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Comportamento

Na criação de filho, troco um palpite por fralda ou horas de sono ininterruptas

Carregados de julgamentos, eles vêm desde os familiares até quem você nunca viu na fila do pão.

Paula Maciulevicius Brasil | 17/11/2019 08:31
Olha o tanto de coisa que você pode dar a uma mãe em vez do seu palpite?
Olha o tanto de coisa que você pode dar a uma mãe em vez do seu palpite?

"Mas por que você não faz isso?"
(Porque eu não quero, porque o filho é meu).
"Ah, mas eu criei assim e não morreu".
(Ué, a intenção era matar?)

Claro que o diálogo acima, o que está entre parênteses, são respostas mentais que toda mãe gostaria de dar para quem vem palpitar na criação dos filhos. Por unanimidade, pergunte em qualquer roda de mães e grupos de whats o que mais incomoda no maternar para ouvir: os palpites.

Carregados de julgamentos, eles vêm desde os familiares até quem você nunca viu na fila do pão. Por experiência própria, num voo de São Paulo a Campo Grande, a pessoa da poltrona ao lado se sentiu no direito de me questionar por que não o peito em vez da mamadeira. Era meu primeiro filho, aos 5 meses, que devido a um problema de refluxo, língua presa e baixo peso, tinha iniciado a fórmula e, como a maioria dos bebês, trocado o peito pelo bico da mamadeira. Claro que eu não precisava e não expliquei nada disso.

Do outro lado, a figura era conhecida: uma médica, mas podia ser uma professora, jornalista, costureira. Acho que era mãe ou tentou ser ali, durante alguns minutos, do meu filho. A situação ficou ainda mais constrangedora porque a senhora passou a falar com voz de bebê, como se fosse o meu pequeno, me perguntando por que não o peito? "Cadê o meu mamá, quero mamar o leite da mamãe" e por aí vai.

A porteira dos palpites tinha sido aberta porque eu estava alimentando, não importa por qual via, meu filho. E não parou por aí, em seguida vieram os questionamentos sobre o parto e, se eu havia "conseguido" fazer parto normal (assunto para outro post). Confirmei com a cabeça todas as perguntas na tentativa de por um ponto final naquele papo.

Isso nunca mais me saiu da cabeça. Mas foi só um dos milhões de palpites que surgem a partir do momento que a barriga desponta anunciando a chegada de um bebê. No hall dos palpites, talvez um dos campeões seja o de "deixar o bebê chorar para aprender". Aí eu pergunto: que lógica tem em deixar um bebê chorando para aprender qualquer que seja a coisa?

Como é difícil dar a cara e o nome, recorto aqui alguns depoimentos que colhi de mães que viraram amigas e confidentes, de um grupo de whats (assunto também para outro post). "O palpite que mais me doeu foi que eu tinha que deixar minha filha chorar para aprender a não fazer manha e que o choro era bom para treinar o pulmao". Uma das mães ouviu isso com o bebê de 1 mês e a outra, o pequeno tinha apenas 5 dias.

"O mais difícil é que geralmente vem de alguém da família ou bem próximo a você que deveria te compreender", acredita outra mãe.

Por causa do refluxo, houve mães que escutaram o seguinte palpite: "Pinga na água da banheira e depois coloca um pouco dessa água com cachaça na boca dela". Tal comentário está pau a pau com quem mandou a mãe passar açúcar na língua do bebê para limpar a boca do leite materno.

Quando é umbigo, então... As superstições ou seja lá qual nome se dá vem com tudo. "Cheguei desesperada na doutora achando que tinha inflamação, porque ouvia isso dos outros, que eu não sabia cuidar, que deixei molhar, porque não enfaixava. Até óleo milagroso quiseram passar e quase queimou o umbigo do bebê".

Tem coisa tão absurda que não tem nem resposta. Outra mãe ouviu de um familiar que pré-natal era frescura, além de que amamentar por mais de 40 dias era sofrimento desnecessário. "E daí falam que os filhos se criaram desse jeito e deu tudo certo, mas não percebem que deu certo apesar disso e não por isso", reflete.

Dispensa legendas.
Dispensa legendas.

Troque o palpite por uma fralda ou acolhimento - Poderíamos escrever por horas sobre os palpites e, principalmente o que eles causam em nós, mas como nenhum texto no mundo é lido por uma mãe sem interrupção, pulo logo para a parte em que somos acolhidas. Keyth Gimenez de Barros é minha terapeuta (embora eu mais falte do que vá nas sessões) e digo que ela é especialista em puerpério e reorganização da vida depois de um bebê. 

Na vivência dela familiar ou através das pacientes em consultório, Keyth destaca que a sociedade quer assumir um papel de preencher as angústias. "Na visão social, ao ver uma mãe que não está conseguindo dar conta do choro daquele bebê, isso provoca nas pessoas uma angústia que diz muito mais sobre elas do que a própria mãe", contextualiza. 

Na visão da psicóloga, os palpites nem sempre são maldosos, embora nos machuquem, mas eles são ruins, porque não acalmam a mulher mãe. "A gente deveria cada vez mais colocar uma palavra aí: o acolher. Acolher a angústia, acolher a dor, acolher o amor. Quando a gente conseguir praticar o acolhimento que não pressupõe aquilo em que eu acredito, mas aquilo que você precisa, a gente vai ficar melhor".

Todo mundo parece ter uma experiência materna, em cima de um sobrinho, neto ou filho, e dentro daquela própria experiência, tenta "ajudar". No entanto, a ajuda vem com julgamentos, que é o que nós mães menos precisamos. 

"Respira, pira e depois volta. Está tudo bem. Para as mães, a gente tem que ressaltar este momento de introspecção. Aquela criança é nossa e não há pessoa melhor no mundo para dar conta de um filho do que a própria mãe, independentemente de como ela se tornou mãe". Ou seja, não escute os de fora, e se ouça por dentro. 

Espero ter de alguma forma deixado mais leve o nosso maternar deste domingo. Me manda sua sugestão de tema, me chama nas redes socias. Eu tô quase sempre online, entre bebês, fraldas e mamadeiras.

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