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Comportamento

Jean Wyllys diz que quase apanhou pela 1ª vez, mas desculpa manifestante

Paula Maciulevicius | 04/03/2016 12:10
Na chegada de Jean ao aeroporto de Campo Grande, foi a primeira vez que deputado viu intolerância virar agressão. (Foto: Marcos Ermínio)
Na chegada de Jean ao aeroporto de Campo Grande, foi a primeira vez que deputado viu intolerância virar agressão. (Foto: Marcos Ermínio)

Numa relação entre amor e ódio, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) está do lado do amor. Nas próprias palavras do parlamentar e jornalista baiano, as pessoas mais gostam do que o odeiam, mas a reação de um manifestante na noite dessa quinta-feira (3), na chegada de Jean ao aeroporto de Campo Grande o pegou de surpresa. Foi a primeira vez que alguém partiu para cima mesmo, com a intenção de agredir fisicamente.

"A primeira vez que isso aconteceu na minha vida inteira. Acho estranho, essa pessoa me pareceu absolutamente desconectada, inclusive do protesto que estava ocorrendo lá, anti-petista, que não tinha nada a ver comigo", declarou o deputado.

O manifestante saiu do protesto "inicial", onde o foco eram parlamentares petistas do Estado, ao reconhecer Jean Wyllys. "Essa pessoa se destacou para me insultar e tentar me agredir, parecia alguém que estava ali, deliberadamente para fazer isso", completa. Jean esteve na UFMS na manhã de hoje em uma palestra sobre os caminhos dos direitos da população LGBT no parlamento e à tarde, discute a aplicação da Lei Maria da Penha para casais homoafetivos na Escola Superior da Defensoria Pública Estadual.

Se o motivo foi a homossexualidade ou o fato do deputado ser de um partido de esquerda, Jean explica que é difícil saber o "que move os imbecis e os burros motivados". "A gente nunca sabe qual é motivo dele, pode ser a combinação das duas coisas, mas num Estado em que parte da elite econômica e política está engajada no extermínio de povos indígenas, me parece de fato uma pessoa muito sensata se preocupar com a presença de um homossexual aqui".

O perigo da intolerância chegar no limite da agressão está ilustrada nos livros de história e tão recentemente na própria trajetória do Brasil, com a ditadura militar. "Tivemos o episódio da ditadura, em que a liberdade foi cerceada, pessoas foram torturadas, mandadas para fora, a imprensa silenciada e eu estou falando de algo que aconteceu no Brasil e não faz muito tempo. A ditadura acabou em 1985", pontua Jean.

O deputado ainda recorre ao exemplo nazista para deixar claro que não dá para não se preocupar com a onda fundamentalista que reina nos discursos de bancada e também entre eleitores. "Um exemplo é a Alemanha, a onda fascista cresceu e as pessoas foram menosprezando, achando que era tão somente coisa de pessoas ignorantes e quando se viu, os fascistas já estavam no poder que resultou 6 milhões de pessoas mortas".

Jean recebeu uma enxurrada de desculpas depois do episódio de "recepção". (Foto: Marcos Ermínio)
Jean recebeu uma enxurrada de desculpas depois do episódio de "recepção". (Foto: Marcos Ermínio)

O cuidado, ele alerta, precisa ser tomado devido a contaminação. "As pessoas acham que é legítimo cercear umas as outras, destruir os ambientes democráticos, achar que você não pode mais ter posição política, achar que se dizer de esquerda e socialista, é um problema", demonstra Jean.

Atacado de um lado, acolhido e amado de outro. O deputado federal diz entender que são suas ideias que provocam as pessoas e diante do fato de não saberem como reagir aos argumentos, partem para o ataque pessoal.

"Minhas ideias que provocam as pessoas, provocam os preconceitos que são falsas certezas e falsas certezas trazem desconforto e quando você derruba isso, as pessoas reagem dessa maneira, tendem a confundiar a pessoa com a ideia e como não conseguem atacar os meus argumentos, atacam a pessoa".

Sobre a militância, Jean fala que a primeira vez que ouviu um insulto, tinha apenas 6 anos de idade. Ou seja, não foi ele quem escolheu lutar, mas era a forma de encarar a vida. "Minha vida é essa, minha condição sempre foi a de alguém que enfrenta o mundo. Eu nasci e me criei num mundo homofóbico, onde todas as instituições e discursos eram para me excluir. Então essa é a minha luta de vida".

Assim que compartilhou nas redes sociais o episódio de agressão, intitulado "Nova Crônica do Absurdo", uma enxurrada de pedidos de desculpas tomou as páginas do deputado e fez lotar a caixa de e-mail.

"Uma infinidade. Muita gente pediu desculpas, se sentiu envergonhada e eu as tranquilizei, para que elas não se sintam culpadas. Eu consigo fazer a distinção e sei que não tem nada a ver com o sul-mato-grossense. Sempre vão haver pessoas como aquele cara, que tentou me agredir, que não consegue lidar com as ideias, então partem para a violência", lamenta Jean.

Ao adentrar no auditório da UFMS para a palestra, Jean foi aplaudido em pé. Na fala de boas vindas, ele recebeu novos pedidos de desculpas.

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