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Comportamento

Há 31 anos José recomeçou a vida em esquina que virou cenário clássico da cidade

Com dois filhos pequenos, ele e a esposa vieram de Passo Fundo no escuro, sem saber o que encontrariam por aqui

Kimberly Teodoro | 08/11/2018 08:56
Tranquilo, de fala mansa e bastante simpatia, José abre a borracharia às 7h da manhã há 31 anos (Foto: Kimberly Teodoro)
Tranquilo, de fala mansa e bastante simpatia, José abre a borracharia às 7h da manhã há 31 anos (Foto: Kimberly Teodoro)

Na esquina da Rua Antônio Maria Coelho com a Avenida Presidente Ernesto Geisel, o prédio alaranjado com grades de ferro como portões já não chama a atenção da vista de quem passa por ali todos os dias e está acostumado a ver a figura de cabelos brancos e ar tranquilo em frente. José Antônio Sabadim, de 67 anos, faz parte do cenário. Em dias menos movimentados senta na fachada da Borracharia Gaúcha para aproveitar a sombra e tomar tereré no calor da cidade.

Como o próprio nome do lugar denuncia, José é gaúcho e enfrentou os 1.148 km de estrada entre a cidade natal, Passo Fundo, e Campo Grande. Há 36 anos chegou com a esposa e dois filhos pequenos para começar a vida do zero, depois que a construtora da qual era dono quebrou, em 1982.

Em dias de movimento mais tranquilo, José aproveita a sombra para sentar em frente ao comércio e tomar tereré para enfrentar o calor de Campo Grande (Foto: Kimberly Teodoro)
Em dias de movimento mais tranquilo, José aproveita a sombra para sentar em frente ao comércio e tomar tereré para enfrentar o calor de Campo Grande (Foto: Kimberly Teodoro)

Sem um plano certo e nenhum conhecido no Estado, José e a família encararam a estrada em um caminhão, com todos os móveis que tinham como bagagem. "Foi loucura, não sabia o que encontraria aqui, mas ainda era novo e tinha vontade de trabalhar. Passamos dois dias com todas as coisas dentro do caminhão até acharmos uma casa para alugar", conta.

A primeira parada foi São Gabriel do Oeste, onde arranjou emprego em uma fazenda, mas depois de 5 anos, ele decidiu mais uma vez começar de novo, dessa vez em Campo Grande, para que os filhos pudessem estudar. Foi aí que a ideia da borracharia surgiu, um ofício que ele aprendeu na fazenda e que exerce há 31 anos no prédio construído por ele em terreno alugado, que mesmo depois de tanto tempo ainda pertence ao mesmo "japonês" que não vende de jeito nenhum. 

Hoje com mais estrutura, José lembra dos dias em que a única coisa que oferecia era a mão de obra e o comércio ainda não tinha um único pneu (Foto: Kimberly Teodoro)
Hoje com mais estrutura, José lembra dos dias em que a única coisa que oferecia era a mão de obra e o comércio ainda não tinha um único pneu (Foto: Kimberly Teodoro)

Hoje, com mais estrutura e dois funcionários que já estão com ele há bastante tempo, José lembra de quando ainda era sozinho no ponto, com um único cômodo que servia de escritório, sem nenhum pneu a venda. "Não tinha muito dinheiro para investir, o principal serviço que oferecíamos aqui era mão de obra e todo o resto veio depois de muitos anos de trabalho, de pouco em pouco", relembra.

Casado há 46 anos, ainda volta para o sul para rever a família, mas vida ele e a esposa Dacila Maria Sabadim, estabeleceram mesmo aqui, assim como os filhos que também escolheram continuar morando Campo Grande. A única coisa da qual ele realmente sente falta é o estilo de vida sulista.

José tem amigos de longa data aqui na cidade, mas segundo ele é "cada um na sua casa" e os encontros se resumem a datas comemorativas ou pescarias de fim de semana, coisa rara no Rio Grande do Sul. "Lá existe mais familiaridade dos amigos que se visitam e fazem parte do cotidiano uns dos outros" explica. 

Enquanto conseguir trabalhar, a borracharia vai continuar abrindo das 7h às 18h, mesmo com tempos em que é necessário "lutar" para manter o comércio aberto, que conta com clientes antigos, mas exige muita dedicação para não fechar as portas. 

O merecido descanso, José encontra na chácara em Piraputanga, 158 km de Campo Grande e lugar para onde pensa em ir depois que a borracharia fechar as portas, em um futuro muito distante para o senhor que mesmo com a idade ainda troca pneus pessoalmente e é lembrado pela tranquilidade e fala mansa, com um sotaque gaúcho que nunca se perdeu e do qual tem orgulho.

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