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Comportamento

Grávida de 7 meses, mãe se entrega à Polícia para não ser separada do filho

Paula Maciulevicius | 01/04/2017 07:05
Sem visitas na cadeia, o bebê nunca viu ninguém que não use uniforme. O pai mesmo foi só uma vez. (Foto: Alcides Neto)
Sem visitas na cadeia, o bebê nunca viu ninguém que não use uniforme. O pai mesmo foi só uma vez. (Foto: Alcides Neto)

30 anos de idade, quatro filhos e o quinto a caminho. No sétimo mês de gravidez, Jéssica foi até a delegacia de plantão do bairro Piratininga, em Campo Grande, acompanhada do marido. No balcão de atendimento, disse que estava ali porque tinha um mandado de prisão aberto contra si. Caminhando para os últimos meses, ela se entregou para ter a chance de ficar com o filho por pelo menos seis meses. 

A resposta do policial foi com uma pergunta: "como ela sabia?" Sabia porque tinha quebrado o semiaberto. Depois de três anos presa em regime fechado, por tráfico de drogas, ela fugiu quando pode. 

Hoje a história é repassada de dentro do presídio feminino Irmã Irma Zorzi, em Campo Grande, onde Jéssica está há quatro e seu bebê, há dois meses. "Estou esperando um papel chegar para eu descer para o semiaberto", explica Jéssica Moraes Rios, sobre o quanto de pena ainda tem pela frente. 

Para ter pelo menos seis meses de convivência com o filho, mãe se entregou à Polícia, depois de quebrar semiaberto. (Foto: Alcides Neto)
Para ter pelo menos seis meses de convivência com o filho, mãe se entregou à Polícia, depois de quebrar semiaberto. (Foto: Alcides Neto)

A quebra de benefício ocorreu quando ela teve a autorização da Justiça para ir até em casa, pegar documentos e voltar. "Por que eu quebrei? Muito tempo de cadeia. Fiquei três anos fechada, minha primeira cadeia, saudade de todo mundo", justifica.

Ao se entregar, Jéssica já não viu mais o dia virar noite, foi para uma cela e, quatro horas depois, a transferiram de delegacia. Só no dia seguinte, retornou para onde devia ter voltado com os documentos e então encaminhada para o presídio feminino.

"Eu fui por causa do neném. Fiquei com medo de chegar na hora do parto e eles tirarem meu filho de mim", conta a mãe. Rairon Thiago nasceu de 40 semanas, como surpresa para a mãe que suspeitava que fosse um menino, mas não tinha a confirmação. "Eu não fiz pré-natal na rua, porque estava foragida, mas eu sabia que era menino, pressentimento de mãe", completa.

De escolta no hospital, o bebê nasceu de cesárea sem acompanhantes. Fora a equipe médica, ninguém dividiu com a mãe este momento de chegada ao mundo. O pai, que já cumpriu pena por homicídio, não esteve presente. "É que visita no hospital, só com ordem judicial. Ele nem chegou a ver", lamenta.

Durante o dia, o bebê fica sob os cuidados na creche do presídio. (Foto: Alcides Neto)
Durante o dia, o bebê fica sob os cuidados na creche do presídio. (Foto: Alcides Neto)

Rairon ganhou este nome depois que a mãe ouviu na televisão e o complemento de Thiago vem em homenagem a um tio. Com ele, são três meninos e duas meninas filhas de Jéssica.

O bebê dorme com a mãe na cela, junto de mais 10 presas. Duas mães e outras nove gestantes. Durante o dia, fica sob os cuidados de duas internas na creche, com horários para amamentação.

Sem visitas na cadeia, o bebê nunca viu ninguém que não use uniforme. O pai mesmo foi só uma vez, por insistência da mãe e da assistência social do presídio. "Veio, ficou 10 minutos e foi embora. Falta tempo, diz que", tenta justificar Jéssica.

Tempo é algo que demora a passar lá dentro. Rairon ainda não tem essa noção e a mãe esperava que ele nem chegue a perceber que também é um encarcerado. "O que eu sinto é que eu vou embora com meu filho daqui. Não vou deixar ninguém levar ele de mim".

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Tempo é algo que demora a passar lá dentro. Rairon ainda não tem essa noção e a mãe esperava que ele nem chegue a perceber que também é um encarcerado. (Foto: Alcides Neto)
Tempo é algo que demora a passar lá dentro. Rairon ainda não tem essa noção e a mãe esperava que ele nem chegue a perceber que também é um encarcerado. (Foto: Alcides Neto)
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