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Comportamento

Por menos briga e mais diálogo, divórcio colaborativo prioriza sentimentos

Dor de cabeça, burocracia e um processo que se arrasta por anos podem ser evitados com a prática.

Kimberly Teodoro | 31/08/2019 07:50
Divórcio colaborativo trás o diálogo para o centro do palco na resolução de conflitos.
Divórcio colaborativo trás o diálogo para o centro do palco na resolução de conflitos.

Quando um casamento acaba, a carga emocional das pessoas que fazem parte do que já foi uma história de amor deixa de ser leve. O fim de planos do que deveria durar uma vida inteira normalmente vem acompanhado de muita dor de cabeça, uma papelada infinita, desgaste financeiro e dois advogados prontos para uma boa briga jurídica. Para ressignificar a prática, que é um direito por aqui há cerca de 40 anos, surge o “divórcio colaborativo”, trazendo para o diálogo para o centro do palco.

Advogada de família especializada em direito sistêmico e colaborativo, Simone de Arruda Campos Godoy esclarece que no Brasil há duas formas de divórcio: o litigioso, onde o casal não entre em um acordo sobre partilha dos bens, dívidas, guarda dos filhos e etc., e o consensual, onde ambas as partes concordam com os termos da separação.

O primeiro é um processo caro, desgastante e pode levar anos e acaba levando ao “engole sapo”, onde as partes cansadas da briga acabam aceitando termos nem sempre vantajosos para chegar ao fim da disputa. Acaba o litígio, mas não o conflito. No segundo caso, quando não há filhos menores de idade ou incapazes na relação, desde 2010 é possível que o divórcio aconteça direto no cartório com a presença de um advogado.

Discussão trouxe nova perspectiva sobre a significação do divórcio.
Discussão trouxe nova perspectiva sobre a significação do divórcio.

Hoje, para resolver os conflitos, há uma prática ainda nova no Brasil, mas que já existe desde a década de 1990, o divórcio colaborativo. “Aqui a questão deixa de ser o passado, nós não vamos olhar para trás. A questão é: O que podemos fazer daqui para frente? As relações familiares não terminam, elas se transformam. Vamos nos transformar de marido e mulher em pais e mães engajados em fazer com que essa nova dinâmica da família funcione”, explica.

Para que dê certo, tanto os advogados, quanto o casal assinam um termo de “não litigância”, onde renunciam a possibilidade de recorrer ao processo litigioso, para que o ambiente hostil seja deixado de lado e ambas as partes possam investir na comunicação. Nada do que for dito dentro dessa “zona neutra” poderá ser usado como prova nos tribunais se uma das partes desistir do acordo. Nesse caso, os advogados envolvidos ficam impedidos de seguir com o processo.

Simone de Arruda Campos Godoy é  advogada de família especializada em direito sistêmico e colaborativo.
Simone de Arruda Campos Godoy é advogada de família especializada em direito sistêmico e colaborativo.

Antes de um jurídico, o divórcio é um processo emocional. E é onde o casal mais precisa de um olhar mais humano para entender que o conflito não é necessariamente ruim. “O que fazemos é incentivar o diálogo, a escuta aberta e a construção de um acordo que funcione para ambas as partes”, diz.

Além dos advogados, os envolvidos são amparados por terapeutas e especialistas financeiros que buscam o equilíbrio da relação. Quando há menores envolvidos, um profissional da psicologia infantil deve representar a voz dessas crianças, quem assim como os adultos, precisam ter os sentimentos considerados.

Mestre em psicologia, Raquel Icassati Almirão, atua como perita em processos de divórcio.
Mestre em psicologia, Raquel Icassati Almirão, atua como perita em processos de divórcio.
Claudia Naglis é psicóloga e terapeuta de família e casal.
Claudia Naglis é psicóloga e terapeuta de família e casal.

Como psicóloga que atua como perita em processos de divórcio, Raquel Icassati Almirão, mestre em psicologia, desenvolve um papel de neutralidade. “Quando fazemos essa perícia familiar, o que mais se nota é a tristeza da criança. O que mais chama a atenção é a tristeza no olhar, na falta de movimentos. Quando vemos uma criança com pouco movimento, um adolescente com pouca produtividade e os pais, no processo, entendem que esse filho está bem com eles a principal questão é a maneira como devemos relatar os acontecimentos sem piorar essa situação”, pontua a necessidade do olhar humano na situação.

Enquanto terapeuta familiar, o papel do psicólogo é dar voz à todos os membros. Cada um tem um sentido dos acontecimentos. De acordo com Claudia Naglis, psicóloga e terapeuta de família e casal, isso acontece porque cada indivíduo carrega as próprias crenças, valores e significados. Só então é possível compreender os problemas que devem ser mapeados para a construção do diálogo.

“O divórcio colaborativo nada mais é que uma prática dialógica onde você tem um espaço conversacional, onde você promove um diálogo para uma relação mais saudável. Onde estamos imbuídos de proteger os filhos”, explica Caludia.

A separação pode ser comparada a dor de perder um ente querido, pela perda dos sonhos e dos planos construídos ao longo do relacionamento. Por isso a conversa é tão importante para que a dinâmica familiar volte a funcionar.

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