles são extremamento consumistas e querem cada vez mais. Por mais que você dose e tente equilibrar esse imediatismo, uma das maneiras de lidar com isso é mostrando que não é simples". 

Em uma geração estimulada ao empreendedorismo desde cedo, é comum ver outras crianças na idade de Willian vendendo docinhos, slimes ou como é o caso dele, se envolvendo com o youtube. Encarar a brincadeira em frente às câmeras como um negócio sério ajudou o garoto a colocar os pés no chão. Além de administrar o próprio conteúdo, ele também precisa conquistar os novos esquipamentos.

Desde os 5 anos, ele já sabia bem o que significam finanças pessoais e até estudava a disciplina na escola, hoje o porquinho virou uma poupança no banco onde tanto as moedinhas ganhas dos avós e mesada vão parar. Tatiana explica que o cartão da conta é responsabilidade dele e tudo o que ele quer comprar, precisa vir do próprio dinheiro, para que entenda o real valor das coisas. É claro, itens mais caros como o computador para edição dos vídeos terá aquela ajudinha dos pais, mas só quando ele mostrar que realmente está levando a atividade a sério.

Nos bastidores, ele tem aprendido que o sucesso instantâneo vendido pelas celebridades da internet não existe. O processo envolve muita dedicação, quando ele via apenas o que os youtubers mostram para a câmera, era apenas na parte divertida que prestava atenção, sem entender como isso pode ser um trabalho sério.

“Planejar o conteúdo, gravar e editar são partes importantes no caminho, além de trabalhar a frustração. Não é porque um vídeo teve muitos views que todos os outros vão ter, cada pessoa tem uma cabeça diferente e gosta de um tipo de coisa que as outras não gostam. Isso não quer dizer que você fez um vídeo ruim. Quando ele me disse que queria ser youtuber, eu pedi procurei saber primeiro como funcionava para depois deixar ele começar a fazer alguma coisa".

Tatiana acompanha de perto todo o conteúdo consumido por Willian.
Tatiana acompanha de perto todo o conteúdo consumido por Willian.

Críticas sobre “alimentar o vício” são muitas, mas a mãe, Tatiana Moreira Puga, de 42 anos, procura desmistificar os tabus em torno do uso de tecnologia por crianças. Empresária, ela tem noção de que a imersão na era digital é necessária em qualquer área de trabalho. “As pessoas têm essa tendência de achar que tudo o que envolve a tecnologia é ruim. Eu acho que eles precisam estar antenados, porque se ele ficar de fora do que acontece ao redor ele vai ser excluído. Ele precisa saber como utilizar essas novas ferramentas. Hoje, até um médico precisa estar online se quiser divulgar o seu trabalho”, explica.

Acompanhar o conteúdo consumido pelas crianças nem sempre é uma tarefa fácil, no caso de Tatiana, conferir o histórico de acessos pela conta do google foi uma maneira ficar por dentro de tudo o que Willian assiste. “Quando encontro alguma coisa diferente, costumo conversar com ele, perguntar se ele viu o vídeo todo e saber do que se trata, se é adequado para a idade”.

Apesar da plataforma ter evoluído muito com a opção “Kids”, que fornece controle dos pais, bloqueio de conteúdo e até um cronômetro para controlar o tempo de uso, os filtros desse recurso podem falhar.

Pensando na segurança, o e-mail utilizado por Willian é monitorado por Tatiana, que o tem login e senha. Parece uma atitude simples, mas facilita o acesso ao conteúdo consumido pelo filho, sem por exemplo, precisar ficar ao lado dele conferindo a tela do celular o tempo todo.

Antes de gravar, ele já aprendeu que planejamento é uma parte importante do trabalho.
Antes de gravar, ele já aprendeu que planejamento é uma parte importante do trabalho.

No caso de Willian, são duas horas de acesso diário à tecnologia divididas entre manhã e noite. “Geralmente durante a noite estou próxima a ele, então acabo assistindo junto. Mesmo que às vezes não seja um conteúdo agradável para nós adultos, você está ali prestando atenção no que está acontecendo”.

Apesar de ter o próprio celular e um canal recém criado no youtube, Willian não tem outras redes sociais, o aparelho possui o modo “controle dos pais” ativados e ele não tem autorização para atender números desconhecidos, adicionar pessoas no whatsapp que não conheça pessoalmente ou que a mãe não tenha aprovado antes.

Diferente do instagram ou do facebook, que possuem ferramentas para restringir o acesso de pessoas não autorizadas ao conteúdo postado, o youtube não oferece esse recurso. É possível postar vídeos privados - onde só quem tem o link consegue ver - ou não listá-los nas postagens recentes, mas no caso de canais abertos fica impossível ter o um controle de seguidores.

Inspirado por outros youtubers, Willian quer investir no próprio canal de games.
Inspirado por outros youtubers, Willian quer investir no próprio canal de games.
Além de gravar, Willian também edita os próprios vídeos.
Além de gravar, Willian também edita os próprios vídeos.

Cuidados - Por dentro do assunto, a empresária Wanessa Foizer, de 43 anos, é especialista no uso de tecnologia infantil e representante da Happy Code em Campo Grande, dá dicas de como utilizar a ferramenta com segurança.

Alinhar expectativas: Apesar do todo o glamour mostrado em frente à câmera, é importante que a criança tenha noção de que não ficará famosa da noite para o dia. É necessário que ela entenda que exige dedicação, pode ser divertido, mas que também vai dar trabalho e de que não existe sucesso instantâneo. Ela precisa saber lidar com as frustrações.

Conteúdo: Além de produzir, as crianças também consomem mensagens de youtubers que consideram inspiração. Acompanhar de perto o que tipo de vídeos seus filhos estão acessando e filtrar aquilo que é mais adequado para cada idade.

Monitoramento: Por regulamentação do próprio youtube, menores de 16 anos não podem ter um canal. Quem deve criar uma conta são os responsáveis, utilizando os próprios dados com acesso ao login e senha. Junto com a postagem de vídeos, o ideal é que se observe quem segue o filho, que tipo de comentários são feitos e ficar atento às mensagens recebidas.

Comportamento: Independente do tema do canal, crianças precisam ser tratadas como tal. É importante prestar atenção às roupas curtas, evitar maquiagem pesada e qualquer elemento que possa adultizar o que para ela deve ser natural. Espontâneo.

Exposição: Não postar vídeos com uniforme da escola, endereço de casa ou de lugares frequentado pela criança, em hipótese alguma. É muito comum crianças convidarem os seguidores para um encontro ou avisar que estão em determinado lugar, além de acompanhados dos responsáveis, o ideal é que elas só publiquem esse tipo de informação depois de voltar para casa. “Em vez de fazer um storie dizendo que ela no shopping por exemplo, por que não gravar a atividade do dia e deixar para postar quando estiver em casa?”, propõe.

Automações: É comum a compra de ferramentas para captar seguidores para as redes sociais, mas esses programas não costumam ter um filtro em relação à qualidade. “Pode ser que com o grande número desse público, pessoas mal intencionadas cheguem ao canal. O ideal é que o crescimento seja orgânico, assim os seguidores serão pessoas realmente interessadas no conteúdo”.

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