ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, TERÇA  19    CAMPO GRANDE 25º

Comportamento

Julho das Pretas dá tom estratégico para valorização da mulher negra

Na Comunidade Quilombola Chácara Buriti, a campanha foi recebida como um presente pela moradoras

Danielle Valentim | 15/07/2019 08:10
Janaina Medina Domingos, de 35 anos, usou turbante pela primeira vez. (Foto: Danielle Valentim)
Janaina Medina Domingos, de 35 anos, usou turbante pela primeira vez. (Foto: Danielle Valentim)

Pertencimento, identidade, valorização e empoderamento. Com um nome para chamar a atenção, mesmo, o lançamento da campanha “Julho das Pretas” na Comunidade Quilombola Chácara Buriti foi recebida como um presente pelas moradoras. A tarde de conversa e troca de experiências emocionou e encorajou mulheres a se autoconhecerem para suportar a discriminação sofrida fora da comunidade.

Na Chácara, o Julho das Pretas mal foi lançado e já levantou um diálogo e reflexão sobre as desigualdades que dão invisibilidade às mulheres negras. Se trata de um mês inteiro para se debater políticas públicas de enfrentamento ao racismo e ao sexcismo reafirmando o protagonismo e que o lugar da mulher negra “é onde ela quiser”.

Campo Grande conta com três comunidades quilombolas a Tia Eva, no São Benedito, São João Batista, no Pioneiros e a Chácara Buriti, que é considerada para-rural, localizada a 30 km da cidade. A escolha do local para o lançamento foi especifica, já que o local fica mais afastado e conta com mais de 50 famílias.

A comunidade passa dos 80 anos e a maioria das famílias sobrevivem da agricultura familiar. No sendo mandato, a presidente da Chácara Buriti, Lucinéia de Jesus Domingos Gabilão pontua que ações como essa são de extrema importância e que a comunidade ficou feliz em participar do lançamento desse projeto.

Presidente Lucinéia de Jesus Domingos Gabilão pontua que ações como essa são de extrema importância. (Foto: Danielle Valentim)
Presidente Lucinéia de Jesus Domingos Gabilão pontua que ações como essa são de extrema importância. (Foto: Danielle Valentim)
Mayara é vice-presidente da comunidade aos 24 anos e se formou para a ajudar a família. (Foto: Danielle Valentim)
Mayara é vice-presidente da comunidade aos 24 anos e se formou para a ajudar a família. (Foto: Danielle Valentim)

“Aqui somos mulheres da zona rural e temos uma dificuldade maior que as mulheres urbanas em ter esse contato, essa troca de experiências. Um momento como esse é riquíssimo. A hora passa que nem vê. Ficamos muito felizes em participar desse marco”, pontua.

Outro ponto importante foi o resgate da cultura característica da mulher negra. “Nossa raiz e em nossa infância, crescemos com mulheres usando turbante e isso foi se perdendo. Diz o ditado que santo de casa não faz milagre e eles ouvirem as experiências de outras mulheres, o racismo sofrido, as conquistas de outras mulheres é de extrema importância. Essa campanha veio a calhar com o nosso trabalho de fortalecimento das mulheres”, conta.

A engenheira agrônoma Mayara Domingos da silva, de 24 anos, é nascida e criada na comunidade e garante que se formou para ajudar a família. “Esse é meu objetivo. Não quero sair. Quero trazer o conhecimento para a comunidade. Assim como outras mulheres, que estão provando seu valor e conquistando seu espaço. Não queremos que as empresas nos engulam, mas que vejam que também somos capazes”, pontua.

Segundo ela, a abertura do Julho das Pretas na Comunidade Chácara Buriti foi recebido como um presente. “Ter esse dia pra nós é importante até para quem não é negro. É o mês que a mulher negra é vista. Ver mulheres que deram a cara para bater que foram julgadas e hoje podem falar sobre isso é muito significativo”, pontua Mayara.

A comunidade recebeu uma roda de conversa em que outras mulheres negras compartilharam suas vivências como forma de incentivo e de empoderar outras mulheres. Durante a tarde de lançamento e muito bate papo, mulheres também aprenderam a montar o turbante na cabeça.

Passo a passo do turbante. (Foto: Danielle Valentim)
Passo a passo do turbante. (Foto: Danielle Valentim)
Janaina ficou encantada com o 1º turbante. (Foto: Danielle Valentim)
Janaina ficou encantada com o 1º turbante. (Foto: Danielle Valentim)

A moradora Janaina Medina Domingos, de 35 anos, usou turbante pela primeira vez. Encantada com o poder que o tecido dá aos cabelos já quer mais eventos como este.

“Foi a primeira vez que coloquei turbante. Esse evento foi muito importante e poderia acontecer mais vezes. Para que a gente possa aprender e trocar mais experiência”, frisa.

A coordenadora de políticas de promoção da igualdade racial, Rosana Anunciação Franco, 45 anos, explica que o intuito é fazer com que as mulheres que estão invisíveis a sociedade sejam vistas. “Para isso, precisamos trazer a sociedade para os espaços onde estão as mulheres quilombolas. Decidimos fazer a abertura aqui para dar visibilidade. E mostrar que a mulheres de comunidade estão aí e precisam se valorizadas e respeitadas”, disse Rosana.

O nome “Preta” na campanha foi intencional e estratégico. “Quando a gente fala “preta” chama atenção. A população negra é a somatória dos pardos e pretos. Falar o preto é uma forma de auto identidade, auto afirmação, e reconhecimento da verdadeira identidade. E a mulher negra tem disso dentro dela. A campanha vem para impactar”, pontua Rosana.

A campanha - Esta ação é em alusão ao dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latina-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela, uma líder quilombola que com sua força e coragem liderou toda a comunidade do quilombo Guariperê na defesa de sua população contra as opressões e racismo.

A Campanha Julho das Pretas está em consonância com a Lei Estadual 5.254/2018 que criou o “Dia Estadual das Mulheres Negras”. Em Campo Grande serão realizadas diversas ações durante o mês de Julho como Rodas de conversa, palestras e oficinas.

O Julho das Pretas reafirma a importância da luta antirracista e antissexista na garantia dos direitos e do protagonismo das mulheres negras sul-mato-grossenses contra o racismo e a violência, pelo bem viver da população negra.

Curta o Lado B no Facebook e Instagram.

Rosana garante que nome da campanha é para impactar mesmo. (Foto: Danielle Valentim)
Rosana garante que nome da campanha é para impactar mesmo. (Foto: Danielle Valentim)
Roda de conversa. (Foto: Danielle Valentim)
Roda de conversa. (Foto: Danielle Valentim)
Nos siga no Google Notícias