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Comportamento

Sábado de Aleluia, dia de "malhar" o Judas

Luciana Brazil | 30/03/2013 12:27
Tradição de "malhar" o Judas é lembrada por nordestinos em Campo Grande. (Fotos:João Garrigó)
Tradição de "malhar" o Judas é lembrada por nordestinos em Campo Grande. (Fotos:João Garrigó)

A tradição perdeu força e hoje quase ninguém conhece o costume de “malhar” o Judas no sábado de Aleluia. Em Campo Grande é raro encontrar quem ainda faça o Judas de pano. Bem vestido, de calça, paletó, camisa e sapato, o boneco apanha, recebe xingamentos e depois é enforcado.

Na tradição, o boneco representa o apostolo Judas Iscariotes, que se enforcou depois de trair Jesus. De acordo com a Igreja Católica, o discípulo recebeu 30 moedas de prata para indicar, com um beijo no rosto, quem seria o filho de Deus entre os apóstolos.

Hoje pela manhã, no bairro Aero rancho, lá estava ele, abandonado em uma esquina, pronto para morrer como um traidor. Aparentemente, logo cedo, o Judas ainda não tinha “sofrido”, mesmo sendo este o objetivo. Ele parecia esperar por quem tivesse a coragem de iniciar o espancamento.

A traição de Judas se tornou uma das mais simbólicas da história da humanidade. Como vingança, o costume veio para a América Latina trazida por portugueses e espanhóis, de acordo com os historiadores.

Recheado com trapos, o boneco é pendurado em postes de iluminação pública, galhos de árvores, porteiras, currais, e lá apanham bastante, são rasgados e podem ser também queimados. No Brasil, a população aproveita para colocar máscara de políticos ou de personalidades que estejam desagradando, e assim, aproveitam para bater nos bonecos.

Crianças que passavam perto, ficavam curiosas, mas não tinham ideia do que significava o boneco.
Crianças que passavam perto, ficavam curiosas, mas não tinham ideia do que significava o boneco.

Vindos de longe: Nascidos onde a tradição ainda é mantida, dois nordestinos aguardavam, coincidentemente na manhã de hoje, o ônibus bem ao lado do boneco Judas, no Aero Rancho. Bons de papo, ambos aproveitaram para relembrar histórias.

Criado em Cana Brava, em Alagoas, Manoel Minervino, 70 anos, está em Campo Grande há 23, mas lembra como se fosse hoje das investidas no mato para procurar armas que servissem para estraçalhar o boneco.
“As crianças faziam o Judas e a gente corria pro mato procurando pedaço de pau para bater nele. A gente pegava qualquer coisa“.

O companheiro, pernambucano, Edmilson Gomes de Lima, 63 anos, explica que no interior do nordeste a tradição segue. “ Sou de Recife, mas na minha infância a gente sempre esperava o sábado de Aleluia pra enforcar o Judas”.

A reportagem do Campo Grande News não conseguiu encontrar o dono do boneco, mas a intenção era lembrar que traidores nunca seram bem lembrados.

A curiosidade não é só de criança. Quem não conhece a tradição, passa pelo boneco com o olho grande. "Não sei o que é. Pensei que fosse macumba", contou a menina Jéssica Borges de 14 anos. Ao passar pelo Judas, Jéssica, assim como as amigas, não sabia o que o boneco significava.

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