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Comportamento

No nascer, na cultura e no pedal, quem são as mulheres que fazem ferver a cidade

Paula Maciulevicius | 08/03/2015 07:12
Paula: médica tem conseguido espaço e mostrado a força do movimento por um parto mais humanizado. (Foto: Marcos Ermínio)
Paula: médica tem conseguido espaço e mostrado a força do movimento por um parto mais humanizado. (Foto: Marcos Ermínio)

Paula Lidiane, Lauren Cury, Aline Cristina: nomes que estão fazendo Campo Grande movimentar cada qual na sua área. Do Sul do País, a médica ginecologista trouxe uma formação mais humanizada para ser obstetra aqui. Nascida e criada na Capital, Lauren resgatou da infância a paixão pela música e pela moda, segmentos que na criatividade dela se somam diariamente. Advogada, Aline está há pouco na cidade, mas vem fazendo acontecer por quem pedala.

Empoderamento - Paula Lidiane de Souza Possette Carvalho tem 34 anos, nascida no interior do Paraná, se formou em Medicina na Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2003, fez residência no Hospital das Clínicas de Porto Alegre e está em Campo Grande há dois anos. Com sotaque que ora lembra o gaúcho, ela se apresenta como obstetra que segue uma linha de trabalho que realiza cesária só quando necessário. 

Apesar do pouco tempo na cidade, as portas foram se abrindo e entre plantões e consultório, a propaganda de uma médica obstetra "parteira" foi circulando entre as gestantes. "Pacientes que gostavam do atendimento e queriam parto normal encontraram em mim uma médica que ia da assistência realmente necessária", afirma.

Ter o parto normal como prioridade vai na contramão do que se prega aqui. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ter o parto normal como prioridade vai na contramão do que se prega aqui. (Foto: Arquivo Pessoal)

Diante da carência que Campo Grande tinha quanto ao parto normal, Paula tem conseguido espaço e mostrado a força do movimento por um parto mais humanizado - que inclui toda estrutura de grupos formados por doulas, parteiras e mães que trocam experiências - "estou conseguindo dar essa assistência e atendendo praticamente só obstetrícia, que é o que eu faço com prazer, com amor".

Ter o parto normal como prioridade vai na contramão do que se prega em Mato Grosso do Sul, que vive ainda a cultura de incentivo às cesárias.

"A minha formação é diferente. Minha residência era num hospital de alto risco e mesmo assim, ficávamos abaixo do índice de cesária preconizado pelo Ministério da Saúde. Eu vim com isso, para mim é questão de honestidade. Não acho que seja uma condição especial, eu simplesmente prego que a maioria das mulheres tenham a possibilidade de ter o parto normal respeitoso, que seja um direito dela", afirma.

As dificuldades que Paula enfrenta não é só pela dedicação que esta linha de trabalho exige, de se organizar para ficar horas e horas ao lado das pacientes, a cara de menina também gera uma certa desconfiança. "Muitos acham que eu sou recém formada e também por você fazer algo 'diferente', se sofre um preconceito, quando na verdade o que você está fazendo é trabalhar um parto humanizado e respeitoso", justifica a médica.

Uma das conquistas que gestantes e toda equipe de preparo para o parto viveu foi ter conseguido colocar uma banheira dentro da Maternidade Cândido Mariano. "Não foi um pedido só meu, as pacientes já tinham feito esse pedido não só para o parto na banheira, mas para alívio da dor, como técnica não medicamentosa. É um mérito delas".

No fim, Paula não se diz radical, que se necessário realiza cesárias sim, mas que acima de tudo respeita a autonomia das pacientes. "Dizer que a paciente quer cesária? Mas você como obstetra orientou que o parto normal é melhor para ela e o bebê? Eu não posso só pensar na minha comodidade e sim no direito da paciente. Se eu não puder prestar assistência, eu indico um colega, mas não vou indicar uma cesária sem necessidade".

Lauren: da satisfação pessoal ao reconhecimento pelo coletivo de fazer acontecer na moda e na música. (Foto: Alcides Neto)
Lauren: da satisfação pessoal ao reconhecimento pelo coletivo de fazer acontecer na moda e na música. (Foto: Alcides Neto)

Na música e na moda - Apesar da cara de menina e de muito já feito no cenário das artes da Capital, Lauren Cury tem só 29 anos. Campo-grandense, formada em Moda e Artes Visuais e pós-graduada em Design de Interiores, Lauren trouxe as paixões de quando criança para a vida adulta. 

Na parte da música, ela canta desde pequena por hobby. "Meu pai era músico, comecei a perceber que eu gostava e com 18 anos, já na faculdade, acabei conhecendo uns amigos e tivemos uma banda, mas não era nada demais, só por hobby mesmo". Na bagagem, ela carrega a formação desde o Louva Dub, em 2006, até o projeto mais recente, uma big band em tributo a Bob Marley - "Bob Sound" que conta com 10 integrantes. 

A moda também veio para resgatar a brincadeira de infância. Quando menina Lauren gostava era de brincar de "lojinha", influenciada pelo meio em que vivia, de comércio. Entre o curso de Moda e o de Artes Visuais, ela abriu o primeiro ateliê - Quitanda - que depois de concluída a segunda faculdade, virou o "Gaveta".

O apreço que a estilista tem pelas coisas e roupas antigas foi posto em evidência nas prateleiras e araras. (Foto: Alcides Neto)
O apreço que a estilista tem pelas coisas e roupas antigas foi posto em evidência nas prateleiras e araras. (Foto: Alcides Neto)

Desde 2010, o apreço que a estilista tem pelas coisas e roupas antigas foi posto em evidência nas prateleiras e araras. E mais, o local virou incentivo para venda de marcas independentes daqui e de fora, além de dar o pontapé inicial na feira de antiguidades, que hoje ocupa a Praça Ari Coelho e a de moda - Bocaiúva. O próximo passo é entrar no teatro, emprestando o acervo de tantos anos de brechó.

"Sempre gostei de não ter uma rotina", define Lauren. Se percebe pelos meios em que ela transita que de paralelo vem se encontrando e fazendo acontecer. "Eu acho que parti de uma satisfação pessoal, a gente sabe que viver de arte, de música é difícil aqui. Sempre achei que eu teria que acreditar no meu trabalho e eu acredito que a minha força de vontade, em ter esse espaço e fazer com que ele fomentasse esse entorno da música, das artes, poderia dar certo. Fico feliz de poder fazer parte disso, de trazer a cultura do brechó para Campo Grande e na idade que eu estou, poder ter feito e fazer parte da cena da música e cultural".

Aline: o que a motiva a pedalar é crer que tem muita coisa boa para se fazer por aqui. (Foto: Marcelo Calazans)
Aline: o que a motiva a pedalar é crer que tem muita coisa boa para se fazer por aqui. (Foto: Marcelo Calazans)

Na bicicleta - Há 2 anos, a advogada Aline Cristina da Silva, de 33 anos, deixou Brasília para morar em Campo Grande. A terra natal é Araçatuba, mas ela acabou abraçando a Capital por gosto. Por acreditar que a cidade está em desenvolvimento, o que a motiva a pedalar e defender a causa é crer que tem muita coisa boa para se fazer por aqui.

"É uma cidade acolhedora e o que eu puder fazer para poder construir uma cidade melhor, com pessoas melhores e de bem, eu farei", se explica. Comercialmente falando, Aline não tem vínculos diretos com lojas de bicicleta e nem grupos. É mais uma apaixonada pela magrela que está disposta a mudar o que vê de necessário.

Por morar perto do Parque dos Poderes, passou a perceber um certo esquecimento da região e que precisava "movimentar". Além de ser uma das criadoras do movimento "O Parque dos Poderes é nosso", ela tem chamado atenção e mobilizado ciclistas, pedestres e batido nas portas das autoridades cobrando também projetos voltados para a atividade.

"Eu vejo um pouco aqui a falta de mobilização para querer as coisas. Se eu puder fazer melhorar a minha vida e das outras pessoas, por que não fazer?" se pergunta. O pai é ciclista profissional há quatro décadas, a partir daí ela atribui que andar de bicicleta está no sangue.  

Não existe, segundo ela, alguma motivação por trás além da satisfação pessoal. No entanto, o olhar mais humano de querer compartilhar dessa mesma paixão já alcançou a cidade de Dourados. Depois de veiculada a notícia de que uma indiazinha queria vender o cabelo em troca de uma "magrela", Aline se mobilizou e junto de um empresário de Dourados, conseguiu três bicicletas. Além da menina que queria dar o cabelo em troca, outras três também desejam uma bicicleta. 

O trabalho 'formiguinha' sobre duas rodas já tem rendido comprometimentos futuros, de por exemplo, fechar uma das faixas do Parque dos Poderes aos domingos apenas para ciclistas, mas o recado de Aline é que ela não vai parar por aí. "Eu quero que mude o País, mas não vou participar de um movimento para mudar o que é preciso na minha cidade? O que importa é o que eu estou fazendo, se eu conseguir concretizar meus planos, está valendo".

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