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Comportamento

Um monte de números e "O cometa de Halley do meu pai"

Lenilde Ramos | 14/06/2015 09:25
Um monte de números e "O cometa de Halley do meu pai"

Escrever é também lidar com números. Por isso tento me fazer entender nessa introdução cheia de datas. Seguinte: quando nasci, em 1952, meu pai Severino era um coroa de 50 anos. Ao escrever meu livro História sem Nome, entrevistei o avô do amigo Silas Paes Barbosa Júnior, dr. Orestes Rocha e, no meio da conversa, descobri que ele e meu pai haviam nascido no mesmo ano: 1903.

Gostei da “coincidência” e comecei a perguntar sobre coisas que meu velho pai contava e, uma delas, era sobre o Cometa de Halley, que assombrou o mundo em 1910, quando ele e dr. Orestes eram meninos de 7 anos de idade. Meu pai morava em Vitória de Santo Antão, no Pernambuco e dr. Orestes, no Triângulo Mineiro. Meu pai contava que o povo começou a reparar que uma estrela crescia a cada noite e ia ficando cada vez maior, até parecer outra lua. Esse fenômeno real desnorteou a vida do lugar.

As mulheres se juntavam para rezar, os homens confabulavam, as crianças se divertiam e os animais ficavam perdidos sem saber o que fazer. Meu pai contava que os galos não sabiam mais a hora de cantar e que a estrela deixava um rastro luminoso no céu... Só podia ser o fim do mundo.

A notícia se espalhou e as rezas se intensificaram. Dr. Orestes contava que na madrugada o brilho ficava ainda mais bonito. Ele e seus irmãos eram despertados pela negra alta, de canela fina, que trabalhava em sua casa e os levava ao quintal para apreciar o fenômeno.

Assim como foi chegando e brilhou, depois de um tempo, o cometa foi se distanciando para prosseguir em sua rota. O mundo não se acabou e o povo da cidade de meu pai só foi levar outro susto quando entrou pelas ruelas do lugar um carro andando sozinho, sem cavalos. Foi um espanto! O Cometa de Halley, que passa pela Terra a cada 76 anos, deveria voltar em 1986.

O sonho do meu pai era alcançá-lo novamente mas, em 1981 ele partiu desse plano. Agora era a minha vez de ver esse grande fenômeno e eu contava os dias para a volta do cometa. Dr. Orestes e eu alcançamos a data, mas nos frustramos porque não vimos nada, "só notícia de jornal e televisão", como dizia ele.

O cometa passou longe, mas deve voltar em 2061. Dr. Orestes se foi e, é bem capaz que eu não alcance o retorno do Halley. Nesse ano, meu filho mais velho terá 83 anos e o filho dele, 46. Se o cometa passar pertinho, eles terão uma boa história para contar.

*Lenilde Ramos é sanfoneira e craque em contar histórias sobre a vida e Mato Grosso do Sul, autora do livro "História sem Nome".

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