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Comportamento

Projeto usa caixas de leite para revestir barracos e aquecer quem precisa

Ao invés de irem para o lixo, as caixas são higienizadas e reutilizadas para aquecer lares na periferia da cidade

Thaís Pimenta | 30/07/2018 07:00
Marina e Ligia colocam a mão na massa e ficam dois dias se preciso for para instalar em toda a extensão da casa as caixinhas. (Foto: Thaís Pimenta)
Marina e Ligia colocam a mão na massa e ficam dois dias se preciso for para instalar em toda a extensão da casa as caixinhas. (Foto: Thaís Pimenta)

Ao invés de irem para o lixo, caixas de leite, de sucos ou de iogurtes, vão parar nas paredes de madeira dos barracões do bairro Bom Retiro em Campo Grande. Essa é a principal ação voluntária do projeto Lar sem Frestas, da jornalista Ligia Sabka e da estudante Marina Bigam, que desde maio decidiram assumir essa ideia e trazer mais qualidade de vida para os moradores da periferia.

Você deve estar se perguntando qual a utilidade das caixas dentro dessas casas, mas vale lembrar que os barracões não tem paredes de verdade e são remendados apenas com placas de madeiras. "A realidade dentro desses lares é de muita poeira, que gruda nos tecidos esticados na parte interna cobrindo as placas. Quando no frio a casa não tem proteção e os moradores passam muito frio mesmo dentro de casa. No calor, o sol ferve os barracões, que são altamente inflamáveis", explica Ligia.

Como o próprio nome do projeto diz, as embalagens tampam as frestas desses remendos de madeira. Os seis camadas que formam as embalagens tem acabam tendo a função de "resfriar" o ambiente por conta do alumínio e do plástico contido nelas. As caixas são higienizadas, cortadas e costuradas na mesma direção, formando placas que lembram uma espécie de telha de Tetra Pak. Isso  ajuda a proteger também da chuva, impedindo que a água passe por ali.

Ajudantes animados com as visitas de tia Marina e de Ligia. Eles seguram e dão as placas para as tias.   (Foto: Thaís Pimenta)
Ajudantes animados com as visitas de tia Marina e de Ligia. Eles seguram e dão as placas para as tias. (Foto: Thaís Pimenta)
Marina pregando as placas. (Foto: Thaís Pimenta)
Marina pregando as placas. (Foto: Thaís Pimenta)
Grampos e grampeador elétrico são usados para instalação. (Foto: Thaís Pimenta)
Grampos e grampeador elétrico são usados para instalação. (Foto: Thaís Pimenta)

O trabalho de Ligia e de Marina é o de grampear essas placas na madeira. E a realidade é chocante quando elas chegam nas casas e precisam retirar os lençóis das paredes para instalar as caixinhas. "Forma uma verdadeira nuvem de poeira. A gente precisou começar a usar até máscara porque é muito agressivo, especialmente pra quem tem algum problema respiratório, como é o meu caso", conta Marina.

Isso faz um mal danado para quem mora dentro das casas. No lar do casal Iris Litieres Vargas e do Alexandre da Silva Sobrão, a bebê do casal de 10 meses, Valentina Vargas Sobrão, iniciou um quadro de pneumonia por conta das más condições do barracão.

Bastou o Lar sem Frestas retirar os artigos empoeirados das paredes para a pequena voltar a ter uma vida normal. "Falta informação a eles. Com certeza não fazem por maldade, é justamente por não saberem que aquilo ali faz mal a eles. Com as placas instaladas até a limpeza fica mais fácil, porque basta passar um pano úmido para limpar o material".

Cozinha da casa de Isabele.
Cozinha da casa de Isabele.
Quarto da casa de Iris, com os lençóis que faziam mal a Valentina.
Quarto da casa de Iris, com os lençóis que faziam mal a Valentina.

A maior dificuldade do projeto é encontrar gente que possa ajudar a higienizar, cortar e costurar essas caixinhas. "A gente hoje conta com a ajuda de três costureiras mas é um trabalho que envolve uma rede de solidariedade, desde aqueles que separam suas caixas para doar nos pontos decoleta do projeto, até as pessoas que vão higienizar essas placas já prontas", detalha Ligia.

Com um trabalho de formiguinha, pouco a pouco o Projeto ganha força para ajudar cada vez mais famílias. No bairro, elas priorizam famílias com crianças doentes ou com bebês.

Na última sexta-feira era a casa Isabele Roas e William Roas que recebia o Projeto Lar sem Frestas. O casal tem quatro filhos e a mais velha deles é Isadora Agata, de 5 anos, e está passando por hemodiálise três vezes na semana. Dereck William é o mais novo da turma, um bebê de 2 meses de vida.

"Eu acho que vai ser bom pra gente. Quem recebeu o projeto falou muito bem pra gente", diz a mãe, Isabele. Enquanto Ligia e Marina grampeiam as paredes, a criançada fica entusiasmada querendo ajudar. "A gente pede pra eles buscarem as placas pra gente", completa Marina, chamada o tempo todo de "tia Marina".

Se sensibilizou e quer ajudar de alguma forma o projeto? Basta acessar os link do Facebook  e do Instagram. É possível entrar em contato também pelo telefone (67) 99245-1005.

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