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Comportamento

No "asilo", seu Grimaldo fez churrasqueira para unir família que andava distante

Depois da morte da mulher e aos 90 anos, bisavô construiu área de lazer para juntar a família que andava separada

Paula Maciulevicius | 04/05/2017 06:05
Festeiro eu? Não... brinca seu Grimaldo. (Foto: Alcides Neto)
Festeiro eu? Não... brinca seu Grimaldo. (Foto: Alcides Neto)

"Se eu sou festeiro? Não. Criaram essa onda de festeiro, mas eu não sou nada não". A resposta que vem acompanhada de uma gargalhada revela como o bisavô encarou a velhice e desafiou o fato de cada um estar no seu canto. Ao completar 90 anos, o militar aposentado construiu uma churrasqueira no que chama de "barraco", para unir a família. Uma tentativa que deu certo fez da casa na Rua Das Garças um ponto de encontro e lhe trouxe saúde, porque, para ele, casa cheia é sinônimo de estar bem.

Prestes a completar 94 anos, seu Grimaldo esperava a equipe de portão aberto, tamanha vontade de receber. "Faço aniversário domingo, dia 7, por isso que eu estou enrolado", brinca Grimaldo Vieira de Almeida, se referindo aos parentes que estampam os porta-retratos da mesa da sala e que chegam para a festa.

O título que lhe deram de festeiro cai por terra e a explicação enche os olhos d'água de quem ouve. "Você tem que viver participando de alguma coisa, certo? Como eu tenho uma família muito desligada, que vive cada um para um canto, eu costumo fazer isso para ter um encontro e eu consegui", comemora.

Na mesa da sala estão os porta-retratos dos filhos, netos e bisnetos. (Foto: Alcides Neto)
Na mesa da sala estão os porta-retratos dos filhos, netos e bisnetos. (Foto: Alcides Neto)
Dona Albina, a mulher com quem ele ficou casado por 60 anos. (Foto: Alcides Neto)
Dona Albina, a mulher com quem ele ficou casado por 60 anos. (Foto: Alcides Neto)
Pela casa, seu Grimaldo espalha fotos da família. Ao fundo, a irmã que mora com ele. (Foto: Alcides Neto)
Pela casa, seu Grimaldo espalha fotos da família. Ao fundo, a irmã que mora com ele. (Foto: Alcides Neto)

Nos últimos anos, a casa que ele insiste em chamar de asilo ganhou vida através dos mais novos. "Você está dentro de um asilo, minha filha. Por quê? Porque mora eu e minha irmã. Eu tô com 94 e ela vai fazer 90", brinca.

As festas que não levam este nome e sim "reunião" servem para encher a casa de alegria, depois que dona Albina, a esposa, morreu. "Se eu fui casado? Só 60 anos. Sou viúvo", conta. A senhorinha das fotografias espalhadas pela casa se foi de fraqueza. "Sabe como é velho... Sempre tem uma queda, queda de coração. Faltaram alguns meses aí para os 60 anos", diz.

Da vida com Albina nasceram duas filhas, três netos e dois bisnetos. "De sobrinhos? Não tem conta viu? Porque todo mundo é meu sobrinho. Como eu estou com 94 anos, o pessoal foi tudo embora e o que resta é meu sobrinho", descreve.

A casa sempre foi grande por contar com o terreno do lado, onde era garagem. Mas depois que um dos irmãos também se foi e venderam, perdeu a vaga. "Perdeu" porque preferiu o carro na rua e gente dentro de casa.

No caminho para os fundos, outro painel de fotos na parede. Uma saudade materializada e uma viagem no tempo. "Aqui é meu avô, minha avó, minha mãe e o parentesco todo. Olha, eu gosto e inventei isso porque se não acaba tudo jogado nas gavetas. Aí comecei a colar", explica.

A churrasqueira que uniu família e amigos chega a servir carne para até 100 pessoas. (Foto: Alcides Neto)
A churrasqueira que uniu família e amigos chega a servir carne para até 100 pessoas. (Foto: Alcides Neto)

Quando a gente chega ao "barraco", que na verdade corresponde a 50m², a história chega ao fim. "Aí está a razão de eu fazer os encontros: 50m de fundo". A churrasqueira grande é tocada por um sobrinho que ele anuncia ser um artista no espeto. "Mas agora para domingo eu contratei um cara. Eu faço também, mas como já estou velho, ninguém acredita", brinca.

Passar dos 90 anos não tem diferença para quem viveu a vida como sempre. "Depois é igual antes dos 90, porque a gente vai vivendo, trabalhando, batendo papo, tomando churrasquinho", brinca com a bebida.

As reuniões acabam sendo quase que mensais, mas sem programação prévia. É só chegar um que a festa sai. "Como seria a vida sem a casa cheia? Ah..." o choro responde por ele. "Sou fraco, muito fraco, quando vem o sentimento, eu derreto", se justifica.

"Essa movimentação eu tenho para mim que é o fato da reunião, que é a minha satisfação ter o consagramento de todos batendo papo, os parentes presentes. Eu gosto e me emociona porque sou eu que sempre faço. Se alguém vai fazer depois? Não sei, mas tem gente que pode fazer..."

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Só de fundos, o lugar de festas tem 50 metros quadrados. (Foto: Alcides Neto)
Só de fundos, o lugar de festas tem 50 metros quadrados. (Foto: Alcides Neto)
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