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Comportamento

Representante de MS no Miss Trans Brasil é acusada de racismo após resultado

Candidata conquistou a quarta colocação e, em vídeo, se posicionou contra escolha dos jurados em relação a 1ª colocada

Liniker Ribeiro | 25/10/2020 22:00
Mariane Cordon Cáceres, eleita Miss Trans Mato Grosso do Sul, em 2019, embarcando para etapa nacional (Foto: Reprodução/Instagram)
Mariane Cordon Cáceres, eleita Miss Trans Mato Grosso do Sul, em 2019, embarcando para etapa nacional (Foto: Reprodução/Instagram)

Eleita Miss Trans Mato Grosso do Sul, em 2019, Mariane Cordon Cáceres, de 22 anos, se envolveu em polêmica após representar o Estado na fase nacional da competição, neste sábado (24). Em vídeo que circula nas redes sociais, a candidata de MS se posiciona contra o resultado do concurso e chega a atacar com palavras a campeã, Eloá Rodrigues, representante do Rio de Janeiro.

“Representei lindamente o Estado do Mato Grosso do Sul, peguei um ‘Top 5’, que era minha intenção, mas eu sei que, de acordo com a minha desenvoltura e o meu resultado, eu merecia ir muito além e não deveria ter perdido ‘para isso’”, diz a Mariane em vídeo publicado em seu perfil no Instagram.

Rapidamente as imagens foram baixadas por usuários da rede social e repercutiram não só aqui no Estado, como também em outras federações do país. Quem assistiu ao vídeo levantou suspeitas de racismo e transfobia por parte da Miss MS.

“Atitude totalmente desnecessária, infantil, e com certeza não é uma atitude de Miss”, afirma publicação em perfil voltado para fãs de concursos de beleza.

Aqui no Estado o vídeo também foi confrontado por internautas, principalmente eleitores que acompanhavam o trabalhO de Mariane No período das Eleições 2020, já que ela concorre a uma das vagas na Câmara Municipal de Campo Grande, junto da Bancada Cidadã, que tem como titular Frank Rossate (DEM) e conta com a presença de outras cinco pessoas no coletivo, incluindo Mariane.

Porém, após a repercussão do vídeo, integrantes do coletivo se posicionaram por meio do Facebook. Em vídeo postadO na manhã deste domingo, o grupo anunciou o afastamento da modelo.

Trecho do vídeo postado pela candidata de MS em que ela se refere à campeã (Foto: Reprodução/Internet)
Trecho do vídeo postado pela candidata de MS em que ela se refere à campeã (Foto: Reprodução/Internet)

“Temos uma carta de compromisso. A Bancada Cidadã presa pela igualdade de direitos, pelos direitos humanos e, em especial, a comunidade LGBT. (...)  Perante isso, nós da Bancada, viemos dizer que a cocandidata Mariane Cordon está sendo afastada desse coletivo por razões essas que foram expostas nas redes sociais por meio de vídeos e imagens. Nós repudiamos qualquer ato racista e transfóbico, ou qualquer outro ato de discriminação”, diz o presidente do coletivo, em vídeo.

Posicionamento – Em entrevista ao Campo Grande News, Mariane Cordon, que conquistou a quarta colocação na competição, falou sobre o assunto.

“O concurso aconteceu no sábado, fiquei em quarto lugar, em primeiro a Eloá, do Rio de Janeiro. Uma mulher trans, preta, extremamente política e inteligente”, afirma.

Mariane durante manhã de atividades antes da final do concurso de beleza (Foto: Reprodução/Instagram)
Mariane durante manhã de atividades antes da final do concurso de beleza (Foto: Reprodução/Instagram)

“Foi um resultado que surpreendeu todo mundo, porque ninguém esperava, ninguém colocava ela nos ‘tops’, não era alguém que víamos com ameaça, não era alguém que achávamos que seria a vencedora, e digo no plural porque sou eu e mais candidatas. Mas acabou que eu que tive essa visibilidade por conta da palavra que eu usei de maneira errada e da repercussão que teve  todo esse acontecimento”, afirma.

Ainda segundo a modelo, o vídeo foi postado nas redes sociais na manhã seguinte. “Após a divulgação das fotos da campeã, depois de já ter mais de 350 comentários, quase 80% deles negativos, sem eu ter feito nada, na manhã seguinte eu fui ver as minhas notas e tive a surpresa de encontrar uma das notas dos jurados, que eram papeis individuais, sem nome e com notas baixíssimas, que foram as notas que me tiraram do top 3. Fiquei revoltada e gravei um vídeo dizendo sobre as notas, o quanto isso era estranho e não fazia sentido aquilo, ter um papel com notas baixas, sem o nome do jurado”, argumenta.

“No calor do momento, da minha raiva, eu acabei me expressando super, hiper mal, a campeã estava atrás de mim, tomando café da manhã, e eu disse que eu não acreditava que perdi ‘para isso’”, reconhece Mariane.

Em seguida, a Miss T MS se explicou sobre a expressão falada. "O ‘isso’ repercutiu super negativo, entendo super aonde bateu na tecla do ‘isso’, mas eu não usei o ‘isso’ como forma de racismo ou transfobia, eu usei o ‘isso’ pelo desempenho dela, pela minha visão dela como candidata do Miss Brasil, dentro do confinamento. Eu não acredito que ela tenha sido a melhor. Para mim, a melhor, a campeã do Miss Brasil T 2020 tinha que ser a miss Bahia, que também é uma mulher preta, então não faz sentido nenhum as pessoas dizerem que foi um comentário racista, porque não foi. Pelo menos não foi a minha intenção”, diz.

Eloá Rodrigues, no meio, com a faixa de Miss Beleza T 2020 (Foto: Reprodução/Instagram)
Eloá Rodrigues, no meio, com a faixa de Miss Beleza T 2020 (Foto: Reprodução/Instagram)

“Sei que pode ter soado, ter parecido, eu sinto muito por isso. Estou muito arrependida, tanto é que o ‘stories’ ficou nas redes por cinco minutos, foi o tempo necessário para as pessoas gravarem e soltarem nas redes sociais. O ‘isso’ nunca foi para desvalorizar a cor e o gênero da ‘Elo’, foi por conta do desenvolvimento dela. Eu descordei do resultado sim, por conta dos looks que ela apresentou durante o confinamento, por conta dela na passarela, por conta do traje de galã, do cabelo, da maquiagem, como eu me expressei nas redes sociais. Eu disse que ela é extremamente inteligente e pode ter levado pela oratória, mas que não fazia muito sentido para mim esse resultado”, ressaltou.

Mariane também comentou o fato de ter sido afastada da bancada que representa. “Já fui afastada da minha carreira política, infelizmente. (...) Estou muito triste, não é o que eu queria, assim como o Miss T, a eleição da bancada também é um sonho meu, mas eu sei do meu ato e das consequências dele”, comenta.

Para finalizar, Mariane afirmou ainda estar em São Paulo, mas que nesta segunda-feira (26), pretende se posicionar sobre o ocorrido em suas redes sociais. “Em nenhum momento minha intenção foi ser preconceituosa com a candidata em relação a qualquer coisa, seja cor de pele, seja gênero, até porque eu também sou mulher trans. O que eu disse, o “isso”, foi por conta do desempenho dela dentro do concurso, eu não concordei com o resultado, mas não porque ela é uma pessoa preta, não porque ela é uma pessoa trans, mas pq eu achei que tinham candidatas melhores e mais preparadas para estar naquele lugar”, conclui.

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