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Comportamento

Há 50 anos, renunciava Jânio, único presidente nascido em Campo Grande

Marta Ferreira e Paula Maciulevicius | 26/08/2011 10:57
Jânio Quadros na célebre foto de pés trocados. (Reprodução)
Jânio Quadros na célebre foto de pés trocados. (Reprodução)

O ano era 1961. Campo Grande comemorava seus 62 anos, ainda como cidade do interior do Mato Grosso de pouco mais de 60 mil habitantes. A data festiva foi ofuscada por um acontecimento que agitou o País e teve conseqüências históricas: no dia anterior, o único homem registrado em Mato Grosso do Sul já eleito presidente da República, Jânio da Silva Quadros, renunciava, culpando “forças terríveis”.

Era o fim de um mandato de sete meses mas de uma carreira longa na política. Jânio, morto em 1992, deixou a memória de político pitoresco, lembrado por seu sotaque estranho, de nenhum lugar, suas declarações esquisitas, atitudes questionadas e também pelos imbróglios familiares. Um deles foi o fato de ter pedido para soltar o assassino do pai, o deputado por São Paulo Gabriel Quadros, quando era governador.

O crime foi passional e os registros históricos contam que, para o governador e filho da vítima, o matador apenas havia defendido a “honra de sua casa” ao descobrir um caso da mulher com Gabriel Quadros.

A ligação de Jânio com Campo Grande tem a ver com o perfil do pai, um curitibano errante, que andou pelo Paraná, por Mato Grosso e se fixou em São Paulo.

O nascimento de Jânio em Campo Grande, embora seja informado sempre junto com a biografia do político, é nebuloso. Historiadores consultados pelo Campo Grande News rejeitam a veracidade da informação ou atribuem a uma passagem rápida da família por aqui. “Nem na biografia dele ele fala sobre a cidade”, comenta a historiadora Alisolete Weingartner.

Outro historiador, Hildebrando Campestrini, diz que essa história ainda merece ser esmiuçada. Na versão dele, Gabriel Quadros teria se hospedado em um hotel na 14 de julho, perto da avenida Mato Grosso, e depois da quarentena da esposa após o parto, foi embora. O nascimento, de fato, foi em Miranda, observa, e apenas o registo foi em Campo Grande.

Essa informação consta do livro “Pescador de Sonhos”, as memórias do ex-governador Pedro Pedrossian. Ele conta que Janio nasceu em uma chácara de Miranda, conforme relato que obteve da mãe, que havia estudado, conforme Pedrossian, com Leonor, mãe de Janio Quadros.

Jânio e a simbólica vassoura usada como símbolo de  campanha. (Foto: Reprodução)
Jânio e a simbólica vassoura usada como símbolo de campanha. (Foto: Reprodução)
No Hotel Santa Mônica, em Corumbá, fotos da temporada forçada de Jânio na cidade. (Foto: Divulgação)
No Hotel Santa Mônica, em Corumbá, fotos da temporada forçada de Jânio na cidade. (Foto: Divulgação)

Documento oficial - Questionamentos à parte, o fato é que, ontem, quando foram lembrados os 50 anos da renúncia de Jânio, Campo Grande foi citada, sempre, como a cidade de nascimento. É assim que está nos registros do Palácio do Planalto, na galeria disponível no site oficial. Lá, a informação é de que o ex-presidente é nascido em Campo Grande, no dia 25 de janeiro de 1917, às 11 horas.

É possível, inclusive, localizar na internet uma cópia da certidão de nascimento dele, lavrada por Eduardo Santos Pereira, o primeiro dono do cartório de registro civil da cidade, até hoje nas mãos da mesma família. O endereço do nascimento é a rua 14 de julho, no trecho próximo à avenida Mato Grosso, onde, hoje, existem apenas pontos comerciais.

No Paraná, estado de origem do pai de Jânio e onde ele iniciou os estudos, os relatos encontrados em diversos jornais na internet sobre a passagem da família por Mato Grosso do Sul dizem que Gabriel Quadros, então farmacêutico, tentou a vida no Mato Grosso em 1916, instalou uma farmácia aqui, casou-se com uma moça conhecida em Miranda, teve o filho em Campo Grande, em 1917, e, em 1924, voltou para Curitiba, onde estabeleceu carreira de médico e de político. Jânio teria vivido, então, 7 anos em Campo Grande.

Cópia da certidão, feita por Eduardo Santos Pereira, dono do primeiro cartório de registro em Campo Grande. (Foto: Wikipedia)
Cópia da certidão, feita por Eduardo Santos Pereira, dono do primeiro cartório de registro em Campo Grande. (Foto: Wikipedia)

Exílio no Pantanal- Se a passagem por Campo Grande sugere uma espécie de lenda, em Corumbá há um memorial alusivo aos 4 meses que Jânio Quadros viveu no Hotel Santa Mônica, um dos mais tradicionais da cidade.

Foi em 1968, quando o ex-presidente enfrentou um isolamento imposto pelos governantes, após falar mal do Governo Militar. No saguão do hotel, fotos da passagem de Jânio pela cidade estão expostas.

A ligação com Mato Grosso do Sul também continua viva em um personagem da vida de Jânio. Filho de uma corumbaense, o ex-vereador e hoje consultor de empresas Victor Cabrera Eugênio foi secretário particular do ex-presidente por décadas e vive em Campo Grande até hoje.

A pesquisa dos historiadores sobre Jânio revela, ainda, uma informação que pode desagradar aos sul-mato-grossenses de nascimento ou de coração: Jânio foi contra a criação do estado, afirmou a historiadora Alisolete.

Esse posicionamento, aliado às incertezas sobre a vida dele no Estado, ajuda a entender o fato de que, mesmo tendo chegado ao posto máximo no País, a Presidência República, o cidadão campo-grandense de registro só foi homenageado pelo Poder Público local 4 anos após sua morte, quando passou a dar nome ao CEM (Centro Médico Especializado), no bairro São Fransisco. Em 2009, Jânio Quadros também batizou o Parque Linear do Segredo.

Registro diz que Jânio nasceu nesse trecho da 14 de Julho. (Foto: João Garrigó)
Registro diz que Jânio nasceu nesse trecho da 14 de Julho. (Foto: João Garrigó)
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