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Diversão

Em noite de favoritas e público de 7,5 mil, escolas quase amanhecem na avenida

Desfile das escolas de samba acabou quase às 4h e boa parte do público ficou até o fim

Wendy Tonhati | 06/03/2019 07:56
Em dois dias, desfiles levaram oito escolas de samba para a avenida  (Foto: Paulo Francis)
Em dois dias, desfiles levaram oito escolas de samba para a avenida (Foto: Paulo Francis)

A segunda noite de desfile das escolas de samba levou as favoritas para a Passarela do Samba, na Praça do Papa, em Campo Grande. A Unidos do Cruzeiro abriu o desfile, seguida por Catedráticos do Samba, a campeão Deixa Falar, Igrejinha e Vila Carvalho. Antes mesmo de começarem os desfiles, o público já havia lotado as arquibancadas e muita gente esperava para assistir em pé.

Logo após a primeira escola passar pela avenida, a Guarda Municipal estimou o público em mais de 4 mil pessoas. Ao fim da festa, um representante da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo) informou cerca de 7,5 mil pessoas. Embora Campo Grande tenha pouco investimento em desfiles de Carnaval, quem foi à Passarela do Samba se empolgou. Bastava as escolas puxarem a introdução dos sambas para o público entrar no ritmo.

Comissão de frente da escola lembrou a religiosidade nordestina (Foto: Paulo Francis)
Comissão de frente da escola lembrou a religiosidade nordestina (Foto: Paulo Francis)
Unidos do Cruzeiro levou o Nordeste para à avenida (Foto: Paulo Francis)
Unidos do Cruzeiro levou o Nordeste para à avenida (Foto: Paulo Francis)
Carro trouxe o animal e flor da região (Foto: Paulo Francis)
Carro trouxe o animal e flor da região (Foto: Paulo Francis)

O desfile começou às 21 horas com a Unidos do Cruzeiro e o Nordeste na avenida, com o enredo “Oxente! Cabra da Peste: Eu sou o Nordeste". O público ainda estava contido e a escola fez um desfile mais modesto, se comparado às agremiações que passariam depois na avenida. A escola foi fundada em 1° de maio de 1981, por João Renato Pereira Guedes, o Picolé.

A Unidos do Cruzeiro mostrou aspectos da cultura nordestina como os cangaceiros, a religiosidade e a natureza nordestina, como o mandacaru. Os integrantes da bateria, no total de 50, representaram “Padim Ciço”. Segundo o diretor de carnaval da escola, Thierrys Guedes, a escola teve um atraso para começar, pois, carros da Igrejinha ficaram na frente dos da agremiação, que era a primeira a entrar na avenida.

Jetiane Benevides, coreógrafa da comissão de frente, explica que os integrantes encenaram uma utopia do Nordeste. “Foi uma utopia do nordeste. Uma utopia levando todos os sonhos que o nordeste tem com as cores e com as danças. Foi essa utopia que o carnavalesco trouxe para nós”.

Primeira escola a desfila, Unidos do Cruzeiro foi fundada em 1981
Primeira escola a desfila, Unidos do Cruzeiro foi fundada em 1981

Membro da comissão de frente, Cida Lopes desfilou com o neto Enzo, de 4 meses no colo. Apesar da barulheira, o bebê passou o desfile inteiro quietinho no colo da avó, que ajudava na organização da comissão de frente e também dançava e cantava o samba enredo.

“É o segundo ano que eu estou aqui. A minha filha, mãe dele, está desfilando. As minhas duas filhas estão na comissão de frente. A família inteira, o outro [filho] estava empurrando o carro”. A mãe de Enzo, Heloise Silva, diz que é o segundo desfile dela e do filho. “É o segundo ano. Ano passado eu participei, estava grávida e não sabia e nesse ano eu vim e trouxe ele para ver como é. Quero de novo o ano que vem, até ele poder desfilar. Tenho certeza que ele vai querer muito”.

Cida desfilou com o neto, de 4 meses no colo (Foto: Paulo Francis)
Cida desfilou com o neto, de 4 meses no colo (Foto: Paulo Francis)
Scarlet Almeida foi musa da escola (Foto: Paulo Francis)
Scarlet Almeida foi musa da escola (Foto: Paulo Francis)

A Catedráticos do Samba, escola fundada em 15 de outubro de 1974, na região do Silvia Regina, foi a segunda a entrar na Passarela do Samba e levou o mundo árabe para a avenida. O enredo foi “A Magia do Mundo Árabe é do Oriente, um Fascínio Sem Igual. Salaam Aleikum, que a Paz Permaneça Sobre Vós”. O samba teve dois versos fáceis de decorar e que o publicou cantou: bate o tambor com a proteção de Alá e Saalan aleikum, Insha’Allah.

A comissão de frente trouxe as odaliscas com a dança árabe. Foram 12 integrantes, sendo três cadeirantes e uma com órtese. A professora de dança do ventre, Lisa Lima coreografou a ala e explica que foram duas semanas de ensaios, divididas em duas turmas.

Catedráticos do samba abriu desfile com o símbolo da escola (Foto: Paulo Francis)
Catedráticos do samba abriu desfile com o símbolo da escola (Foto: Paulo Francis)
Escola mostrou cultura do Oriente na passarela (Foto: Paulo Francis)
Escola mostrou cultura do Oriente na passarela (Foto: Paulo Francis)
Puxadores do samba também foram a caráter (Foto: Paulo Francis)
Puxadores do samba também foram a caráter (Foto: Paulo Francis)

“O estúdio tem escadas, então, tivemos que fazer um rodízio, ensaiamos na casa delas, que tem acessibilidade. Foram duas semanas de ensaio e montei a coreografia pela intuição. Temos quatro integrantes com deficiência, uma com mais idade e iniciantes. Mesmo assim, conseguimos”.

Uma das cadeirantes a desfilar foi a atleta paralímpica Ana Lúcia Serpa, 44 anos. “Era um sonho desfilar. Ensaiamos e consegui. Foi extraordinário e mostra que você pode. Foi difícil, porque você tem que segurar a cadeira, ficar no mesmo nível da colega e acompanhar no mesmo ritmo”.

Comissão de frente falou sobre a dança (Foto: Paulo Francis)
Comissão de frente falou sobre a dança (Foto: Paulo Francis)

O abre-alas trouxe a águia, símbolo da escola. O segundo carro, a lâmpada gigante das histórias do Aladim. O segundo casal de porta-bandeira e mestre-sala foi mirim, e puxou uma ala de “mini” Aladins. Empolgada e com o celular na mão, Gleiciane Aparecida, 30 anos, gritava pelo filho, Rodrigo, 8 anos, que desfilou na ala. Ela estava com o marido e a filha, de 1 ano e 11 meses.

“Ele sempre vem com a avó, desde que tinha um ano e também vai com ela no Bloco Formigueiro. Eu que nunca gostei e nunca tinha vindo nem assistir. É a primeira vez. Estou achando muito legal, organizado. Dá para vir com a família e estou emocionada vendo ele”. A mãe de Gleiciane também desfilou pela escola.

Deixa Falar homenageou a professora Maria da Glória Sá Rosa (Foto: Paulo Francis)
Deixa Falar homenageou a professora Maria da Glória Sá Rosa (Foto: Paulo Francis)

A terceira escola a desfilar foi a Deixa Falar contou a história de professora Maria da Glória Sá Rosa, cearense de nascença, que é expoente do estudo da cultura e das artes em Mato Grosso do Sul. Com o enredo “Simplesmente Glorinha”, as rosas dominaram o desfile, nas fantasias, nas alas e nas mãos dos integrantes.

A coreógrafa da comissão de frente, Vitória Mandetta, explica que, como Glorinha foi uma pessoa da arte, vários aspectos da carreira dela foram representados. “Tanto a escrita, quanto a poesia, quanto a dança, quanto o teatro. A gente trouxe para a comissão de frente, porque ela representava tudo isso. A arte, a cultura e rosa, que foi o ponto forte do nosso desfile, foi para homenageá-la. Usamos as capas para compor a cena, que a representa na faculdade”.

O terceiro carro trouxe elementos da cultura sul-mato-grossense como os Bugrinhos de Conceição dos Bugres, uma releitura do quadro Micróbio da Fuzarca, da pintora Lídia Baís, feita pelo pintor Jonir Figueiredo. Ele foi o destaque do carro e encenava estar pintando um enorme quadro de Glorinha. Em um dos momentos, em que o carro se deslocava, Figueiredo acabou caindo.

Carro homenageou aspectos da cultura do Estado (Foto: Paulo Francis)
Carro homenageou aspectos da cultura do Estado (Foto: Paulo Francis)

A família de Glorinha também participou do desfile. O neto Gabriel Antoniolli, 22 anos, a neta Maria Teresa, 17 anos, e os filhos, José Carlos de Sá Rosa, 66 anos, o primogênito e Luís Fernando de Sá Rosa, 57, o caçula.

“Uma grande honra termos uma escola lembrando de todo o passado da minha avó. A gente agradece a oportunidade de estar homenageando a nossa avó que foi um grande marco na cultura do nosso Estado”, cita o neto Gabriel. O filho José Carlos diz que foi fantástica a homenagem.

“Realmente, foi fantástica a homenagem, porque é uma pessoa que foi um vulcão da cultura aqui em Mato Grosso do Sul e naturalmente, passava desde as artes plásticas, o cinema, a literatura e tantas outras partes da nossa cultura. Realmente, como uma vez disse o doutor Wilson Barbosa: se não existisse Glorinha aqui, o Estado seria completamente diferente”.

Ala foi formada por professores (Foto: Paulo Francis)
Ala foi formada por professores (Foto: Paulo Francis)

Uma das alas foi formada por professores que se emocionaram ao participar do desfile em homenagem à professora. “Ela faz parte da nossa cultura, da nossa educação. Não tem como separar a cultura e a educação. Ela é o ícone do nosso Estado, quiçá, do Brasil. Foi uma experiência incrível. Eu creio não ter vivido um momento tão importante para homenagear uma pessoa tão importante quanto à professora Glorinha. É primeira vez que desfilo e espero que seja uma de milhares que virão, principalmente, para homenagear uma pessoa tão importante”, diz a professora Perpétua Dutra.

Alas estavam cheias de rosas (Foto: Paulo Francis)
Alas estavam cheias de rosas (Foto: Paulo Francis)
Carro com fundador da escola (Foto: Paulo Francis)
Carro com fundador da escola (Foto: Paulo Francis)

A Igrejinha foi a quarta escola de samba a entrar na avenida. O desfile era aguardado por ser homenagem ao arquiteto Luís Pedro Scalise, conhecido pelos projetos arquitetônicos grandes em tamanho e luxuosos em Campo Grande. O samba foi “Arquitetando Folia, Abençoado por Deus e Arteiro por Natureza, em homenagem ao arquiteto”.

Escola homenageou o arquiteto Luis Pedro Scalise (Foto: Paulo Francis)
Escola homenageou o arquiteto Luis Pedro Scalise (Foto: Paulo Francis)

A expectativa foi confirmada com a escola levando carros enormes, com os destaques nas alturas e fantasias que chamaram a atenção pelos materiais. O público se animou e bateu palmas a cada vez que o samba enredo pediu um brinde ao artista. Os carros ainda levaram à avenida réplicas de duas casas noturnas que tiveram o projeto de Scalise: o Pele Vermelha, dos anos 2000 e a Valley Tay, mais recente.

Boate Valley Tauy foi reproduzida Escola homenageou o arquiteto Luis Pedro Scalise (Foto: Paulo Francis)
Boate Valley Tauy foi reproduzida Escola homenageou o arquiteto Luis Pedro Scalise (Foto: Paulo Francis)
Boate Pele Vermelha foi revivida na avenida (Foto: Paulo Francis)
Boate Pele Vermelha foi revivida na avenida (Foto: Paulo Francis)

Durante o desfile, carros alegóricos chegaram a bater em um fio da Passarela do Samba. Com a altura dos carros da Igrejinha, um deles, acabou enroscando. “Deu tudo certo. O fio atrapalhou lá. Não sei o que vai acontecer, mas isso acontece. A liga sabe de tudo isso. Tem que passar a altura, tem o regulamento. Não sei o aconteceu. Mas, acho que não vai prejudicar em nada. O desfile está bem bonito”, afirma Marisa Fontoura, presidente da Igrejinha. Um problema na harmonia, entre uma ala e um dos casais de porta-bandeira e mestre-sala, deixou alguns integrantes da escola irritados.

Igrejinha foi a quarta escola a desfilar (Foto: Paulo Francis)
Igrejinha foi a quarta escola a desfilar (Foto: Paulo Francis)

O último carro da escola uniu o Carnaval ao Natal e trouxe o arquiteto como destaque. A alegoria relembrou a Casa do Papai Noel, idealizada pelo arquiteto e que era montada em uma casa do Jardim dos Estados, no começo dos anos 2000. A última edição, em 2017, foi montada após hiato de 12 anos. Cheio de detalhes natalinos, Scalise não escondeu a preferência pelo carro.

“Com certeza, o Papai Noel. Natal é uma paixão minha e eu queria sair no carro da Casa do Papai Noel. Eu realmente queria vir neste, que é a minha paixão. Acompanhei [os trabalhos], mas, o mérito é todo da escola, do carnavalesco e da nossa presidente. Eles recriaram com muita perfeição toda a minha história. Animou bastante o pessoal”.

Vila Carvalho fechou o segundo dia de desfiles  (Foto: Paulo Francis)
Vila Carvalho fechou o segundo dia de desfiles (Foto: Paulo Francis)

Para fechar o desfile do Carnaval 2019, a Unidos da Vila Carvalho entrou na Passarela do Samba, por volta das 2h40, cantando os 50 anos de história da escola de samba. O enredo foi “Carnaval dos carnavais, Jubileu de Ouro. A Vila Carvalho conta, canta e encanta nos seus 50 anos”.

A escola, fundada em 1949, fez uma volta ao começo dos seus carnavais e homenageou os personagens que fizeram a história da agremiação, como Felipe Duque, o Felipão fundador da escola.

O primeiro carro retratou o “Carnaval dos Carnavais” e exaltou a comunidade. Retratando o Carnaval, as alegorias, tiveram pierrôs, colombinas e mascarados. As alas tiveram muito dourado e o verde e rosa. A madrinha, a Estação Primeira de Mangueira, escola de samba do Rio de Janeiro, foi homenageada na ala das baianas. A escola também trouxe uma ala inteira representando mestre-sala e porta-bandeira.

Escola comemorou os 50 anos  (Foto: Paulo Francis)
Escola comemorou os 50 anos (Foto: Paulo Francis)
Mascarados foram parte do carro alegórico  (Foto: Paulo Francis)
Mascarados foram parte do carro alegórico (Foto: Paulo Francis)
Comissão de frente lembrou carnavais passados  (Foto: Paulo Francis)
Comissão de frente lembrou carnavais passados (Foto: Paulo Francis)

Segundo Raphael Mesquita, coreógrafo, a comissão de frente teve duas partes. “Como a escola está trabalhando o jubileu de ouro, que são 50 anos, no centro, eu vim com uma ala da velha-guarda, que representava as primeiras comissões de frente que a escola fazia. Eram os senhores, de mais idade e mais antigos da escola que avançavam. Nas laterais, eu tinha duas alas: uma de pierrôs e uma de colombinas. Nesses 50 anos, a escola passa por duas situações. Ficam extremamente alegres quando ganham, mas também passam por momentos de frustrações quando perde. Trouxe essa dualidade das emoções”.

O desfile terminou com a ala de velha-guarda e o carro que trouxe a diretoria da escola. Apesar de ser a última a entrar na avenida, boa parte do público ainda estava presente. A comunidade seguiu o fim do desfile que acabou em festa na dispersão.

Ala de mestre-sala e porta-bandeiras  (Foto: Paulo Francis)
Ala de mestre-sala e porta-bandeiras (Foto: Paulo Francis)
Vila Carvalho comemorou 50 anos  (Foto: Paulo Francis)
Vila Carvalho comemorou 50 anos (Foto: Paulo Francis)

“A emoção é demais. São 50 anos e a gente vê um trabalho que floriu e criou raiz. A gente vê a alegria do povo quando a Carvalho passa. É uma coisa que comove”, diz o presidente José Carlos de Carvalho.

No primeiro dia de desfiles, a primeira a entrar na avenida foi a Herdeiros do Samba, levando as crianças. Em seguida, desfilaram a Unidos do Aero Rancho, a Cinderela Tradição do José Abrão e o encerramento foi feito pela Unidos do São Francisco. A apuração será nesta quarta-feira de Cinzas, às 17 horas, no Horto Florestal.

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