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Ela não casou, não teve filhos e cuida da árvore que é orgulho na Vila Célia

Adriano Fernandes | 19/11/2015 06:12
De longe, já dá pra se impressionar com a beleza da árvore, na Rua do Rosário.(Foto:Fernando Antunes)
De longe, já dá pra se impressionar com a beleza da árvore, na Rua do Rosário.(Foto:Fernando Antunes)

É lindo assistir o mês de novembro passar pela Rua do Rosário. Na Vila Célia, o flamboyant carregado de flores transforma os dias, a ponto de ser o orgulho da região. A cor vai de um canto ao outro da rua e os galhos viram uma passarela alaranjada. Toda essa beleza está ali porque em 1964 uma moradora resolveu plantar a árvore, sem pensar em quantos anos ela lhe daria de sombra.

Dona Jerônima Martins Malhotaque morreu, depois de ver algumas floradas, e o flamboyant ficou como herança para a filha Irene. Aos 92 anos, a senhorinha risonha nunca teve marido ou filhos e mora ainda hoje na casa da família. Na fachada, o imóvel não tem número, mas nem precisa, a melhor referência é a árvore símbolo da rua.

Ela diz que a mãe adorava plantas. No mesmo terreno da casa da família, dona Jerônima deixou pé de caju, laranja e maracujá, mas nenhum bate a fama do flamboyant. "As pessoas param para tirar foto, levam as sementes da árvore para fazendas", conta.

Longe de ser unanimidade, já teve gente reclamando da sujeira, sugerindo o corte, mas ninguém mexe com o patrimônio de dona Irene. “Porque a árvore é minha, a casa também e se sujar eu mesma varro. Tenho 92 anos mais aguento”, garante. 

É uma das formas de manter um pouco da mãe sempre presente. “Serve de lembrança dela. Enquanto eu estiver viva, vou cuidar dessa árvore e manter ela aqui", avisa.

Apesar de super simpática, a senhorinha admite que não é pessoa "fácil". Tem 7 irmãos e nenhum muito próximo. "Preferiro assim", justifica.

Solteira aos 92 anos, diz que pela vida dela já passaram vários “bons moços”. Um deles, conta, sumiu por causa de "feitiço" feito por uma ex-amiga invejosa. "Ela queria que eu ficasse doente, mas o tiro saiu pela culatra e quem morreu foi ele", lembra.

Dona Irene é a guardiã da árvore, desde quando a mãe a plantou, em 1964.(Foto: Fernando Antunes)
Dona Irene é a guardiã da árvore, desde quando a mãe a plantou, em 1964.(Foto: Fernando Antunes)
O casal Dinarte Rodrigues e dona Geni Vilma, são um dos admiradores da árvore. "Ela uma celebridade na rua". (Foto:Fernando Antunes)
O casal Dinarte Rodrigues e dona Geni Vilma, são um dos admiradores da árvore. "Ela uma celebridade na rua". (Foto:Fernando Antunes)

Celebridade - Os vizinhos também têm na memória o cuidado de dona Jerônima com a árvore, um tempo de poucas casas e muitos terrenos baldios na região. Nas últimas décadas, acompanham a guardiã da árvore em serviço.

“No início do ano, os bombeiros vieram podar os galhos, pois havia o risco de cair, pegar nos carros. Dona Irene ficou em volta, cuidando pra garantir que eles não podassem mais do que o necessário”, conta a professora Geni Vilma, de 57 anos.

O marido dela, Dinarte Rodrigues, de 61 anos, explica que a árvore floresce agora e fica colorida até, no máximo o janeiro. “Durante o ano ela fica seca. As folhas caem, perdem a cor, mas mesmo assim ela resiste”. Há cerca de 15 anos, os cupins resolveram atacar, mas o cuidado imediato controlou a praga.

Para o casal, não há nada mais importante na Rua do Rosário. “A celebridade aqui é o flamboyant. A gente fica esperando todo o ano esta época, em que ela fica assim. Essa beleza”, comemora Geni.

Além de muita gente que para, em motos, carros e a pé para tirar fotos, ela também faz o registro anual e manda para filha casada, que hoje mora em Corumbá

Para Leonir Duarte, dona de casa de 64 anos, o único problema é quando aos caminhões esbarram em algum galho e colocam em risco o trânsito. "Mas os motoristas sempre tomam cuidado. Oferece certo risco, mas é bonitoSe tirar o galho que cobre a rua, tira a beleza da árvore”, avalia.

Parece que a torcida pelo flamboyant vai garantir vida longa ao patrimônio da rua. "Em Campo Grande, as pessoas só pensam em construir, não em preservar, não pensam na natureza. Já fizeram fila aqui em frente da loja só pra tirar foto ou pegar alguma semente da árvore ”, diz a comerciante Ana Paula Alvez, de 30 anos. 

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