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Consumo

Fantasias e roupas infantis costuradas por Gislaine dão vida à imaginação

Para ficar mais perto do filho depois de diagnóstico de autismo, ela deixou o trabalho em loja movimentada do shopping e aprendeu a costurar em casa.

Kimberly Teodoro | 17/03/2019 07:53
A habilidade com a costura está na família há gerações, mas não fazia parte da rotina de Gislaine até o ano anterior
A habilidade com a costura está na família há gerações, mas não fazia parte da rotina de Gislaine até o ano anterior

Gislaine Amaral cresceu vendo a mãe costurar, mas só se interessou pelo ofício que está na família há gerações depois de descobrir que o filho, Luiz Guilherme, de 3 anos, é autista. O diagnóstico mudou completamente a rotina de quem trabalhava no comércio de Campo Grande mais de 8h por dia, desde então a confecção de roupas infantis e fantasias para festas e ensaios fotográficos passou a ser fonte de renda extra.

Formada em Pedagogia, mas nunca exerceu a profissão. Muito comunicativa e animada, ela conta que sempre gostou de lidar com público e ver o movimento do comércio. trabalhar como vendedora em um shopping a fazia se sentir mais viva. Tanto que antes de ser mãe, era difícil imaginar outra vida, mas ela acabou se descobrindo na calmaria que transformar pedaços de pano em peças de roupa exige.

“Na família da minha mãe, as mulheres aprendem a costurar e bordar desde muito cedo, eu já fazia ponto cruz e pet aplique, mas costura mesmo eu aprendi tem quase 2 anos na máquina que era da minha bisavó”, conta. O “Arte Nossa CG”, instagram por onde Gislaine vende as roupas feitas por ela tem mais tempo que isso, no começo as postagens eram de trabalhos feitos pela mãe. em que ela costumava ajudar, mas que não despertavam muito interesse.

Hoje a especialidade de Gislaine são fantasias lúdicas para ensaios fotográficos e aniversários.
Hoje a especialidade de Gislaine são fantasias lúdicas para ensaios fotográficos e aniversários.

No começo eram apenas capinhas de tecido para carteira de vacinação, fraldas de pano e lenços bordados e customizados, a necessidade de aprender novos modelos e começar a costurar roupas veio naturalmente, com o aumento de pedidos das clientes. “A minha primeira peça de roupa foi uma calcinha branca para um batizado, eu avisei a cliente que eu nunca tinha feito, mas que topava o desafio. Procurei na internet até encontrar um molde e assisti vídeos no youtube de como fazer até dar certo, enviei a calcinha em três tamanhos para teste e ela acabou ficando com dois deles”, relembra.

Gislaine assumiu o controle do “negócio da família”, depois que a mãe resolveu se mudar para Santa Catarina e ela precisou passar mais tempo em casa ao lado do filho. “Por mais que eu gostasse da rotina no shopping, eu tinha um filho pequeno em casa que precisava da minha atenção. Calhou que na mesma época em que eu pretendia parar de trabalhar, a loja estava fechando, então fiquei um tempo a mais que o planejado para ajudar a dona a arrumar as coisas e só parei quando a última caixa tinha sido embalada e despachada”.

No fim do período de Gislaine como vendedora, a mãe ainda morava em Campo Grande e ficava com o pequeno Luiz Guilherme durante o dia. Na correria, ela conta que levava cerca de 1h30min para chegar ao trabalho todos os dias, já que precisava deixar o Luiz na casa da mãe em um bairro distante do seu e depois “atravessar” a cidade até o shopping.

Depois de sair da loja, ela ainda pensava sobre o que fazer, a ideia era procurar um trabalho mais tranquilo para continuar ajudando em casa, já que hoje só o marido tem um emprego fora. Planos que foram interrompidos quando Luiz recebeu o diagnóstico de autismo, logo no segundo dia na escolinha. “A professora que era amiga minha, me chamou e disse: Gislaine, leva o seu filho na psicóloga. Para mãe de primeira viagem, quando seu filho demora um pouco mais para andar é normal, se tem atraso na fala é normal, seu filho ainda não forma frases é normal, não come sozinho, é normal. Você não tem uma base para saber como é o desenvolvimento da criança e tenta respeitar o tempo que ela leva para aprender”, relembra.

Autismo não é uma doença e felizmente é um assunto cada vez mais discutido, o que ajuda a quebrar os estereótipos em torno da condição, mas com poucas informações na época, Gislaine diz ter chorado um dia inteiro após receber o laudo médico. Ela explica que o transtorno acontece em três nível, o leve, o moderado e o severo. Fazendo acompanhamento pela Associação de Pais e Amigos Excepcionais (APAE), ela ainda não tem um diagnóstico formal sobre em qual dos casos Luiz se encaixa, esse tipo de laudo segundo ela só pode ser dado por um neurologista e a espera é de meses. “Não tem jeito de conseguir neurologista pelo SUS, então estou esperando a consulta pela APAE, que será em junho”.

Cada peça é feita a mão e leva cerca de 10 dias para ser entregue.
Cada peça é feita a mão e leva cerca de 10 dias para ser entregue.
A primeira peça de roupa que Gislaine aprendeu a fazer foram as fraldas de pano (Foto: Arquivo Pessoal)
A primeira peça de roupa que Gislaine aprendeu a fazer foram as fraldas de pano (Foto: Arquivo Pessoal)

Luiz é um menino calmo e extremamente carinhosa, Gislaine diz que ele tem crises, mas os sintomas do autismo são brandos. “Ele ainda não toma medicação e só o neurologista pode dizer se será necessário, estou fazendo terapia ocupacional, psicóloga, fonoaudióloga. O autismo afeta o desenvolvimento, mas com o acompanhamento adequado, ele pode crescer tão bem como qualquer outra criança”.

Na rotina da família, as manhãs de Luiz são na escolinha, com o apoio das professoras, que trabalham em conjunto com Gislaine para garantir que o aprendizado não seja prejudicado. Nas tardes de quinta e sexta-feira, as atividades de terapia ocupacional e fonoaudiologia ocupam o resto do dia de mãe e filho, sem contar as segundas-feiras, em que o acompanhamento psicológico é pela manhã, o que impossibilita Gislaine de encontrar um emprego formal e fez com que ela decidisse se dedicar à costura.

“Hoje eu não me vejo fazendo outra coisa que não seja o que eu faço,eu gosto do que eu faço e eu faço com prazer. Eu vou ampliando aos poucos, cada roupa diferente é um desafio”, afirma.

Gislaine faz as peças à mão e sob encomenda em um prazo de até 10 dias para entrega, cada roupa sai a partir de R$ 20, o preço máximo pode variar dependendo da idade da criança e do tecido utilizado. Uma das fantasias que mais chama a atenção é o vestido da princesa Bela, do conto de fadas “A Bela e a Fera”, que custa R$ 130.

Outros trabalhos podem ser vistos pelo instagram @artenossacg.

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