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Comportamento

Rede social canina é nas ruas e relação com dono pode ser “coleira” para fujões

Para facilitar o treinamento, as atividades precisam ser somadas a petiscos ou brinquedos favoritos

Danielle Valentim | 18/06/2019 06:23
Os cãezinhos de Carolina Okada são apaixonados por ela. (Foto: Kísie Ainoã)
Os cãezinhos de Carolina Okada são apaixonados por ela. (Foto: Kísie Ainoã)

Assim como a falta de contato com outras pessoas faz muita gente mergulhar nas redes sociais, a falta de relacionamento entre o tutor e o cãozinho pode transformar o amigo em “fujão”. Os anúncios de doguinhos perdidos surgem diariamente e o Lado B foi atrás de respostas para evitar tantas separações.

A médica veterinária Carolina Okada, proprietária do Cão em Equilíbrio, que oferece consultoria comportamental , day care educativo e serviço de hotelaria para cães, explica que a socialização dos cães é extremamente ligada ao olfato, ou seja, ele precisa do cheiro do seu dono.

“Se ele fica abandonado o dia todo, ele quer sentir o cheiro de outros cães. Em resumo ter uma vida social. O fato de o cachorro cheirar o xixi e o cocô de outros cachorros se compara a nossa navegação no Instagram ou Facebook, vendo fotos e conhecendo outras pessoas. É no olfato que ele conhece o outro animal. Quando ele urina nos lugares também é mais uma questão social de deixar o cheiro dele e não, necessariamente, de marcar o território como fazem os animais selvagens”, explica.

Carolina com um dos hóspedes. (Foto: Kísie Ainoã)
Carolina com um dos hóspedes. (Foto: Kísie Ainoã)

Para explicar a ação dos “cheiradores”, muitos antigos contavam a história da festa dos cães. Na narrativa, assim como os humanos tiravam os chapéus e penduravam na entrada dos bailes, no evento os cachorros tiraram os rabos e os deixaram próximo à porta.

O problema é que durante uma confusão, a festa foi evacuada e na correria muitos cães pegaram o rabo trocado e, até hoje, precisam cheirar o rabo alheio para saber se é o seu.

A gurizada acreditou no conto por muito tempo, mas a explicação é científica. O olfato dos doguinhos é mais avançado que o do ser humano e é dessa forma que eles se reconhecem, aceitam, sentem medo ou simplesmente enxerga algo como inimigo. O olfato mais apurado envia todas as informações ao cérebro.

Onde entra a fuga? No relacionamento com o dono. Quando a vida é solitária no quintal, outros “coleguinhas” preenchem o vazio e a rua se torna mais atrativa. As atividades devem começar com os animais ainda filhotes, mas há solução para adultos “rueiros”.

Carolina treinando Estela, única pitbull do Estado a fazer parte do projeto dos Bombeiros de "cãoterapia". (Foto: Kísie Ainoã)
Carolina treinando Estela, única pitbull do Estado a fazer parte do projeto dos Bombeiros de "cãoterapia". (Foto: Kísie Ainoã)
"O mais certeiro mesmo é criar uma relação com seu cachorro para que ele não precise fugir de você”, conta.
"O mais certeiro mesmo é criar uma relação com seu cachorro para que ele não precise fugir de você”, conta.

Caroline dá um exemplo muito comum de quando a fuga se transforma em uma brincadeira de “pega-pega” na cabeça dos cachorros.

“Normalmente eles escapam durante a abertura do portão. Você vai atrás e vira aquela correria. Para cachorro vira uma brincadeira de pega-pega. Ele vai passar outro dia inteiro preso e sem brincadeira e a fuga vai ser mais legal do que ficar dentro da casa”, pontua.

A castração faz parte da solução, mas antes de indicar o procedimento, Okada defende as brincadeiras como uma forma de treinamento.

“A castração ajuda bastante, principalmente, dos machos, pois paralisa a produção de muitos hormônios. Mas se o cão não tem muito que fazer, ele também vai querer sair. Os cães precisam de um ambiente para gastar as energias. Se ele não tem, a rua pode ser mais interessante”, pontua a veterinária.

Os cães precisam de um ambiente para gastar as energias.  (Foto: Kísie Ainoã)
Os cães precisam de um ambiente para gastar as energias. (Foto: Kísie Ainoã)
Estela é única pitbull a participar da cãoterapia dos Bombeiros. (Foto: Kísie Ainoã)
Estela é única pitbull a participar da cãoterapia dos Bombeiros. (Foto: Kísie Ainoã)

Com aplicações que variam entre R$ 75 e R$ 100, a veterinária pondera que o microchip não é solução. Segundo ela, nem todo lugar conta com scanner ou leitor. Além disso, é preciso entender que o microchip não é um localizador. A vantagem é que se alguém encontrar um animal “chipado” o dono será encontrado mais rápido já que o dispositivo conta com todas as informações.

“Se todos os estabelecimentos tivesse scanner tudo bem, mas não são todos que tem. As vezes a pessoa acha e não leva até um lugar com leitor para tentar achar o dono. O mais certeiro mesmo é criar uma relação com seu cachorro para que ele não precise fugir de você”, conta.

Dona de quatro cachorros e três gatos, a veterinária garante que uma semana é suficiente para um “adestramento express” prático e rápido. Em princípio, o dono só vai precisar de uma guia de 6 metros e, claro, muitos petisquinhos gostosos.

Dono só vai precisar de uma guia de 6 metros e, claro, muitos petisquinhos gostosos. (Fotyo: Kísie Ainoã)
Dono só vai precisar de uma guia de 6 metros e, claro, muitos petisquinhos gostosos. (Fotyo: Kísie Ainoã)
A aventura começou com a abertura do portão. A veterinária começou chamá-lo, mas as primeiras tentativas foram inúteis. (Foto: Kísie Ainoã)
A aventura começou com a abertura do portão. A veterinária começou chamá-lo, mas as primeiras tentativas foram inúteis. (Foto: Kísie Ainoã)

“O ideal é começar o treinamento com uma guia longa de pelo menos 6 metros, dessa forma ele tem espaço para correr e voltar. O ideal é fazer um passeio “treino” para ensinar o cachorro a esperar, a olhar para você. Você vai ensinar que ele não precisa fugir e ao chamá-lo de volta é só entregar um petisco. A repetição dessa atividade vai mostrar que ele não precisa fugir e que ali tem o que ele precisa”, explica.

O Lado B viu de perto a experiência com o petisco funcionar. Okada deu abrigo temporário a um vira-lata resgatado. Antes do cãozinho ser adotado, a veterinária aproveita para treiná-lo.Ela colocou um peitoral no animal e encaixou a guia de seis metros. A aventura começou com a abertura do portão. Desesperado para fugir, o pequeno vira-lata gritava e pulava.

Com um petisco na mão, a veterinária começou chamá-lo. As primeiras tentativas foram inúteis, pois a única intenção do cão era somente conseguir escapar e voltar para a liberdade da rua. Parece mentira, mas bastaram poucos minutos para que o cachorro esquecesse o portão escancarado e ficasse vidrado na tutora junto aos colegas de quintal.

Desesperado para fugir, o pequeno vira-lata gritava e pulava. (Foto: Kísie Ainoã)
Desesperado para fugir, o pequeno vira-lata gritava e pulava. (Foto: Kísie Ainoã)
Ainda de coleira e com portão aberto, o cãozinho já não se importava mais em fugir. (Foto: Kísie Ainoã)
Ainda de coleira e com portão aberto, o cãozinho já não se importava mais em fugir. (Foto: Kísie Ainoã)

A médica veterinária Caroline Okada tem espaço para hotelaria para cães, como as creches para crianças, e oferece consultoria comportamental. “Eu dou uma aula para os tutores. Resumidamente, ensino a lidar com os cães”, finaliza.

Confira o trabalho da veterinária nas redes sociais. Confira abaixo mais fotos do treinamentos dos cães.

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