Projeto Blossom transforma luto em moda e exalta a vida de pessoas trans
Projeto Blossom não tem fins lucrativos e é produzido por equipe de voluntários de Campo Grande
Com um editorial feito na raça, um coletivo criativo de Mato Grosso do Sul tem provocado impacto e beleza com um trabalho autoral, que exalta a autoestima e a existência de pessoas trans por meio da moda. Criado há um ano pelo stylist e diretor criativo Baiflu Alencar, o Projeto Blossom nasceu da dor, mas se tornou um ato de amor e resistência.
"Eu perdi minha mãe em janeiro do ano passado, e entrei em uma tristeza muito grande. Já tinha a ideia do projeto antes, e resolvi colocar em prática como uma forma de me reerguer", conta. “Convidei amigos da área da moda, da maquiagem, da fotografia, cabelo, e a gente começou ali, com o que tinha”, explica.
O primeiro editorial do grupo foi feito com apoio de parceiros e estrutura improvisada. A estreia teve como modelo a performer Chloe Milan. Desde então, o Blossom tem feito produções com um mesmo princípio de exaltar a beleza e a força de mulheres trans.
“Nossas modelos são trans. A ideia é trabalhar a autoestima dessas pessoas, mostrar que elas têm lugar no universo da moda, sim. A gente devolve todo o material produzido para elas, imprime as melhores fotos e entrega como presente”, diz Baiflu.
Atualmente, a equipe do Blossom é formada por uma equipe de voluntários: Alle Alonso, Baiflu Alencar, Hanna de Souza, Murilo Gomes, Nara Forato, Ricardo Augusto Santos, Vênus Eugênio e Rafael Gomes Braga. Todos atuam de forma colaborativa e voluntária. “A gente não recebe nada. Cada um dá o que pode, com o que tem. Produzir roupa, fazer cabelo, maquiar, dirigir, fotografar, editar. É tudo na base do amor”, pontua.
Além de editoriais em estúdio, o grupo tem explorado espaços públicos de Campo Grande, como a Casa do Artesão e a Morada dos Baís. A produção mais recente teve como estrela a artista Maia Silva, integrante da cena ballroom e da cultura preta e trans da cidade.
“Ela foi uma escolha muito significativa, porque queríamos reforçar esse viés cultural e mostrar pontos turísticos da cidade com uma mulher preta da cena underground. Isso também é resistência”, explica.
O próximo editorial já está nos planos e deve acontecer até o fim de agosto. A produção será pensada com antecedência, desde o conceito visual até as roupas, muitas vezes confeccionadas do zero pelo próprio Baiflu. A equipe quer retomar as trocas de looks e entrevistas com as modelos, como fizeram nas primeiras edições, além de registrar tudo em vídeo e bastidores.
“É difícil produzir isso aqui, em Mato Grosso do Sul. A gente vive num estado conservador, onde a moda não é tão fomentada. Mas eu sinto que é algo revolucionário”, afirma. “As pessoas amam ver editorial da Vogue, do que acontece em São Paulo, mas quando veem algo com esse mesmo nível de cuidado sendo feito aqui, com mulheres trans, travestis, é desafiador e transformador”, completa.
Para além de um projeto de moda, o Projeto Blossom tem se consolidado como plataforma de visibilidade e transformação. “É sobre devolver confiança, sobre se reconhecer bonita e elevar a autoestima de pessoas trans. Além disso, nós temos potencial criativo, temos força. Queremos que olhem para dentro do próprio Estado e reconheçam isso”, finaliza Baiflu.
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