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"Assassin’s Creed: Valhalla" é digno de Odin ou merecedor de Helheim?

Mozart Geraldo | 03/12/2020 06:58
Montanhas da Noruega. 
Montanhas da Noruega.

O mais novo capítulo de uma das maiores franquias do mundo dos games acaba de chegar, e para fazer jus ao seu legado, a Ubisoft não poupou esforços para que este fosse o maior e melhor jogo da série até então. Será que o objetivo foi alcançado? Descubra em nossa análise.

A Saga Viking - Assassin’s Creed: Valhalla se passa principalmente na Inglaterra do século IX, período marcado pelas grandes incursões vikings. Eu digo principalmente porque antes de pisar em terras saxãs, o jogador primeiro explora uma parte da Noruega. A região nevada e montanhosa serve de ponto de partida para a jornada, bem como dá o tom da aventura ao apresentar alguns dos personagens principais da história, elementos base do gameplay, e é claro, também apresenta Eivor, personagem que será controlado pelo jogador, e aí já temos a primeira grande novidade: pela primeira vez na série podemos escolher o gênero do protagonista, e a aventura irá se moldar conforme essa escolha, e se você estiver em dúvida se prefere jogar com Eivor homem ou mulher, o jogo oferece uma terceira opção onde a decisão fica por conta do Animus (o computador do jogo), e altera o gênero do personagem conforme seu progresso na jornada. Não existe certo ou errado, e o gênero de Eivor não altera os rumos da história de maneira alguma. Eu, por exemplo, optei por jogar com a Eivor feminina, que ao meu ver pareceu mais interessante que sua contraparte masculina.

Este capítulo introdutório na Noruega faz um excelente trabalho ao apresentar as mecânicas principais do jogo, mas não demora muito e logo podemos partir para a Inglaterra, o coração da jornada de Eivor.

Porto Norueguês. 
Porto Norueguês.

O Novo Mundo - Eivor se junta ao seu irmão de criação e líder do Clã do Corvo, Sigurd, em uma incursão viking até a Inglaterra, onde juntos de uma pequena tripulação buscam fama e glória, mas não será uma jornada tranquila e muitos inimigos poderosos estarão no caminho. E é aí que Assassin's Creed: Valhalla apresenta outra grande novidade, na forma do assentamento de Ravensthorpe: local onde a protagonista e companhia se estabelecem, que serve de lar e também como uma base de operações para a expansão do clã.

De certa forma o assentamento lembra a Villa Auditore de Assassin’s Creed II, pois ao longo jogo jogo é possível fazer melhorias no local, adicionando novas construções, cada uma com uma finalidade, como o estábulo por exemplo, que possibilita treinar sua montaria e ensinar seu cavalo a nadar, algo muito útil visto que a inglaterra é cortada por dezenas de rios. Outras construções abrem missões adicionais, como a cabana de caça que permite ao jogador partir no encalço de feras lendárias em troca de valiosas recompensas.

Entretanto, para que Ravensthorpe cresça e prospere são necessários recursos, e tais recursos são obtidos nas incursões Inglaterra adentro, em sua maioria contra alvos como igrejas e monastérios, pois concentram muitas riquezas e não oferecem muita resistência. Além de buscar recursos, também é preciso garantir a segurança do seu clã, e para isso Eivor é incumbida de partir para os quatro cantos da Inglaterra em busca de alianças com os muitos reinos que povoam a região. Essa missão funciona como a espinha dorsal de Valhalla, pois é a principal motivação para explorar o vasto, muito vasto, mundo do jogo.

Cruzando os mares.
Cruzando os mares.

Terra de Campos e Castelos -  Na exploração, o título se mantém bem parecido aos jogos anteriores, mas é possível notar algumas sensíveis mudanças na apresentação. Por exemplo, numa tentativa de diminuir o excesso de informação no mapa e eventualmente confundir o jogador, as atividades que surgem são marcadas por pontos brilhantes de três tipos: amarelos, azuis e brancos, que correspondem respectivamente a riquezas, mistérios e artefatos. Cada um desses itens abrange uma série de atividades, mas a identificação por cor facilita muito para que o jogador tenha uma ideia do que esperar e/ou qual recompensa o aguarda naquele ponto do mapa. Um ponto amarelo pode ser um tesouro escondido, metais raros ou uma peça de armadura, já o ponto azul pode ser uma missão secundária, uma fera lendária ou até mesmo a localização de um altar para realizar uma oferenda aos deuses, enquanto que o ponto branco pode ser o local de um mapa do tesouro, um desenho de tatuagem ou um artefato romano. Essa “afunilada” é muito bem vinda, pois além de evitar uma enorme poluição visual no mapa, também incentiva o jogador a explorar cada cantinho, já que a natureza do objetivo só é revelada a poucos metros do jogador, portanto é preciso ir até o local para saber do que se trata.

As missões principais possuem um ícone bem distinto e fácil de identificar, e a missão ativa é sempre marcada na cor azul. É possível também contar com a ajuda de Synin (pronuncia-se “Sunin”) o corvo de Eivor, para sobrevoar o mundo do jogo e auxiliar na exploração, marcando do alto pontos de interesse com o apertar de um botão, que passam a surgir na tela como um feixe de luz indicando sua posição ao jogador.

Todas essas mudanças citadas, embora sutis, demonstram a preocupação da Ubisoft e tornar mais agradável a experiência de navegação, e essa mesma atenção se aplica a todos os menus do jogo, desde a tela de opções, até a de gerenciamento de inventário.

A Inglaterra.
A Inglaterra.

Falando em exploração e mapa, não posso deixar de mencionar o quão vasto e belo o mundo de AC Valhalla é: desde as montanhas cobertas de neve na Noruega, até os campos e bosques verdejantes, bem como as cidades, fortalezas, ruínas e castelos, tudo é riquíssimo em detalhes e cheio de vida. O simples ato de cavalgar pelo mundo chega a ser prazeroso, e cada paisagem é mais bela que a outra, tanto que a Ubisoft incluiu um robusto modo de fotografia, do qual eu fiz bom uso inclusive!

Brutalidade Viking! -  Os vikings não ficaram conhecidos por sua sutileza e poesia, muito pelo contrário! São lembrados na história como formidáveis e temíveis guerreiros, e em Valhalla não seria diferente, pois o combate talvez seja onde a série passou por mais e maiores mudanças. O grande destaque se encontra na possibilidade de utilizar qualquer combinação de armas nas mãos de Eivor, e quando digo qualquer, é qualquer mesmo: desde o tradicional escudo e machado, até um par de machados, um machado e um martelo, ou até mesmo dois escudos! Nem todas as combinações são eficientes em combate, mas é muito divertido ter essa liberdade para experimentar as mais diversas e inusitadas combinações. Cada arma possui características bem distintas e as animações de combate são muito bem feitas e bastante convincentes ao demonstrar o peso e impacto de cada uma.

É impossível falar do combate sem mencionar o retorno triunfal da “hidden blade”, a lâmina oculta que foi a marca registrada da série por tantos anos. Como desde AC Origins a franquia partiu para um rumo mais voltado para o RPG, onde o nível do jogador determina a chance de sucesso em combate, a lâmina oculta acabou por se tornar irrelevante, mas em Valhalla a Ubisoft conseguiu encontrar uma maneira de trazê-la de volta, bem como os elementos furtivos, e o resultado foi excelente, pois permite que escolhamos a abordagem mais apropriada ao nosso estilo de jogo, sem comprometer o gameplay. Tal façanha foi atingida graças à nova árvore de habilidades.

Os rios que cortam os 7 reinos.
Os rios que cortam os 7 reinos.

Yggdrasil - O game segue os passos de seu antecessor, com grande foco nos elementos de RPG, mas também adota sua filosofia de “afunilar” as coisas por aqui, simplificando ao máximo o sistema de progressão, mas sem perder a profundidade que se espera de um game desse tipo. Eivor tem acesso a uma árvore de habilidades que permite seguir em três caminhos: o do corvo, voltado para a furtividade; o do lobo, focado em combate a longa distância; e o do urso, que enfatiza o combate corpo a corpo. Aqui, mais uma vez o jogador tem a liberdade de distribuir os pontos de experiência da maneira que achar melhor, e até mesmo de desfazer as escolhas completamente, mudando a distribuição dos pontos a qualquer momento e sem custo algum.

Assim como no mapa, aqui também é encorajada a exploração, pois não é possível ver todas as habilidades logo de cara, elas vão surgindo aos poucos, conforme você distribui seus pontos, isso instiga a curiosidade do jogador e o mantém interessado na árvore mesmo após dezenas de horas de jogo.

Bosques ingleses.
Bosques ingleses.

Os Vikings também se divertem! - Toda essa exploração e combate seria muito mais cansativa caso não houvesse tanto o que se fazer entre uma incursão e outra, e aqui deixo os meus parabéns ao trabalho que a Ubisoft teve não só em buscar trazer atividades variadas, mas sim de oferecer elementos da cultura nórdica e incorporá-los de maneiras divertidas ao game. Como os invernos na Noruega são muito extensos, era comum que os nórdicos passassem o tempo com jogos de tabuleiro, já que o frio desencorajava a sair de casa. Pensando nisso a empresa criou um tipo de jogo com dados chamado de Orlog, que talvez não seja um novo “Gwent”, mas está anos-luz à frente de outros mini-jogos que já pintaram em Assassin’s Creed (estou olhando pra você, Assassin’s Creed III !). Há também as competições de bebedeira, onde vence quem entornar o chifre de hidromel primeiro, sem cair e nem derramar, é claro! E a minha atividade extra favorita: Disputas de Repentes! Esses duelos funcionam como uma “batalha de rap medieval” onde os adversários devem trocar provocações e até insultos, buscando rimar e acertar o ritmo. Aqui vale um elogio especial para a equipe de localização que conseguiu transpor muito bem todas as nuances e humores de cada duelo, mantendo a essência das versões originais. As vitórias nos repentes também garantem o aumento no carisma de Eivor, que por sua vez abre novas opções de diálogo no jogo: em dado momento, fui capaz de evitar um confronto sangrento apenas com palavras, graças ao meu nível de carisma.

Legado da Irmandade - Você deve ter notado que até agora eu só falei de como a experiência de jogo é uma excelente forma de viver uma aventura viking, mas o jogo se chama Assassin’s Creed né, então onde estão os Assassinos?

Sem dúvida alguma, a temática viking tem um peso muito maior do que o conflito entre Assassinos e Templários, assim como o tema da vida de pirata se sobrepunha em AC IV: Black Flag, mas isso não significa que Valhalla não mereça o Assassin’s Creed em seu título. Bem cedo no game, somos apresentados aos membros da “Irmandade dos Ocultos”, que era como se identificavam antes de usarem o nome de “Irmandade dos Assassinos”, mas leva um certo tempo até que a trama envolvendo a “Ordem dos Antigos” (Os Templários) comece a se desenrolar, e durante boa parte da aventura, Eivor se junta aos Ocultos somente pelos interesses ou inimigos em comum que possuem. O resultado disso é que dessa forma o conflito da Irmandade é apresentado de forma mais orgânica e natural, e quando nos damos conta já estamos envolvidos até o pescoço na guerra contra os Templários e passamos a entender que, no mundo de Assassin’s Creed tudo e todos estão envolvidos nesse conflito, mesmo que ainda não saibam.

Não podemos esquecer da protagonista dos tempos atuais, Layla, que aqui se junta aos velhos conhecidos Shaun e Rebecca, para mais uma vez desvendar os mistérios dos artefatos do Éden e evitar o fim do mundo, ou seja, um dia normal de trabalho. Apesar do senso de urgência dos dias atuais, são poucos os momentos em que assumimos o controle de Layla, e no geral, não são muito memoráveis.

Velha cidade.
Velha cidade.

Glitch no Animus - Da mesma forma que não existe um Assassin’s Creed que não tenha uma carroça de feno, também (infelizmente) não há um Assassin’s Creed livre de bugs…

Em um jogo da magnitude de AC Valhalla, é praticamente impossível não haver alguns problemas de desempenho, a boa notícia é que não é nada perto do desastre que foi AC Unity, por outro lado alguns bugs podem ser um pouco incômodo às vezes.

Para efeitos de esclarecimento, eu joguei este game em um Xbox One fat, e no geral a Ubisoft entregou uma experiência bastante sólida para um console com mais de 7 anos de existência, dito isto, em alguns momentos o jogo fechou sozinho, em duas missões de história fiquei impossibilitado de prosseguir pois os personagens com os quais eu devia interagir “congelaram”, me forçando voltar ao checkpoint anterior, e talvez o problema mais irritante de todos: screen tearing, que é mais ou menos como se a imagem se “rasgasse” em vários pontos quando em movimento. Esse problema em particular acaba por quebrar a imersão com o jogo, pois chega ao ponto de desviar o foco do jogador. A última atualização disponibilizada prometia uma correção para o screen tearing, mas somente para os consoles da nova geração, excluindo o Xbox One Fat/S/X, bem como PS4/PS4 Pro.

Acredito que uma enorme fatia de jogadores de AC Valhalla ainda não tenha migrado para nova geração, em especial aqui no Brasil, mas por ora só nos resta esperar que em alguma atualização futura a Ubisoft se lembre da geração passada.

O Brandir de Armas.
O Brandir de Armas.

Batendo o Martelo (de Thor) - Apesar dos bugs e problemas de desempenho, as qualidades de Assassin’s Creed: Valhalla são muito maiores que seus defeitos. Estou com mais de 70 horas de jogo e mesmo assim ainda sinto que tenho muito o que ver e explorar! Ainda não me cansei do game, e sem dúvida foi o melhor e mais completo jogo da Ubisoft que joguei nos últimos anos. É um game tão rico e vasto que por mais que eu tente descrever em palavras, não será o suficiente e deve ser jogado para que seja inteiramente compreendido.

Se você curte a mitologia e cultura nórdica, ou se procura uma aventura de proporções épicas, esse jogo é para você.

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Valhalla.
Valhalla.


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