Fé, tambor e comida com alma movem roteiro afro em Corumbá
Corumbá é famosa por ser a capital do Pantanal. Mas, uma vez por ano, ela também vira capital do axé. No fim de semana de 22 e 23 de junho, acontece a 3ª edição do Circuito Kaô Corumbá de Xangô, um rolê que mistura fé, música, comida, tradição, e muita história preta, daquelas que não entram em livro de escola.
O circuito é organizado pela agência Bela Oyá Pantanal, que não trabalha com turismo tradicional. Nele, ninguém pega ônibus com ar-condicionado pra ouvir explicação de megafone. Quem comanda a jornada são festeiros, mestres e lideranças da própria comunidade, que abrem as portas das suas casas, das suas crenças e das suas memórias.
A ideia é simples e potente: Viver o que é ser filho de santo, viver o que é cozinhar um prato pra orixá, viver o que é cantar e caminhar ao lado de gente que entende o território como sagrado. Tudo isso durante o Banho de São João, a maior celebração popular da cidade, reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil.
A programação
No dia 22 de junho, rola o Banquete de Xangô, comida feita com fé, servida em comunidade. No dia seguinte, 23, vem a Rota Viva São João, uma caminhada simbólica por casas de festeiros e espaços de tradição, que termina no Rio Paraguai, com a descida dos andores. Um espetáculo de fé, cores e cantos.
Tem também oficina de ornamentação (onde você faz seu próprio andorzinho ou flâmula de São João), uma ocupação no prédio do IPHAN com exposições, exibição de documentários e espaço de acolhimento para quem quer entender melhor tudo o que está acontecendo.
E se você gosta de levar um pedacinho da experiência pra casa, a exposição “Ventos de Oyá” apresenta peças criadas por artistas locais: flâmulas, oratórios, camisetas, terços, tudo com a cara da fé pantaneira e afro-indígena.
“A gente não vende turismo, a gente compartilha caminho”, resume Thayná Cambará, que coordena a agência Bela Oyá. E não é força de expressão: cada roteiro é pensado com calma, respeito e cuidado. Os grupos são pequenos, até 15 pessoas, ustamente pra que cada pessoa viva o momento com presença e escuta.
O nome disso? Afroturismo. E não, não é moda. Segundo Thayná é ferramenta de luta e geração de renda. É turismo que quebra com o olhar de fora e coloca o povo preto do Pantanal no centro, contando suas próprias histórias, do seu jeito, no seu tempo.
“O Afroturismo é resistência, é protagonismo e também é futuro. É com ele que podemos fortalecer identidades e criar oportunidades reais pro povo preto do Pantanal”, diz Thayná.
Por que isso importa?
Porque por muito tempo, a história oficial tentou apagar tudo isso: os rituais, a fé de matriz africana, os saberes do corpo, da cozinha e da música. Mas quando você participa de algo assim, com respeito, escuta e coração aberto, você entende que esses saberes não morreram e podem ser compartilhados
Então se você quer mais do que selfie com paisagem bonita, e tá disposto a entrar num território que é feito de fé, tambor e memória viva, esse é o rolê. Para participar o contato é WhatsApp: (67) 98342-3252.
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