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Diversão

Sinônimo de alegria, parque de diversões agora só recebe o dono

Fechado desde o dia 12 de março por conta da pandemia, parque estuda formas de reabrir para público reduzido

Paula Maciulevicius Brasil | 02/06/2020 06:12
Parque que recebia até 900 pessoas, agora só tem visita do dono. (Foto: Silas Lima)
Parque que recebia até 900 pessoas, agora só tem visita do dono. (Foto: Silas Lima)

Passado de pai para filho, a herança de Victor Augusto Sodré está tanto no nome quanto no negócio da família. À frente do parque de diversões estacionado no Shopping Bosque dos Ipês, o Vitinho Park, hoje a circulação no lugar se restringe aos passos dele, da família e dos funcionários que ainda ficaram por aqui.

O último dia de público foi 12 de março, depois que a pandemia fechou as portas, a roda gigante parou, o carrossel também, e todos os outros 15 brinquedos. Com quase três meses sem bilheteria, o parque periga terminar sua história sem que Victor Augusto Sodré Terceiro chegue a assumir.

"Se eu ficar mais 20 dias parado, eu tenho que vender um carro ou um caminhão, pagar todos os funcionários, carregar, ir embora e não sei quando reabrir", diz Victor.

Victor faz parte da segunda geração de donos do parque, e vive pela primeira vez drama de não saber se vai resistir. (Foto: Silas Lima)
Victor faz parte da segunda geração de donos do parque, e vive pela primeira vez drama de não saber se vai resistir. (Foto: Silas Lima)

Desolado, ele conversa com o Lado B ora contando sua história ora desabafando. É a segunda vez que o parque estaciona no shopping na saída para Cuiabá. Na primeira temporada, foram seis meses aqui. Dessa vez, estava desde dezembro de 2019 e iria embora no dia 30 de março.

"Pelo negócio ser considerado supérfluo pelo decreto, a gente está fechado, mas teria a possibilidade de reabrir com segurança, porque aqui o bombeiro libera até 900 pessoas dentro do nosso evento. Se a gente liberasse 100, por exemplo, não teria perigo e não ia quebrar a gente", propõe.

Victor argumenta com base na proposta da Associação das Empresas de Parques de Diversões do Brasil, que considera que os procedimentos e controles já fazem parte da rotina dos operadores de parques, e portanto possuem "expertise necessária para operar respeitando os protocolos específicos relacionados à covid-19", diz o documento.

A associação criou um protocolo estabelecendo regras para garantir o distaciamento, como funcionar com 50% da capacidade legal de início, manter fechadas as atrações com interações entre visitantes, redução nos assentos dos brinquedos, marcação de lugares nas filas com 1,5m de distância, adequação de horário de funcionamento, incentivo de venda on-line de ingressos, além de alteração na disposição dos brinquedos.

As grades foram colocadas no fim da noite do dia 12 de março e não há previsão de reabertura do parque. (Foto: Silas Lima)
As grades foram colocadas no fim da noite do dia 12 de março e não há previsão de reabertura do parque. (Foto: Silas Lima)

"A gente é supérfluo? É, mas você passa nos bares, nos restaurantes, estão lotados. Um lugar que só abre de noite é supérfluo também se for ver do lado do entrenimento, eles enquadram também", questiona o proprietário.

"O decreto pesou para um lado e de outro, nos deixou à mercê", ressalta Victor. Entre funcionários e os familiares, são 55 pessoas e um gasto calculado em 5 mil reais semanais com refeições. "Os que moravam perto, acharam ônibus e foram embora, mas quem mora mais longe um pouco não teve condições de ir e ficou aqui", fala Victor sobre os funcionários.

Ele agradece ao shopping e diz que pelo menos não está arcando com as despesas de água, luz e aluguel. "Eles estão sendo muito parceiros, de verdade".

Victor ainda fala que o parque passou a vender bolas em três pontos da cidade para poder sobreviver. "Não temos como ir embora, porque fica naquele impasse: 'são 15 dias, 20 dias, 30 dias você aguenta, ficamos naquela expectativa de 'semana que vem abre', mas já passou mais de 30 dias e você vê que todo mundo abriu. A verdade é uma só: está todo mundo trabalhando a mesma coisa como se não tivesse doença nenhuma", enfatiza.

A família de Victor: da esquerda para a direita, Victor Terceiro, Enedina Sodré, Gabriela, Gabriel e Victor Segundo. (Foto: Arquivo Pessoal)
A família de Victor: da esquerda para a direita, Victor Terceiro, Enedina Sodré, Gabriela, Gabriel e Victor Segundo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Dos 42 anos de vida de Victor, 33 deles se passaram dentro do parque que nasceu em Bauru, interior de São Paulo. "Meu pai vendia maçã do amor e churros nas exposições, como tem aqui, sabe? Aí ele comprou um tromba-tromba e começou a trabalhar viajando. Ele veio a falecer em 2003, eu já trabalhava no parque, ele não viajava mais, só eu, aí continuei", narra.

Hoje sozinho entre os brinquedos, ele reflete que quem nasceu no imaginário sente mesmo é gratidão. "Quem nasceu no circo, no parque ou na fazenda, a gente tem que levar isso, a gente tem que ser grato a tudo. É um trabalho como qualquer outro, sério e honesto e é muito gratificante você poder estar sempre em um lugar novo e conhecer novas pessoas", afirma.

Em três décadas de parque, nem ele nem o pai viveram algo semelhante. "Nunca passei por isso na minha vida, a gente fica aqui, esperando". Sobre a continuidade da família no negócio, ele deixa em aberto. "Tenho um filho sim, o Victor Terceiro, ele quiser tocar, acredito que pra mim será um prazer".

A cada 20 dias eles ligam todos os brinquedos e testam.  Apesar do parque estar fechado, a manutenção é feita, além da limpeza. "Não estamos parados, mas os únicos visitantes somos nós", se despede.

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Brinquedos só são ligados para manutenção. (Foto: Silas Lima)
Brinquedos só são ligados para manutenção. (Foto: Silas Lima)


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