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Comportamento

Em Campo Grande, noivos gays sofrem com burocracia para poder casar em Londres

Ângela Kempfer | 25/08/2011 08:00
Bruno e Stephen mostram alianças de noivado. (Foto: João Garrigó).
Bruno e Stephen mostram alianças de noivado. (Foto: João Garrigó).

Com o hotel cinco estrelas contratado para a festa de casamento no dia 22 de outubro, em Londres, Bruno Henrique Busanelli sofre em Campo Grande ainda sem a papelada necessária para voltar à Inglaterra.

Há um ano ele conheceu na balada londrina Stephen Paul Whelan, um amigo que meses depois virou o namorado e agora exibe a aliança de noivo, já na mão de casado. “Vamos fazer uma aliança de casamento, mas quando ele mandou fazer essa, já encomendou para a mão esquerda,” explica Bruno, que recebe um beijo na testa do parceiro inglês.

Desde dezembro de 2010, os dois moram juntos em Londres e este ano decidiram casar, como forma de garantir a permanência de Bruno na Inglaterra. Há 5 anos, o sul-mato-grossense vive sem visto no país, sem qualquer visto. “Fui com visto de estudante em 2004, depois de me formar em Fisioterapia, e venceu”, justifica.

Mas o que pode ser a solução desencadeou uma série de gastos e frustrações. Um dos problemas é que no Brasil só existe a declaração de união homoafetiva, não o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. “Só o casamento civil é universal e vale em qualquer parte do mundo, a união homoafetiva não tem validade alguma na Inglaterra”, diz Bruno.

Bruno foi morar na Inglaterra em 2004, para estudar.
Bruno foi morar na Inglaterra em 2004, para estudar.

Para provar a união na Inglaterra e conseguir um visto especial de noivo, Bruno já contabiliza mais de R$ 10 mil gastos em testes de inglês, passagens aéreas e taxas de documentos.

Todo o processo de solicitação de visto deve ser feito via Embaixada da Inglaterra no Brasil e a primeira fase – o teste de inglês - é aplicada em escola britânica, para provar que o candidato sabe falar e interpretar o parceiro.

Ocorre que um mês depois de fazer o teste e pagar 800 libras (2,2 mil reais) pelo início do processo, Bruno teve o visto negado porque a escola já não estava mais cadastrada. “Me senti enganado, porque a escola estava na lista oficial da migração e só foi desligada depois que fiz a prova. Tinham de aceitar de forma retroativa”.

Como não houve acordo, Bruno teve de passar por outra prova e agora espera o resultado. Além disso, já teve de provar que é completamente sustentado por Stephen, que têm conta conjunta e apresentar cartas de amigos comprovando o relacionamento.

A solução seria casar na Argentina, onde o casamento civil entre homossexuais é regulamentado, e depois voltar casado à Inglaterra para tentar o visto permanente. “Decidimos que não iria compensar, então resolvemos continuar com o processo aqui mesmo”, lembra Bruno.

Stephen é produtor de filmes publicitários de moda.
Stephen é produtor de filmes publicitários de moda.

O Lado B dessa história são as comparações que partem de Stephen, encantado com o tratamento brasileiro. Em inglês, ele revela a boa surpresa de ser tratado dignamente no cartório do 2º Ofício, em Campo Grande.

“Na Inglaterra não há contato nenhum, os atendentes são todos anônimos e muita desinformação. Aqui, o atendente explicou tudo que precisávamos saber, nos orientou, foi explicativo”.

Outra vantagem, diz, de forma hipotética, seria no caso de permanecer no Brasil com Bruno, ao invés de ter de retornar a Londres. “Ele precisaria só do CPF para casar, que custa R$ 5,49. Era só ir até a Receita Federal, depois pegar o documento e ir ao cartório”, comenta Bruno.

Como Stephen tem um trabalho reconhecido em Londres, onde produz filmes publicitários de moda, os dois não pensam em ficar.

Em Campo Grande, eles estão na casa dos pais de Bruno, mas dormindo em colchões separados. “A gente respeita muito a minha família”, explica.

A dois meses do casamento em Londres, com 70 pessoas já convidadas e até DJ contratado e pago, Bruno e Stephen prometem que, se tudo der certo, vão enviar a foto da festa ao Brasil para mostrar o final feliz.

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