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Diversão

Na festa do Tranca Rua de Embaré, seguidores dançam e agradecem as bênçãos Exú

O evento aconteceu na Vila Taveirópolis e levou seguidores de Umbanda, Candomblé e até católicos para festejar

Alana Portela | 19/08/2019 07:56
Exú e a Pomba-gira dançando na festa (Foto: Henrique Kawaminami)
Exú e a Pomba-gira dançando na festa (Foto: Henrique Kawaminami)

Para agradecer as bênçãos de Exú, os seguidores da kimbanda festejaram o aniversário do Tranca Rua de Embaré, na Vila Taveirópolis, em Campo Grande. Foi a 23º edição da festa, que começou às 22h do sábado (17). Os batuques e as cantorias deram boas-vindas ao aniversariante.

“O médium vai pra frente do atabaque, os ogans batucam e todos cantam chamando pelas entidades. Quando [o espírito] chega, se apresenta para todos e o cambone [assistente] é quem ajuda o Exú ou a Pomba-Gira a se trocar. Depois, eles aproveitam a festa”, explica a filha de santo, Cintia Costa.

Ela era evangélica, mas abandonou a religião pela kimbanda. “Não me encontrei [no evangelho]. Acredito que cada pessoa tem um destino na vida. Foram os problemas de saúde que me trouxeram pra kimbanda. Tomava muitos remédios”, lembra.

Agora, as coisas mudaram, garante. Cíntia trabalha como esteticista e se dedica ao estudo da religião. “Os exús vestem calça, camisa, colocam capa e usam cartola. Bebem cachaça, mas sabem o limite da matéria [médium] e não a prejudica. Fumam cachimbo, charuto ou cigarro. Já as pombas-gira usam saia e amarram um pano nas costas, para caso incorporem em um médium homem”.

Os Ogans tocaram o atabaque chamar as entidades (Foto: Henrique Kawaminami)
Os Ogans tocaram o atabaque chamar as entidades (Foto: Henrique Kawaminami)

As cores geralmente são branca, preta e vermelha. “É a força das coisas que [as entidades] trazem com eles”, comentou Cíntia. A festa teve horário para começar, mas arraiou o dia para que o aniversariante e seus convidados pudessem aproveitar ao máximo antes e ir embora. O evento ocorreu no Salão dos Garçons, um espaço amplo justamente para atender o ritual.

Do lado de fora, umas duas quadras antes de chegar ao local, dava pra se ouvir as batucadas e os cantos. Na entrada, as pessoas fumavam seu cigarro tranquilamente, sem perturbar ninguém. Receptivos, eles não perguntam qual a religião da pessoa que quer entrar no evento. Apenas a ajudam e orientam se for necessário. “É aberto para receber qualquer um que queira vir, desde que mantenha o respeito”.

É uma mistura religiosa, sem intolerância. Os seguidores de kimbanda, umbanda e candomblé se aglomeraram no meio do salão. A maioria vestida de branco e preto, para facilitar a chegada das entidades. Cantam para chamá-los e os espíritos que chegavam vão cumprimentando a todos.

Carlos Soares é umbandista e levou seus colares feitos de pedras que representam proteção e segurança (Foto: Henrique Kawaminami)
Carlos Soares é umbandista e levou seus colares feitos de pedras que representam proteção e segurança (Foto: Henrique Kawaminami)
Enquanto ouvem a batucada, as Pombas-gira, vestidas de vermelho, dançam (Foto: Henrique Kawaminami)
Enquanto ouvem a batucada, as Pombas-gira, vestidas de vermelho, dançam (Foto: Henrique Kawaminami)
Velas foram acendidas e ficaram num canto do salão (Foto: Henrique Kawaminami)
Velas foram acendidas e ficaram num canto do salão (Foto: Henrique Kawaminami)

No evento, os donos da casa são o Exú Tranca Rua de Embaré e a Pomba-Gira Maria Mulambo. “Depois dos cumprimentos, vão para frente do atabaque porque é sagrada. Os ogans, que tocam, também são respeitados. A partir daí, com seu cambone, cada um [incorporado] vão se trocar. As entidades escolhem as roupas e as cores que querem usar”, conta Cíntia.

“Cada pessoa tem seu guia, e pode ser mais de um. São os espíritos que nascem com ele, e ao decorrer do tempo, desenvolve essas entidades. Esses guias vêm trabalhar e festejar, e ficam o tempo que precisar ficar na carne [corpo]”.

Conforme a filha de santo, cada entidade teve uma história em vida. “Eles reencarnaram várias vezes. Alguns contam quem foram anteriormente e outros que se recusam a falar sobre isso. Costumam vir para trabalhar, ajudar os médiuns e outras pessoas que estão doentes, passou por problemas financeiros, etc”.

Vestida de vermelho, a entidade Maria Mulambo entrou no corpo da médium Aline Arcanjo (Foto: Henrique Kawaminami)
Vestida de vermelho, a entidade Maria Mulambo entrou no corpo da médium Aline Arcanjo (Foto: Henrique Kawaminami)

Anfitrião - Um dos primeiros a “chegar” na festa foi o aniversariante e dono da casa, Embaré. Enquanto os médiuns rodopiavam no centro do salão, mais entidades surgiam. Chegaram o Tranca Rua da Encruzilhada, o Tranca Rua das Almas e as pombas-gira Maria Mulambo, Maria Mulambo Bruxa, Maria Mulambo das Encruzilhadas, etc.

Durante a festa, quem não segue a religião, não deve se aproximar muito da parte onde as danças para a incorporação acontecem. “É onde concentra toda a energia. As entidades trazem energias que a pessoa desconhece. Nós já estamos preparados, fazemos o banho de descarrego. Mas, os convidados ficam mais afastados, pois podem passar mal caso for um médium e não saiba. Pode dar dor de cabeça, tontura e enjoo”, explica.

Exú de chapéu preto, charuto na boca e cerveja na mão (Foto: Henrique Kawaminami)
Exú de chapéu preto, charuto na boca e cerveja na mão (Foto: Henrique Kawaminami)

Exú incorporou em médium do sexo feminino, e as Pombas baixaram em homens. Não importava se era mulher ou homem, eles queriam apenas curtir a festa. “É tudo muito místico, só vai entender a partir do momento que começar a seguir a religião. A partir do momento que a incorpora uma entidade, ela acha um rumo pra você”.

A filha de santo ainda comenta sobre como é o processo de desincorporação. “A entidade avisa, se despede e o médium volta, mas fica muito tonto porque conta da energia. É como se a pessoa estivesse em transe, demora uns minutos para se recompor, o corpo treme. Aos poucos ela vai se lembrando e a gente informa os recados dados pelo espírito”, disse.

Apesar de ser católica, Aline Carvalho afirmou que o importante é ter fé e respeito  (Foto: Henrique Kawaminami)
Apesar de ser católica, Aline Carvalho afirmou que o importante é ter fé e respeito (Foto: Henrique Kawaminami)
Brunna Ricarte levou o filho Leonardo para festejar (Foto: Henrique Kawaminami)
Brunna Ricarte levou o filho Leonardo para festejar (Foto: Henrique Kawaminami)

Sincretismo - O construtor Carlos Soares é umbandista há um ano e meio. Ele participou do evento, mas foi vestido de branco e usou seus colares de pedras, que representam proteção e segurança. Parado em um canto do salão, ele observava toda a festa, na dele. “Sou médium, aprendiz e ainda tenho muitas coisas para aprender. É a primeira vez que venho na kimbanda, é diferente”, resume. “Entrei na umbanda, pois desejava melhorias na saúde, conseguir um emprego. Precisava de uma luz”, completa.

A pedagoga Aline Carvalho é católica, mas sempre participa desse estilo de festa. Para ela, o importante é ter fé e respeito. “Minha família vem do espiritismo. É algo que a gente procura pra ter paz. Nunca tive medo, porem há pessoas que têm medo, pensa que é pra fazer maldade e não é. Venho buscar a amor e carinho”.

A designer de unhas Brunna Ricarte levou até o filho, Leonardo, de dez meses para aproveitar o aniversário. Contudo, mesmo com os batuques, o pequeno continuou calminho e dormiu nos braços da mãe. “Já estava acostumado, desde quando estava na barriga”.

“A festa é para louvar Exú e tem vários terreiros participando. Estamos louvando a importância dele e dos axés que nos proporcionam, que é a prosperidade, fartura”, conclui Cintia.

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Fumar cigarro é comum na religião (Foto: Henrique Kawaminami)
Fumar cigarro é comum na religião (Foto: Henrique Kawaminami)

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