Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, "ganha vida" na Flib
Com cerca de 3x2 metros, o barraco é pequeno o bastante para "sufocar" e contar a história da escritora
A 9ª edição da Flib, (Feira Literária de Bonito) começou nesta quarta-feira (17) dando vida a casa de madeira da homenageada Carolina Maria de Jesus. Para fazer o público imergir no que ela significou e o impacto do livro 'Quarto de despejo' foi recriado o lugar onde a escritora morou com os três filhos. A casa está instalada na Praça da Liberdade, onde acontece grande parte da programação gratuita. As atividades seguem até dia 21.
RESUMO
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A 9ª edição da Feira Literária de Bonito (Flib) homenageia a escritora Carolina Maria de Jesus com uma réplica de sua antiga residência. Instalada na Praça da Liberdade, a casa de madeira de 3x2 metros reproduz fielmente o ambiente onde a autora viveu com seus três filhos, incluindo móveis básicos e trechos de sua obra "Quarto de despejo". A exposição destaca a trajetória da escritora negra, que passou de catadora de papel a uma das vozes mais importantes da literatura brasileira do século 20. A instalação conta com audiodescrição e fotografias históricas, incluindo um raro registro ao lado de Clarice Lispector, evidenciando sua contribuição para a transformação da literatura nacional.
O barraco tem só uma janela e uma porta e mede cerca de 3x2 metros. O cômodo é pequeno o bastante para sufocar quem entra. Dentro, uma cama, um fogão, uma mesa com cadeira, livros que inspiraram a escritora e quadros com trechos de 'Quarto de despejo'. A cada detalhe, um lembrete do espaço apertado e da vida marcada pela resistência.
Ao redor da instalação, imagens de Carolina mostram a trajetória da catadora de papel do lixão até a escritora consagrada. Entre as fotos, um registro raro ao lado de Clarice Lispector. Dentro da casa, também há audiodescrição para guiar os visitantes. Vozes narram trechos do livro e contextualizam a força de uma obra que virou divisor de águas na literatura brasileira.
Romilda Pizzani, ativista do movimento negro, comenta que a escritora apresenta um mundo de possibilidades onde não é comum existir.
“Mesmo sendo criada e convivido em um espaço onde elas possivelmente não aconteceriam. O esperançar vem dela. Ela mostra que existe isso onde quer que você esteja. A gente está falando de referência, as crianças terem essa referência é muito mais que importante é colocar em, prática a lei 10639”.

Ela diz respeito a norma que torna obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira em todas as escolas de ensino fundamental e médio). “Ter como referência ela é falar do nosso povo, da nossa história, mas acima de tudo acreditar e dizer sim, é possível”, completa.
A curadora da Flib, Maria Adélia Menegazzo, já havia destacado em agosto, durante o lançamento do evento, a importância dessa escolha:
“Quando a gente pensa nessa categoria literária, de diário, autobiografia, nada melhor que Carolina Maria de Jesus, porque o livro Quarto de despejo: diário de uma favelada é uma espécie de ponto de virada da literatura brasileira contemporânea. A linguagem que ela usa não é a normalmente aceita pelo sistema literário. Ela escreve como fala, isso é inovador. Uma coisa é ter um autor com formação e que tenta imitar alguém que não fala a língua 'culta'; outra coisa é alguém que é assim mesmo. Ela expressa dessa maneira o que pensa, vive e o enfrentamento do mundo."
Carolina Maria de Jesus (1914–1977), mulher negra, favelada, catadora de papel e praticamente autodidata que se tornou uma das vozes mais surpreendentes da literatura do século 20. Com Quarto de despejo, não só rompeu barreiras sociais e raciais, como também alterou para sempre o modo como o Brasil lê a si mesmo.
Projeto
A ação integra o projeto “Práticas Socioespaciais Cotidianas e Território de Escrevivências: potencialidades da leitura da obra/vida de Carolina Maria de Jesus”. A iniciativa é coordenada pelas professoras Cláudia Roma, da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), e Ana Paula Archanjo, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Também colaboram com o projeto a UNESP, a USP e a UFFS.
Ana Paula Archanjo, que também integra o movimento negro, reforça que o debate sobre racismo é parte essencial de sua atuação como educadora. Eu, como uma mulher negra, universitária sinto que tenho como obrigação trabalhar com educação antirracista nos prjetos em que desenvolvo.”
Ela destaca ainda que a relevância do projeto está em ampliar a conscientização sobre a luta antirracista em todos os níveis da educação.
“Nós queremos que essa discussão aconteça efetivamente, no contexto universitário e também aconteça no processo de formação dos nossos jovens, para que no futuro nós possamos ter equidade racial".
Para ela, o uso da obra da Carolina atua justamente nesse sentido, mostrar que foi uma mulher negra que apresentou os problemas econômicos, sociais culturais e educacionais do país voltadas à questão racial. "Não só no livro ‘Quarto de Despejo’ mas também no livro ‘Casa de Alvenaria’, onde a autora também trata dos problemas do racismo estrutural na sociedade.”
Confira a programação desta quarta-feira:
- 16h: CIRCUITO CULTURAL – Tenda das Crianças – Oficina “Confecção de Brinquedos Artesanais a partir de materiais reaproveitáveis” com Ramona Rodrigues – Praça da Liberdade
- 16h: CIRCUITO PEDAGÓGICO – Projeto “Espaço Energia” – Unidade móvel educacional da Energisa – Praça da Liberdade
- 17h: Cortejo Pilad Rebuá
- 17h30: Abertura Pavilhão das Letras
- 18h: Abertura Oficial – Palco Principal
- 18h: CIRCUITO CULTURAL – Tenda das Crianças “Brincadeiras Tradicionais” com Ramona Rodrigues – Praça da Liberdade
- 18h30: Premiação Concurso de Redação – Palco Principal
- 19h: MUSICAL – Show “AfroAfetos” com Silveira Soul – Palco Principal
- 20h: MUSICAL – Show “Pau, Pedra & Corda” com Begèt de Lucena – Palco Principal
- 21h: MUSICAL – Show Mulheres de Quinta – Palco Principal
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