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Para criança entender tratamento, instituição não aceita mais doação de cabelo

A psicóloga Nara Gianotto conta que trabalha diariamente com as crianças e adolescentes para que entendam a queda dos fios

Alana Portela | 11/09/2019 07:55
Três exemplos, a criança à esquerda na fase da perda de cabelos, a do meio que está com o cabelo mais curto e outra com o lenço na cabeça (Foto: Paula Buch)
Três exemplos, a criança à esquerda na fase da perda de cabelos, a do meio que está com o cabelo mais curto e outra com o lenço na cabeça (Foto: Paula Buch)

Pela aceitação do câncer, a AACC/MS (Associação dos Amigos das Crianças com Câncer) trocou perucas por lenços, laços e turbantes. “A gente não recebe doações. Procuramos trabalhar com as crianças e adolescentes de forma diferente. O foco não é esconder essa parte do tratamento”, afirma Nara Gianotto, 35 anos. “A peruca é algo incômodo”, completa.

Ela é psicóloga e cuida do setor de psico-oncologia da instituição. É uma das responsáveis por acompanhar o paciente, desde a suspeita até o diagnóstico e cuidados. “Estamos inseridas desde a parte de investigação até a estratégia de enfrentamento. Explicamos como é, falamos sobre a visita dos familiares durante a internação, o tratamento invasivo e a alopecia”.

Após os exames, é o médico quem confirma se a suspeita é ou não câncer. É um momento delicado e necessita de cuidado, pois é a partir daí que a vida dessa criança ou adolescente começa a mudar. “Acolhemos e explicamos como a doença atua no corpo. Se for preciso, usamos o meio lúdico para que entendam. Contamos que a alopecia acontece durante a quimioterapia e pode ocorrer na primeira sessão, meio ou no final”.

Conforme Nara, o trabalho com os pacientes é diário. “Conversamos com eles, após a aceitação, percebem que o cabelo cai. Tem aqueles que não aceitam no começo. A gente respeita, mas explica que ficar sem os fios não é vergonha, isso significa que ela possui uma força maior que muitas pessoas, pois aceita o tratamento pela vida”, afirma. “O processo fica tão natural que as crianças assumem a careca”.

Depois da aceitação, as crianças brincam naturalmente (Foto: Gustavo Moisés)
Depois da aceitação, as crianças brincam naturalmente (Foto: Gustavo Moisés)
Com sorriso, a criança assumiu a careca  (Foto: Gustavo Moisés)
Com sorriso, a criança assumiu a careca (Foto: Gustavo Moisés)

Os pacientes que optam por rasparem a cabeça avisam, e Nara também faz o corte. A ação acontece no CETOHI (Centro de Tratamento Onco-Hematológico Infantil), no Hospital Regional. “Tem crianças que preferem raspar antes mesmo de cair. Um paciente que iniciou há duas semanas, está com leucemia e quer raspar o cabelo para ficar igual aos colegas”, conta.

Além do corte, a psicóloga ainda conversa com os alunos sobre a possibilidade dos fios crescerem novamente após o tratamento. “Cresce de novo num tempo determinado. É algo recorrente, mas não sabemos o momento que isso vai acontecer”.

A instituição atende pessoas de 0 a 19 anos. Nara relata que, às vezes, acontece do adolescente não ter uma boa aceitação da mudança. “Isso ocorre durante as minhas solicitações, normalmente em pessoas de 12 a 15 anos. São poucas os que optam por perucas”.

Contudo, caso um paciente insista pela peruca, um parente pode fazer a doação “A gente não nega. Se sente a necessidade da peruca para andar na rua, buscamos uma parceira para conseguir isso. Entretanto, temos vários projetos que trouxemos bonés, lenços, tiaras, etc”.

“Hoje as crianças não querem receber as perucas”, afirma à assistente social da AACC/MS, Rosângela Barros. Segundo ela, a instituição atende cerca de 80 pacientes por mês. “Antes a gente até recebia, e nos mobilizamos por conta de uma adolescente que precisava da peruca. Tem criança que não aceita e, as vezes, deixa cair fio por fio. Usa bandana, turbante, lacinhos. Os meninos usam bonés”, conclui.

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O turbante também é usado pela criança (Foto: Gustavo Moisés)
O turbante também é usado pela criança (Foto: Gustavo Moisés)
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