ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 20º

Comportamento

Levados para casa como afilhados, irmãos ganharam dois pais em 1 semana

Paula Maciulevicius | 21/10/2016 07:10
Casados há 4 anos, Elias e Lucas viram a família aumentar de surpresa. (Foto: Alcides Neto)
Casados há 4 anos, Elias e Lucas viram a família aumentar de surpresa. (Foto: Alcides Neto)

Quando o processo começou, em abril, a ficha de adoção foi preenchida com a preferência por uma criança de 1 até 4 anos, mas a realidade mostrou que a família de Elias e Lucas seria completa com dois irmãos um pouquinho mais velhos. Há uma semana, Felipe e Fábio se mudaram de Sidrolândia para Campo Grande, onde ganharam dois pais, uma casa e escola novas. 

A felicidade dos quatro é tamanha, que ninguém diz que pais e filhos ainda estão em processo de conhecer um ao outro. "A gente apadrinhou eles, mas não pensávamos em nada porque não fazia parte da faixa etária", conta o funcionário público Elias Canhete Neto, de 32 anos. 

Os irmãos vieram de Sidrolândia para a Capital no domingo anterior ao Dia das Crianças e na quarta-feira, data marcada para retornarem, o coração dos quatro apertou. "Eu falei para o juiz que não estava conseguindo... Queríamos ficar mais uns dias e foi aí que decidimos que era o que a gente queria mesmo", conta o vendedor Lucas da Silva Ferraz, de 26 anos.

Na rotina de família. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na rotina de família. (Foto: Arquivo Pessoal)

A adoção já era fato entre eles desde quando assistiram às palestras no ano passado e como sonho, desde sempre. Casados há quatro anos, para Elias já era claro como ele se tornaria pai. E ao longo do tempo de casamento, viu o mesmo sentimento brotar também no marido. O processo só começou depois que o combinado entre eles se cumpriu: de estarem estabilizados nas carreiras, com casa e carro próprios. 

Depois dos dias apadrinhados, o vínculo foi criado e o casal então entrou com o pedido de adoção. "O processo está andando, o juiz já deferiu e agilizou porque eles são grandes. Não tinha ninguém esperando nessa faixa etária, não entramos na frente de ninguém e deu tudo certo, né filhos?", descreve Elias.

Fábio e Felipe começaram a estudar antes de ontem. "Para a gente, também é novo. Acordar cedo, arrumar eles, conversar com as professoras", exemplifica o casal.

A transição de padrinhos para pais foi considerada por eles, natural. "Foi tudo ótimo, graças a Deus, uma surpresa boa. Não é a faixa que a gente esperava, mas é melhor", comenta Elias. No segundo dia eles já tinham percebido que a família dos sonhos já estava toda reunida. "O carinho, a independência deles, isso vai mudando sua cabeça em pouco tempo", avalia Lucas.

Os momentos de descontração entre pai e filho. (Foto: Alcides Neto)
Os momentos de descontração entre pai e filho. (Foto: Alcides Neto)

Aos poucos, as crianças vão soltando "pai" para o casal e ainda manifestaram um desejo lá para o futuro. "Quero morar com você para cuidar de você quando ficar velhinho", reproduz Elias. Chamá-los de pais ainda oscila. Por vezes os meninos ainda soltam um "tio".

"Eu quase surtei quando ouvi pai", confessa Lucas, que nas palavras do marido, é a "emoção" da casa. "E volta e meia sai um tio, mas é natural. Tio? Que tio? Eu brinco... Mas é o tipo de coisa que é com o tempo. Tem menos de um ano que eles saíram de casa", conta Elias. 

No dia a dia, os pais relatam que Felipe e Fábio são crianças como todas as outras, que brigam como irmãos, como eles também brigavam em família e que fazem arte. 

Por serem grandinhos, as dificuldades estão na hora de impor limites. "Não é fácil, mas é possível. O que ajuda muito são os grupos de apoio à adoção, que a gente já participava. Ali você vai vendo e tendo uma noção e não se fala mais adoção tardia e sim, adoção na hora certa", explica Elias. 

E como foi explicar aos filhos que eles teriam dois pais? "A gente sentou e conversou. Perguntamos se eles sabiam o que éramos, e o Felipe [mais velho] falou: namorados. O Fábio foi mais discreto...", brincam os pais. 

Em casa, o casal explicou que na escola eles poderiam ter dificuldades quanto a isso. "Mas dissemos que a gente respeita todo mundo e para eles estarem preparados", resumem. E por enquanto, as atividades preferidas são aquelas em que a família toda se reúne. "A gente joga um colchão na sala, vê um filme, monta quebra-cabeça, coisas que nos unem. Um costume que a gente não tinha e hoje armamos uma mesinha para tomar café da manhã, almoço e jantar", descreve Elias.

Marcada por sorrisos, entrevista fez até o caçulinha dormir no colo de um dos pais. (Foto: Alcides Neto)
Marcada por sorrisos, entrevista fez até o caçulinha dormir no colo de um dos pais. (Foto: Alcides Neto)

Do trabalho do casal, vai sair um chá solidário com presentes para os meninos dos colegas de Elias, enquanto a chefe de Lucas, deu o jogo de quart completo para que a família possa curtir ainda mais este momento.

E durante a entrevista, o caçulinha dorme no colo do pai Lucas. Mais tímido, Felipe, de 10 anos, fala que está no 4º ano D da nova escola e que está gostando. As perguntas são respondidas com "sim" e sempre voltando os olhos para os pais. Sobre ser adotado ele disse que gostou e até chorou.

E o que mais gostou de casa? "Meus pais ué" e a resposta do menino emociona os pais. O que ele tentou ensinar a eles foi jogar bafo, brincadeira que Felipe mais gosta. O sonho de criança é se tornar jogador de futebol, enquanto o irmão quer ser juiz. 

"É sonho, os pais sonham juntos e vamos fazer de tudo para realizar", garante Lucas. O marido emenda dizendo que apesar deles não serem ricos, vão se esforçar para correr atrás e dar tudo o que os meninos sonham. 

Curta o Lado B no Facebook.

E quando o mais velho foi ensinar o casal a jogar bafo, brincadeira acabou em gargalhada, porque nem Elias e nem Lucas conseguiram aprender. (Foto: Alcides Neto)
E quando o mais velho foi ensinar o casal a jogar bafo, brincadeira acabou em gargalhada, porque nem Elias e nem Lucas conseguiram aprender. (Foto: Alcides Neto)
Nos siga no Google Notícias